Os palanques para as eleições do próximo ano em Santa Catarina começam a ser erguidos. A exatamente um ano da data em que catarinenses irão às urnas para eleger presidente, governador, senadores, deputados federais e estaduais, alguns nomes já ganham atenção dos holofotes. Na disputa ao governo de SC em 2026, o atual governador Jorginho Mello (PL) vai concorrer à reeleição. Ele busca consolidar o apoio de outros partidos, alguns já dentro da base de apoio ao governo, enquanto lida com disputas internas de bolsonaristas que miram a corrida pelo Senado.
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Outros nomes, no entanto, prometem rivalizar com o atual chefe do Executivo para subir ao palco e tentar ocupar o púlpito de governador. Os cenários podem reservar desde um duelo de bolsonaristas até um novo enfrentamento entre direita e esquerda, revivendo o segundo turno de 2022. O prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), apoiador de Bolsonaro, e o atual presidente nacional do Sebrae, o lulista Décio Lima (PT), despontam até aqui como os prováveis antagonistas de Jorginho na corrida pela Casa d’Agronômica em 2026. Em paralelo, atores como o deputado estadual Marcos Vieira (PSDB) e Afrânio Boppré (PSOL) correm por fora para tentar viabilizar candidatura e entrar em cena.
A estreia só ocorre em julho do ano que vem, prazo para que os partidos façam convenções e confirmem os candidatos que estarão nos palanques. A campanha começa para valer a partir de 16 de agosto do próximo ano. Antes disso, no entanto, há ensaios gerais importantes. Prefeitos e governadores que quiserem concorrer a outros cargos precisam renunciar até 3 de abril de 2026. A data-limite é a mesma para filiação partidária de quem deseja entrar em um partido ou mudar de legenda para concorrer na eleição de 4 de outubro.
Veja quem são possíveis candidatos ao governo de SC em 2026
O primeiro ato para a formação dos palanques de 2026 é o planejamento dos partidos, que já está na rua. No PL do governador Jorginho, o principal desafio do momento é conciliar os interesses de aliados que pretendem concorrer ao Senado, outra eleição que promete ser acirrada (leia mais nas páginas à frente). O gesto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de indicar o filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, para concorrer a uma vaga de senador por Santa Catarina no ano que vem movimentou o tablado. O partido, que já tinha disputas internas pelas vagas, viu o espaço e cena se estreitar ainda mais.
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No momento, a tendência é de que a indicação de uma das duas vagas na chapa caiba ao ex-presidente, abençoando Carlos Bolsonaro a concorrer por SC. A outra nomeação deve ficar com Jorginho Mello. O governador já sinalizou a preferência de não formar uma chapa pura e indicar o senador e aliado Esperidião Amin (PP), que pretende disputar a reeleição. A indicação seria uma forma de atrair de vez para a aliança do governador os partidos União Brasil e Progressistas, que recentemente formaram uma federação e têm na reeleição de Amin a principal prioridade para a disputa em 2026. O PP já faz parte do governo Jorginho com uma secretaria na área de Indústria e Comércio.
Por outro lado, a escolha desse elenco para o Senado deixaria de fora a deputada federal e escudeira de primeira hora do bolsonarismo Caroline de Toni (PL). Ela discutiu o assunto esta semana em visita a Jair Bolsonaro e saiu afirmando ter recebido o apoio do ex-presidente caso decida concorrer. O impasse tem levado a especulações até mesmo sobre uma possível saída dela do PL para concorrer ao Senado por outro partido. A expectativa de aliados do governador é de que a definição da chapa passe por conversas definitivas com o ex-presidente.
Em meio a esses arranjos, o partido tem como parceiros mais encaminhados para o ano que vem legendas como o MDB, que também já integra o governo com três secretarias, Republicanos, presidido pelo aliado Jorge Goetten, PRD e Podemos, da deputada Paulinha. Até mesmo o PSD, de João Rodrigues, é apontado como sigla que pode se juntar à aliança do governador, o que tiraria do palanque a candidatura de João Rodrigues. Para essas negociações com MDB e PSD, o grande trunfo deve ser a vaga de vice, a ser fechada apenas em 2026.
