O poeta da periferia chega à Feira do Livro de Joinville para um bate-papo enriquecedor com o público. Sérgio Vaz é um escritor e agitador cultural que participa do maior evento literário de SC em dois momentos nesta quinta-feira (5). Em entrevista exclusiva, Sérgio defende a importância da leitura na vida de jovens periféricos.

Continua depois da publicidade

Natural do interior de Minas Gerais, Sérgio foi para São Paulo ainda na infância. Cresceu na periferia da capital paulista, e começou a trabalhar aos 12 anos. Na infância, foi engraxate, vendedor de sorvete e, quando o pai comprou um bar, passou a trabalhar no comércio da família. 

Veja fotos de Sérgio Vaz

Ele é fundador de um sarau realizado em um bar na periferia de Taboão da Serra, cidade na região metropolitana de São Paulo. Mais tarde o movimento transformou o bar em centro cultural. Em 2000, foi um dos fundadores da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia).

O escritor já recebeu vários prêmios em reconhecimento de seu trabalho social que promove a cultura. Em 2009, foi eleito pela revista Época uma das cem pessoas mais influentes do Brasil.

Continua depois da publicidade

Raphael Montes, autor de “Beleza Fatal”, revela novos projetos na Feira do Livro de Joinville

Sérgio Vaz participará da Feira do Livro de Joinville em dois horários: às 14h30 e às 19h, sempre no palco principal. Nos dois momentos, falará sobre a literatura das ruas, tema que faz parte de sua vida e está representado em suas obras. Sérgio é autor de livros como “Colecionador de Pedras”, “Literatura, pão e poesia”, “Flores de Alvenaria”, “Flores da Batalha”, e criador do Projeto Poesia Contra a Violência.

Confira abaixo a entrevista completa com Sérgio Vaz

O descobrimento do seu gosto pela poesia foi através de uma música quando você ainda estava no exército. Como é que, a partir dessa música, você descobriu que esse seria o seu caminho?

Bom, primeiramente foi o meu pai que me induziu a gostar dos livros, mas eu não gostava de poesia. Eu acho que através das músicas, das metáforas, eu fui descobrindo a poesia, eu fui descobrindo o valor da metáfora, da palavra. Para mim, foi um encantamento morar na periferia de São Paulo e saber que o livro podia me transportar para lugares melhores do que aquele que eu vivia. Então, a paixão foi praticamente momentânea.

Continua depois da publicidade

Ainda na década de 80 você publicou seus primeiros livros de forma independente. Como a escrita surge de forma efetiva como uma ferramenta de transformação na sua vida e quais foram os desafios que você enfrentou para seguir na carreira?

A poesia, para mim, no começo, era só um deleite. Na metade dos anos 90, eu começo a me interessar pelo hip-hop, pela cultura hip-hop, começo a gravitar na órbita e começo a perceber a importância de falar de coisas do meu bairro, o que aconteceu no meu bairro, das pessoas negras periféricas, das pessoas que passavam fome, sem emprego. Assim, muito inspirado em Carolina Maria de Jesus em “Quarto despejo”. Então, além de mudar a minha vida, eu percebi que começou a mudar a vida das pessoas do meu bairro também. Porque através do meu trabalho, elas começaram a ver a literatura de uma forma diferente e assim me possibilitou estar nos lugares que eu jamais pensaria que estaria. Sempre quando a gente está começando uma carreira de artista, a gente sempre pensa em ir para o centro das coisas e na verdade eu comecei a olhar para o meu lugar. Isso é muito importante para mim.

Em 2000, você fundou a Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa). De que forma esse projeto impactou a vida das pessoas nas comunidades e também a sua própria carreira?

Primeiro, esse bar onde é a Cooperifa era do meu pai, eu passei a minha infância e adolescência trabalhando lá. Então você vê que aquilo que era a minha senzala acabou virando meu quilombo. E impactou porque é o seguinte, a gente ressignificou uma coisa que tinha essa carga negativa que é o bar. Mas o bar é onde as pessoas vão depois do trabalho para conversar, é onde se reúne para discutir o asfalto, para discutir sobre segurança, é um espaço de lazer onde joga sinuca, baralho, dominó, não existe clube na periferia. Então isso impactou porque foi a literatura nesse lugar que trouxe a cidadania para o entorno. Muita gente que olhava o bar daquela forma começou a falar: “Olha, eu moro onde tem o Sarau Cooperifa”. O bar do Zé Batidão é um centro cultural, onde tem cinema, onde tem biblioteca. Então impactou porque eram espaços que não tinham na minha quebrada e começaram a ter.

Continua depois da publicidade

Você já foi eleito como uma das pessoas mais influentes do Brasil em 2009. Como você acha que suas palavras podem influenciar a sociedade e contribuir para mudanças positivas? 

Bom, eu não sei se impacta as outras pessoas (risos), mas a mim promoveu mudanças drásticas como ser humano. A literatura começou a fazer sentido para mim para entender a humanidade e a minha humanidade também. Eu não sei se é impacto na vida das pessoas, mas o impacto da literatura em mim e a transformação que essas pessoas que eu finjo ajudar me ajudaram muito, então eu sou muito grato.

Na sua visão, qual é o futuro da arte e da cultura na periferia e no Brasil? Quais são suas esperanças e expectativas?

Eu acho que nunca vi a periferia ler tanto como está lendo agora. A molecada, no modo de dizer e respeitosamente, se apropriou da palavra. Eu venho de São Paulo, onde os saraus são movimentos fortes, slam é forte, as batalhas de rima. Ou seja, ainda que não tenha essa visibilidade toda, ela está acontecendo por dentro das pessoas. O sarau acontece em bares, em praças, o slam acontece em praças públicas, embaixo do viaduto. Ou seja, a literatura, ainda que seja a oralidade, hoje faz parte da vida das pessoas. Eu vejo isso com muito otimismo, porque na minha geração eu não tinha nem referência literária. Hoje essa molecada já tem as suas próprias referências, seus próprios ídolos e escritores, escritoras. A mulherada também está mandando bem para caramba. Então, eu vejo com muito otimismo.

Continua depois da publicidade

Para finalizar, qual é o seu principal conselho para os jovens das periferias que querem iniciar sua carreira na escrita?

Eu acho que uma das formas de conseguir seguir carreira de escritor é ler. Ler e estudar. Eu acho “vida loka” quem estuda. Eu acho que estudar é a grande pauta do dia. Porque por mais que você não queira ser escritor, para ser um bom leitor também precisa ler, para ser um bom poeta precisa ler. Eu não vejo outra forma de ser escritor sem gostar de literatura, sem gostar de ler. Então acho que ler seria o meu conselho.

Saiba quais são as atrações da Feira do Livro para hoje e amanhã

Além de Sérgio Vaz, o evento recebe outras atrações. Ao longo do dia acontecem bate-papos, contação de história e palestras. Para a sexta-feira, o grande destaque é a presença da escritora Paula Pimenta, que sobe ao palco às 19h. O público pode conferir a programação completa, com atrações para todos os gostos, no site do evento.

*Sob supervisão de Leandro Ferreira

Leia também

Socorro Acioli revela detalhes da sua trajetória de sucesso na Feira do Livro de Joinville

Continua depois da publicidade

Com mais de 40 livros publicados, Tino Freitas encanta crianças na Feira do Livro de Joinville