A empresa terceirizada investigada por desviar doações feitas na fatura da Celesc era contratada por pelo menos 15 entidades, vítimas do esquema. Segundo a Polícia Civil, a atividade criminosa ocorria dentro e fora de Santa Catarina. Inclusive, pelo menos três hospitais de Joinville, Blumenau e Brusque foram vítimas do grupo. Três pessoas foram presas na última semana.
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— Nós temos a informação inicial de que essas empresas atendiam até 15 entidades filantrópicas, hospitais com esse modelo de call center captando recursos, direcionados a doações. Agora, na segunda fase da operação, nós vamos caminhar para a análise do fluxo financeiro e entender se também outras entidades foram alvo de desvios empregados por esses criminosos — afirma o delegado regional de Polícia Civil, Rafaello Ross.
Veja imagens da Operação Falso Samaritano
Ainda conforme o investigador, pelo menos sete CNPJs foram identificados como recebedores do dinheiro desviado. Um deles seria um grupo de escoteiros.
— A princípio foi criado um grupo de escoteiros. Nós verificamos que ele não é filiado à União de Escoteiros do Brasil, não é devidamente regulamentado. O contrato com a empresa intermediária para captar doações previa que 94% dos valores dados ficaria com a empresa, o que já causa uma estranheza. Fizemos atividade de campo e percebemos que esses escoteiros tem uma estrutura muito precária, ou seja, tudo indica que essa esse grupo foi constituído apenas para arrecadar doações e no segundo momento promoveu o desvio desses valores. Tanto, que o responsável também foi preso na Operação Falso Samaritano — cita o delegado.
Três homens foram presos temporariamente, inclusive o Slaviero Mario Bunn, responsável pela Slaviero Benefits. No momento, eles devem permanecer reclusos por cinco dias. A Polícia Civil pode pedir novo mandado temporário ou, ainda, de prisão preventiva, o que será definido de acordo com o caminhar da investigação.
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Segundo a Polícia Civil, em dois anos e meio, apenas R$ 800 mil foram doados, enquanto R$ 4 milhões foram desviados.
Como funcionava esquema criminoso que usava fatura da Celesc
A operação Falso Samaritano prendeu o empresário Slaviero Mario Bunn, responsável pela Slaviero Benefits, empresa contratada pelas instituições. A empresa joinvilense, alvo da operação, se define como especialista em captação de recursos para Instituições Filantrópicas e contratou o serviço oferecido pela Celesc para receber as doações por meio das faturas de energia elétrica.
Em 2016, a Slaviero estabeleceu o primeiro contrato com Hospital Bethesda de Joinville, prejudicado pelo esquema de estelionato. Segundo a Polícia Civil, a empresa funcionava como uma terceirizada, que ligava para potenciais doadores que aceitam fazer doações à instituições por meio de cobranças em fatura.
O mesmo modelo de convênio é adotado com diversas entidades, como o Corpo de Bombeiros Voluntários, APAEs, Rede Feminina de Combate ao Câncer, hospitais filantrópicos, Fundação Pró-Rim, Legião da Boa Vontade, entre outras.
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Segundo o Hospital Bethesda, uma das vítimas do esquema, o fluxo do repasse dos recursos acontece diretamente da Celesc para a instituição a receber o pagamento das doações arrecadadas. Para que aconteça esse repasse, cada empresa é identificada por códigos, para organização interna pela companhia de energia.
No entanto, a terceirizada contratada pelo Bethesda repassava códigos diferentes daqueles correspondentes às instituições que deveriam receber as doações. Ou seja, a empresa intermediadora fazia o contato com os doadores, recebia os dados em nome do Bethesda, mas ao enviar a lista para a arrecadação na fatura da energia elétrica, o código correspondia a outra instituição, que recebia valores de maneira indevida.
Assim, uma outra instituição de Joinville, recebia de forma fraudulenta as doações que deveriam ser destinadas às instituições filantrópicas. Além disso, a empresa também burlou o sistema da Celesc para inserir cobranças não autorizadas pelos consumidores.
Por meio de nota, a Celesc afirmou que não participa da gestão nem da destinação dos recursos arrecadados. Além disso, destacou que atua apenas como meio de arrecadação em doações via fatura de energia, repassando integralmente os valores autorizados pelos consumidores às entidades conveniadas, como bombeiros voluntários, APAEs e outras instituições que prestam serviços essenciais à sociedade.
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“No caso investigado pela Polícia Civil, foram identificadas empresas que, de má-fé, ligavam para consumidores solicitando doações, mas não repassavam integralmente os valores às instituições. Importante ressaltar que, antes mesmo da operação policial, a companhia já havia adotado medidas preventivas, como reforço na fiscalização dos convênios, implementação de novos controles e envio de aviso ao consumidor sempre que há inclusão de débitos de doação nas faturas”, informou a companhia.
A reportagem do NSC Total busca contato com a defesa dos presos pela operação, mas até o momento não obteve retorno. O espaço permanece aberto.
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