O projeto de reeleição de Jorginho também se apoia na aproximação firmada com prefeitos, muitos deles do próprio PSD, como o aliado declarado Topázio Neto (PSD), de Florianópolis — especulado até mesmo como uma possível indicação para vice-governador na chapa —, Adriano Silva (Novo), de Joinville, e, mais recentemente, Orvino Coelho d’Ávila (PSD), de São José. Enquanto isso, o governador tem focado em agendas em diferentes regiões do Estado com anúncios e entregas de obras.
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Os oponentes de Jorginho
Os pré-candidatos que almejam enfrentar Jorginho Mello também se movimentam a um ano das eleições. Uma das possibilidades é que a disputa ao governo de SC em 2026 tenha um duelo de bolsonaristas em SC. O prefeito de Chapecó (PSD), João Rodrigues, amigo e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, desponta como o provável rival do atual governador nas urnas. Ele deve se licenciar do cargo por um mês para rodar o Estado no final de outubro e já anunciou que pretende renunciar à prefeitura em abril de 2026, com o anunciado interesse de concorrer ao governo.
O desejo do PSD de voltar a ter candidato a governo após oito anos surge após o sucesso do partido nas eleições municipais de 2024 — a legenda foi a que mais elegeu prefeitos no país e a quarta em SC, vencendo em quatro das 10 maiores cidades do Estado. Outra razão é o reflexo sentido na diminuição das bancadas do partido após a eleição de 2022, quando o partido apenas indicou o vice na chapa de Gean Loureiro (União).
O presidente do PSD em SC, Eron Giordani, explica que a decisão de ter candidato envolve a direção do partido.
— Foi um processo em que a Executiva estadual compreendeu a necessidade de termos cabeça de chapa. Time que não entra em campo não tem torcida — recorda o dirigente.
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A escolha por João Rodrigues surge do alinhamento dele com as pautas de direita, em afinidade com o eleitorado do Estado, e com o trabalho dele à frente da prefeitura de Chapecó. O dirigente afirma que a negociação de alianças com outros partidos deve ficar para o começo do ano que vem. Apesar disso, conversas também ocorrem com a federação União Progressista, que também dialoga com o PL de Jorginho, mas que poderia ter na chapa de João Rodrigues uma vaga ao Senado a Esperidião Amin e também o posto de vice. O Novo, que já foi apoiado pelo PSD em cidades como Blumenau e Joinville em 2024, também seguem em andamento.
A aproximação recente de prefeitos como Adriano Silva (Novo), de Joinville, e até mesmo do PSD com o atual governador é encarada no partido como “parte do trabalho institucional” necessário aos gestores municipais. Sobre eventual composição com as vagas de vice e Senado, o partido afirma que “todas as vagas estão abertas”.
A possibilidade de candidatura do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), à Presidência da República, é algo que anima os aliados de João para uma possível influência do processo nacional e verticalização do voto.
— Isso facilita pela proximidade que temos com o governador Ratinho, pelo trabalho feito no Paraná, a proximidade que temos com eles e os números que ele apresenta — enaltece Giordani.
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A aposta do PSD é em um cenário de fadiga de parte do eleitorado com a polarização e extremismo, que possa oferecer espaço a uma candidatura de direita, mas equilibrada, capaz de “dialogar com todos”.
Veja possíveis candidatos a presidente em 2026
Esquerda sonha em repetir feito
O palanque de 2026 também deve ter espaço para um candidato da esquerda. Após a inédita ida ao segundo turno na corrida pelo governo do Estado em 2022, o PT deve ter candidato à Casa d’Agronômica, garantindo espaço e voz à candidatura de Lula na disputa pelo Palácio do Planalto. Nome à frente do resultado inédito em SC, o atual presidente nacional do Sebrae, Décio Lima, tem o recall de votos da última eleição e é apontado como candidato natural do PT para mais uma tentativa de ser governador.
O deputado estadual Fabiano da Luz, presidente do PT em SC, confirma que Décio é o nome do partido para a disputa. Uma possível ida de Décio ao Senado em caso de várias candidaturas no campo da direita não é descartada, mas a preferência é pela corrida ao governo para poder fazer o debate nacional entre Lula e os candidatos de direita. Atualmente, segundo ele, o partido se dedica a conversas com outras legendas de esquerda, como PSOL, PCdoB e PV, e à formação de nominatas para deputado.
