A disputa presidencial de 2026 também começa antes do tempo, assim como em 2022. O julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) pela tentativa de golpe, marcado para começar nesta terça-feira (2), deve marcar uma espécie de “primeiro turno” da corrida eleitoral do próximo ano.
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Lula e Bolsonaro nunca deixaram de polarizar a política nacional nos últimos três anos. Mesmo inelegível por decisão da Justiça, Bolsonaro ainda dita o ritmo das decisões no campo da direita e reúne em torno dele nomes de pelo menos cinco pré-candidatos a presidente no ano que vem, incluindo os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União) e Ratinho Júnior (PSD). Nos últimos meses, no entanto, a antecipação do cenário eleitoral de 2026 ganhou força.
Quem são os réus do núcleo de Bolsonaro
Os anúncios do tarifaço e de sanções dos Estados Unidos contra autoridades como ministros do STF reforçaram a discussão sobre soberania nacional e o papel da família Bolsonaro nas decisões de Trump. Pesquisa da Quaest em agosto mostrou que Lula tem o melhor índice de aprovação desde janeiro. A percepção de queda nos preços e a postura na relação com o presidente dos Estados Unidos após o anúncio do tarifaço teriam sido determinantes para isso, segundo o instituto.
Enquanto isso, na direita, o governador Tarcísio de Freitas se movimenta como possível candidato. Na semana que antecedeu o julgamento, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que Tarcísio prometeu se filiar ao PL caso decida concorrer à Presidência da República. A promessa gerou reações como a de Eduardo Bolsonaro, que prometeu deixar a legenda para concorrer a presidente por outra legenda caso o governador paulista confirme o movimento.
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O cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba, afirma que embora haja expectativa de condenação, as consequências políticas do futuro de Bolsonaro dependem do resultado do julgamento. Segundo ele, o principal desdobramento do caso é a definição sobre quem será o sucessor no campo da direita para 2026.
Para o professor, uma possibilidade é de que o espaço seja ocupado por um nome mais umbilicalmente ligado a Bolsonaro, como a esposa Michelle ou um dos filhos. O outro cenário é de um herdeiro mais ligado à centro-direita, sem se colocar tão ligado ao ex-presidente, campo em que Tarcísio de Freitas é apontado como um dos favoritos. Nesse cenário, até mesmo um racha entre grupos que defendam os dois caminhos diferentes para o bolsonarismo na eleição de 2026 seria um cenário possível, segundo o cientista político.
— É possível, até pelas manifestações das últimas semanas, nas discussões familiares reveladas nas mensagens, em que já há um certo desconforto da família com a ocupação de espaços de nomes não tão ligados ao chamado “bolsonarismo raiz”. Diante de uma eventual condenação, essa disputa vai se tornar cada vez mais forte — avalia.
A reação de grupos bolsonaristas mais radicais a uma eventual condenação do ex-presidente, com possíveis repetições de protestos como o motim feito no Congresso após a prisão domiciliar de Bolsonaro no início de agosto, e os reflexos do resultado do julgamento na opinião pública, são outras consequências do julgamento destacadas pelo professor e que podem impactar no jogo político para 2026. Pesquisa Quaest divulgada nesta semana mostrou que 55% das pessoas consideram a prisão domiciliar atual do ex-presidente justa, enquanto 39% avaliam-na como injusta.
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As definições no campo bolsonarista têm impacto inclusive no cenário local para 2026. Filho do ex-presidente, o atual vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL-RJ) já manifestou que deseja concorrer ao Senado por Santa Catarina. Ele já participou de atos políticos em Criciúma e em Florianópolis e planeja novas agendas ao Estado. O movimento pode reduzir o espaço para candidaturas ao PL de SC ao Senado, como a deputada Caroline de Toni (PL), que deve disputar a segunda vaga na chapa de Jorginho Mello com o atual senador Esperidião Amin (PP).
Como será o julgamento de Bolsonaro
O julgamento de Bolsonaro e outros sete réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista começa na próxima terça-feira (2) e deve se estender por outras cinco data já reservadas pelo STF: 3, 9, 10 e 12 de setembro.
Os primeiros dias devem ser dedicados à leitura do relatório do ministro Alexandre de Moraes, à sustentação oral do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que terá até duas horas para falar, e dos advogados dos oito réus, incluindo a defesa de Bolsonaro, cada um com até uma hora para manifestação.
Depois disso, o ministro Alexandre de Moraes deve apresentar a proposta de voto, em que irá pedir a condenação ou absolvição dos réus. Os demais ministros da Primeira Turma votam na sequência, em ordem de antiguidade no tribunal: Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que fecha o julgamento por ser presidente da Turma.
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Quem são os outros réus
O núcleo que será julgado a partir da próxima semana reúne Bolsonaro e outros sete investigados, todos ex-ministros ou cargos de primeiro escalão do governo do ex-presidente ou das Forças Armadas. Além deste grupo, chamado de “núcleo crucial do golpe”, há ainda outros cinco grupos de investigados, que totalizam 37 réus. Ainda não há data definida para os julgamentos outros núcleos.
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Investigação (Abin);
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
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