Blumenau é forte, resiliente, já enfrentou dezenas de tragédias climáticas, mas chega aos 170 anos com um “parabéns para você” diferente — e, como todas as outras cidades do país, com um pós-pandemia do coronavírus difícil de prever.
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Uma das poucas certezas é de que nesta quarta-feira, dia 2, a cuca de 170 metros não será servida na Vila Itoupava e o recorde continuará sendo o bolo do ano passado. Se o tempo fechar, não haverá a dúvida que atinge centenas de famílias nesta ocasião: “será que a chuva impedirá o tradicional desfile?”. Fato: ele não vai ocorrer.
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A pandemia trouxe um ar diferente — e mais triste, já que ao menos 130 moradores perderam a vida por conta da doença — para o aniversário do município. Blumenau completa 170 anos enfrentando a maior crise sanitária da história da mesma forma que encarou enchentes num passado nem tão distante.
Diferente das cheias superadas, porém, o inimigo não pode ser visto.
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A Covid-19 atrasou melhorias e discussões na cidade, mas não eliminou as cobranças para o amanhã. Em ano de eleições municipais, os parabéns de representantes da sociedade vêm em forma de cobrança: é preciso se preparar para o futuro.
Mobilidade Urbana em xeque
Em uma roda de conversa com o Santa, as principais autoridades empresariais e pesquisadores de Blumenau disseram que a integração da mobilidade urbana entre as cidades da Região Metropolitana do Vale do Itajaí tem de ser prioridade para a próxima gestão municipal. De novo.
Há quatro anos a questão já era apontada como essencial para os debates, mas os avanços foram tímidos. Nesse aniversário de 170 anos, em respeito a quem fica parado no trânsito ou espera horas pelo ônibus, o assunto não podia ficar à mercê.
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De 2016 até agora houve a apresentação do Plano de Mobilidade Urbana, que norteia as ações e estabelece metas de curto, médio e longo prazo ao município. Para o arquiteto, urbanista e professor universitário Christian Krambeck, o documento é uma boa forma de embasar o planejamento da gestão pública e por isso não pode ser esquecido pelo vencedor da eleição de 2020:
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“O modelo de transporte coletivo está falido”
— Mobilidade tem a ver com a concepção de cidade. Minha expectativa para o futuro é a mais realista possível. O modelo de transporte coletivo está falido, não só aqui, como em várias cidades que usam o mesmo sistema. A tarifa não custeia o serviço.
O professor cita o transporte coletivo porque ele é tema central quando se fala em mobilidade e integração regional.
O diretor de Mobilidade Urbana da prefeitura, Julian Plautz, explica que há interesse em tornar o serviço mais atrativo para que os motoristas deixem os carros na garagem e passem, cada vez mais, a se deslocar de ônibus.
Para isso, novos projetos de corredores exclusivos têm saído da gaveta aos poucos, mas não na mesma velocidade em que aumenta a quantidade de veículos nas ruas.
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São mais de 270 mil veículos, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), 2% a mais em relação aos primeiros sete meses de 2019. A equação é simples: mais carros nas vias, menos passageiros no transporte coletivo. Antes da pandemia o número de usuários estava abaixo do esperado pelo edital que regula o serviço, mas era estável. Com a paralisação dos ônibus, o desequilíbrio foi inevitável.
— Antes estávamos tentando manter o funcionamento sem subsídio público acompanhando diariamente as atividades, ajustando horários e linhas. Depois da pandemia não será fácil. O que vai acontecer é uma pergunta difícil de responder — aponta Lairto Leito, secretário da Seterb.
Integração entre as cidades da região
Outra pergunta sem respostas é sobre a integração com linhas intermunicipais. Apesar do item “promover integração regional do transporte público” ser um dos objetivos do plano de mobilidade, não há nenhum estudo em andamento sobre o assunto na Seterb. Em 2012 houve uma tentativa — tida como pioneira no Estado —, que durou pouco mais de um ano.
À época, a precariedade do sistema (com bilhetes de papel nos intermunicipais) e o modelo de funcionamento não agradou os donos de empresas de transporte e os próprios usuários, que precisavam descer no Terminal da Fortaleza para embarcar em um ônibus municipal e continuar a viagem.
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— Tem que ser discutido melhor, ouvir os usuários. Teria que dar liberdade para o passageiro escolher qual modal usar: o de seguir até os pontos por onde passamos ou desembarcar no terminal e pegar outro ônibus — analisa Peter Volkmann, gerente da Volkmann, que opera o transporte de Pomerode a Blumenau.
Conforme o empresário, o sistema adotado prejudicava a arrecadação dos intermunicipais, que precisavam compensar financeiramente o então Consórcio Siga para poder haver a integração. Sem avanço nas conversas e com o impasse na criação da Região Metropolitana de Blumenau (incluindo Gaspar, Indaial, Pomerode e Timbó), a cidade optou por focar nos problemas internos de mobilidade.
“Corredores de ônibus são como respiradores”
Neste ano, dois terminais estão sendo construídos nos bairros Água Verde e Itoupava Central. A pandemia atrasou a entrega de ambos e a Seterb trabalha na criação das novas linhas que passarão pelo terminal, mas promete novidades em breve.
Para facilitar a circulação dos veículos e tornar o transporte coletivo mais atrativo, há o planejamento de novos corredores exclusivos. Estão em fase licitatória os projetos de faixas entre as ruas Amazonas e 7 de Setembro e em um trecho entre a
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Alameda Rio Branco e Hermann Huscher, na região central. Entre o Terminal Proeb e Rua Paraíba, a Seterb tornará uma das pistas exclusiva para os ônibus, mas ainda não há previsão de implantação.
— Corredores exclusivos são como os respiradores, eles prolongam a vida do transporte coletivo, mas não adianta, em até 10 anos ele vai morrer — destaca Krambeck.
Para o professor, as soluções vão muito além da integração intermunicipal e criação de corredores. É preciso haver o que ele chama de adensamento em torno dos terminais para se tornarem centros dos bairros. Ou seja, levar parques, escolas, moradias e serviços públicos e privados importantes para perto desses espaços, como forma de incentivo ao uso do transporte coletivo e outros meios, como a bicicleta.
Isso sem esquecer as criações tecnológicas pensadas para otimizar as experiências dos usuários, e ensino que qualifique profissionais para planejar a cidade e oriente, desde cedo, sobre novas maneiras de vivenciá-la. Ciclovias, bicicletários e estacionamentos junto aos terminais também estão na lista, complementa Plautz.
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— Não adianta incentivar empresas, comércio e não ter mobilidade. Os transportes ativo (a pé ou bicicleta) e público têm de ser prioridade. O Brasil de modo geral sempre colocou o carro no topo, temos que mudar também essa cultura — defende o diretor.
Para ele, os avanços, apesar de tímidos, estão acontecendo e dentro do que os recursos públicos permitem. Quando Blumenau completar 180 anos, Plautz espera que a cidade esteja mais voltada às pessoas, e não aos carros.