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— Os partidos de Centro estão começando a se reestruturar, querendo também ter candidatura e não só apoiar alguém que a família Bolsonaro indicar. Então, acreditamos em uma tendência [de eleição] menos bolsonarista, com o enfraquecimento da família Bolsonaro, o que pode favorecer o partido — avalia o deputado.
Outras pré-candidaturas anunciadas
Além da pré-candidatura do governador Jorginho Mello à reeleição com apoio do bolsonarismo e de João Rodrigues e Décio Lima pela centro-direita e pela esquerda, respectivamente, outros nomes também tentam entrar em cena na corrida pelo governo de SC em 2026. Um deles é o deputado estadual Marcos Vieira (PSDB), presidente da sigla em SC. Nos últimos meses, ele se apresenta como pré-candidato e afirma que a experiência de parlamentar o fez conhecer a realidade dos 295 municípios catarinenses.
O dirigente reconhece que o partido vive momento de baixa, mas considera isso como algo cíclico e que já atingiu outros partidos em anos anteriores. Destaca o trabalho feito em cinco mandatos na Assembleia Legislativa para auxiliar na redução de impostos como credenciais para a disputa ao governo.
— Sou a favor de quem produz, quem paga impostos, não quero briga. Vou trabalhar por uma linha de centro-direita, de convergência. Briga não constrói hospital, não pavimenta rodovias, não reforma escolas — afirma.
Outro partido que pode ter candidato ao governo de SC é o PSOL, que ainda em julho lançou o nome do atual vereador de Florianópolis, Afrânio Boppré, como pré-candidato ao governo. O partido afirma que está em conversas com o PT e pode compor uma aliança com os partidos de esquerda, mas até o momento mantém o nome de Afrânio como possível candidato.
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No Novo, que já teve o prefeito de Joinville, Adriano Silva, especulado como possível candidato embora negasse o interesse de concorrer, a tendência é que o partido de fato não tenha candidato ao governo no ano que vem. A reportagem procurou lideranças dos sete maiores partidos de SC e das legendas com representantes na Câmara dos Deputados ou Assembleia Legislativa.
Os possíveis candidatos ao governo de SC
- Jorginho Mello (PL)
- João Rodrigues (PSD)
- Décio Lima (PT)
- Marcos Vieira (PSDB)
- Afrânio Boppré (PSOL)
O que esperar de 2026
A eleição de 2026 em SC deve ter um teste do protagonismo de Jorginho Mello e de Bolsonaro em SC contra candidatos que se apresentarem como alternativa a esse campo. O doutor em Ciência Política e professor da faculdade Ielusc, de Joinville, João Kamradt, avalia que a eleição de 2026 deve representar a tentativa de Jorginho Mello de consolidar a hegemonia do PL em SC, aproveitando o capital político construído nos últimos anos, com a adesão ao bolsonarismo e a proximidade com as pautas desse grupo político. Em 2024, o PL elegeu o maior número de prefeituras no Estado, com 90 prefeitos eleitos nas 295 cidades catarinenses.
Ele considera que a nacionalização da eleição em SC em 2026 é inevitável, pelo fato de o Estado ter se mostrado um dos mais aderentes ao bolsonarismo. Em razão disso, qualquer candidato competitivo precisará “calibrar o discurso” levando em conta os efeitos disso sobre o eleitorado catarinense.
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— O desafio maior neste caso é equilibrar as pautas locais de infraestrutura, desenvolvimento regional, questões específicas do agronegócio catarinense com um contexto nacional que está cada vez mais polarizado — avalia.
O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Tiago Daher Padovezi Borges, aposta em uma disputa com agenda semelhante à de 2022, com influência das agendas nacionais no debate estadual e presença de discussões sobre anistia. Caso Carlos Bolsonaro concorra ao Senado por SC, esse distanciamento entre as pautas seria ainda menor, segundo o especialista.
— Se acontecer, isso vai enfatizar ainda mais o debate de SC ser voltado para uma questão nacional envolvendo principalmente a sobrevivência política da família Bolsonaro — afirma.
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