Quando o Talibã governou o Afeganistão pela primeira vez, entre 1996 a 2001, as meninas não podiam ir à escola, mulheres estavam proibidas de trabalhar e só podiam sair de casa com o rosto completamente coberto e acompanhadas por um parente do sexo masculino. Com a retomada do poder, é quase inevitável que o grupo reverta a liberdade conquistada pelas mulheres nos últimos 20 anos.
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Militantes do Talibã afirmaram à BBC que pretendem reimpor sua versão da sharia, a lei islâmica, que inclui apedrejamento por adultério, amputação de membros por roubo e proibição de meninas com mais de 12 anos de ir à escola. Assim como ocorria há 20 anos.
Um porta-voz do grupo prometeu que os militantes respeitarão os direitos das mulheres e da imprensa, no entanto, as mudanças já começaram a aparecer.
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Algumas horas após o Talibã tomar o palácio presidencial, em Cabul, no domingo (15), um jornalista do serviço de notícias afegão Tolo News publicou uma foto na qual um homem cobre de tinta imagens de mulheres pintadas em um muro da capital do Afeganistão.
Kabul. pic.twitter.com/RyZcA7pktj
— Lotfullah Najafizada (@LNajafizada) August 15, 2021
Aisha Khurram, ativista afegã e ex-embaixadora da juventude da Organização das Nações Unidos (ONU), compartilhou um tuíte demonstrando preocupação pela educação das mulheres, enquanto o grupo extremista se espalhava por Cabul.
— Alguns professores disseram adeus às mulheres estudantes quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul nesta manhã. E nós podemos não ter nossa formatura, assim como milhares de estudantes pelo país — escreveu.
Some teachers said goodbyes to their female students as everyone was evacuated from Kabul University this morning… and we might not see our graduation like thousands of students around the country.
Taliban are placed all over the city, just waiting for the right time…— Aisha Khurram (@AishaKHM) August 15, 2021Continua depois da publicidade
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Antes e depois do Talibã
Outra imagem que viralizou nas redes sociais foi a da jornalista americana Clarissa Ward que aparece sem burca em uma entrada ao vivo antes do grupo tomar o controle de Cabul. Na imagem seguinte, quando a cidade já está invadida, ela aparece com o corpo coberto.
Em uma publicação no twitter, ela afirma que menos mulheres são vistas nas ruas de Cabul e as poucas que saem já mudaram a forma de se vestir.
Pessoas que chegaram a Cabul antes do grupo assumir o controle da cidade, confirmam que, nas cidades tomadas, o Talibã já começou a aterrorizar mulheres e meninas com ameaças de casamentos forçados, sequestro de mulheres e violência física.
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Embora o futuro das mulheres no Afeganistão ainda seja incerto, especialistas dizem que é quase inevitável que as liberdades conquistadas por elas nos últimos 20 anos — meninas nas escolas, mulheres no Parlamento, no governo e em empresas — estejam com os dias contados.
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Conforme Itamar Sieber, professor de História e Relações Internacionais da Univali, quando os Estados Unidos estabeleceram um diálogo com o Talibã, o grupo prometeu que iria moderar suas atividades de aliança com o terrorismo internacional — Estado Islâmico e Al-Qaeda. No entanto, ele acredita que a política interna do país será novamente regida pela sharia.
— Evidentemente que compromissos assinados pela Talibã são duvidáveis. Pode ser que a nível internacional o Talibã não execute mais ações terroristas, mas a condição de estrutura da política afegã, com a chegada do Talibã, eu acredito que vai se retomar as leis da sharia, que considera a mulher um apêndice da preponderância masculina — diz Sieber.
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