Na próxima quarta-feira (28), a jornalista da Globonews, Leilane Neubarth, será a palestrante principal do evento Potências Femininas, promovido pelo movimento Antonietas da NSC no Sebrae, em Florianópolis. A apresentadora vai falar sobre etarismo no universo feminino.

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Aos 66 anos, Leilane conduziu recentemente uma série de três episódios chamada “Tempo Rei”. O material está sendo exibido na Globonews e ouve homens e mulheres, famosos e anônimos, divididos por décadas: 50, 60, 70, 80, 90 e 100 anos. Mostra hábitos, interesses e a qualidade de vida nestas faixas etárias.

Durante a semana, a jornalista conversou com a reportagem e falou como começou seu interesse sobre o tema da longevidade, o que mudou no mercado de trabalho com o aumento da expectativa dos brasileiros e os principais desafios para as mulheres que vivem mais e têm outros interesses. Confira:

De onde surgiu a ideia da série sobre longevidade?

Desde março de 2020 eu estudo sobre longevidade. Nesta época, eu com 61 anos, e como todos devido a pandemia, fui afastada do meu trabalho. Naquele momento, eu percebi que havia uma separação. Que o mundo tinha sido dividido entre os que tem menos de 60 e os que têm mais de 60. Comecei a pensar que nada na minha vida tinha mudado depois que eu fiz 60. Porém, de repente, eu passei a fazer parte de uma outra categoria. E essa categoria é um grupo enorme. Foi então que fui estudar quanto tempo essas pessoas estão vivendo, como anda a qualidade de vida delas, que mercado existe para essa “galera” 60 mais e o que eles representam no mundo. Aliás, eles estão representados, vistos? Ou são um grupo invisível aos olhos de quem faz produtos e atividades. Tudo isso começou a ficar muito forte em mim. Resolvi estudar e a partir daí o tema passou a ser superimportante pra mim. Óbvio que o gatilho foi uma causa pessoal, mas entendi a partir dali que todos nós íamos chegar lá. E presença entender com este mundo que está envelhecendo.

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O que mais chamou a atenção nestes estudos?

Foram as indicações e as estatísticas de que o Brasil está envelhecendo muito rápido. Envelhecemos rapidamente sem estarmos preparados para isso. O grupo 60 mais é imenso e tem necessidades diferentes, não tem como colocar tudo num único grupo. Elas são diferentes das que tem 80 ou 90. É preciso vê-los em décadas. É um grupo que está envelhecendo de forma desigual, como é o nosso país, claro. Mas é um grupo que tem uma capacidade de consumo muito grande. Elas são pessoas com mais capacidade do que as classes C, D e E juntas. E não existem produtos, atividades, cursos, propostas para essas pessoas. Não existem políticas públicas para essas pessoas. Essas pessoas ainda não são vistas como um grupo que mereça atenção. Evoluímos muito com bebês, adolescentes, mas ainda não focamos no grupo dos chamados idosos. E eu entendi que isso precisa ser feito. E a única maneira disso ser feito é a gente dar visibilidade e voz para essas pessoas. A partir de várias ações, mas entre elas, programas de televisão, rádio, jornal e reportagens que falem sobre essas pessoas.

Algo a destacar sobre as mulheres em si?

As mulheres e os homens envelhecem de uma forma absolutamente diferente. Primeiro, as mulheres têm uma espécie de relógio que mostra que a gente está envelhecendo, que é a menopausa, onde perdemos a capacidade de reproduzir. E as funções do corpo mudam. As mulheres têm um sino, que os homens não têm. As mulheres passaram a maior parte da vida cuidando e quando os filhos saem de casa, elas começam a repensar a vida delas e a entender que elas podem naquele momento, se tiverem saúde financeira e mental, reorganizar a vida, reencontrar caminhos. O que vem acontecendo é que muitas mulheres se separam, criam grupos de amigos, fazem cursos, descobrem novos talentos. Elas não aceitam o que a vida quer impor, que é ficar em casa cuidando de netos. Nada contra, mas isso não é uma obrigação. Como avó também eu comecei a pensar que era muito diferente do que o conceito que todo mundo conhece, que é aquela senhorinha, gordinha que fica em casa fazendo crochê. Eu sou muito diferente disso. Hoje eu tenho que explicar ao meu neto que ele é muito novo ainda para andar de moto comigo e que ele não pode ir às minhas viagens de aventura comigo. Já os homens, quando envelhecem, como trabalharam a vida inteira fora de casa, querem ficar em casa, com a família, ter uma vida mais doméstica. E muitas vezes eles acabam atrapalhando o funcionamento da família, o cotidiano dentro de casa. Eles precisam aprender a lidar com a falta de poder que chega nesta idade.

Leilane é jornalista da Globonews e um destaque na profissão

O que na sua carreira você observou de transformação sobre a relação das mulheres no mercado de trabalho?

Muita coisa mudou em relação às mulheres no mercado de trabalho. Nós conquistamos nos últimos 40, 50 anos, mais e mais postos de trabalho. Eu sinto hoje que as mulheres estão em praticamente todos os setores. Em relação a igualdade salarial, mesmo existindo uma lei, na prática, na maioria das vezes, isso não existe. E as mulheres brancas ganham mais do que as mulheres negras. Mas a principal mudança é em relação ao posicionamento. A consciência não permite ou evita o machismo dentro das empresas. Estamos mais e mais em postos de chefia, isso é uma luta, mas o que observo é que, na minha época, era comum você ouvir gracinhas de um chefe ou ser constrangida por um. Hoje é muito menos comum. Não que não existam, mas as mulheres estão mais atentas, observadoras e estão lutando contra o machismo na relação trabalhista.

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Que situações você passou e que te marcaram na tua vida profissional por ser mulher, boas e ruins?

Eu poderia falar um dia inteiro sobre situações que marcaram a vida profissional da minha geração. Já ouvi muita coisa, já vivi muita coisa, mas eu lembro que eu ouvi uma vez que repórter não devia ter filho quando eu estava com um filho doente. Esse é apenas um exemplo das muitas coisas que eu tive que enfrentar para poder conquistar espaço, respeito e os meus direitos. Tem um lado bom? Tem. As mulheres têm habilidade para harmonizar um ambiente. E isso é uma vantagem. Ao ser mulher, no trabalho, você consegue de uma maneira mais harmônica enfrentar conflitos e dificuldade, sem que isso seja uma guerra. Aliás, eu gosto muito de ser mulher, apesar de todos os problemas.

No jornalismo ou em qualquer outra profissão, qual o maior desafio com a longevidade?

Acredito que no jornalismo ou em qualquer profissão, o maior desafio é pessoal, de cada uma de nós, de não se acomodar. De não ficar parada, de não ter desejos, na sua profissão. Qualquer que seja. Mesmo que não trabalhe, seja dona de casa, mãe, avó. Se você não está atenta às mudanças do mundo, não se interessa por inovações, tecnologia, momentos que unem a relação intergeracional. Não se pode ficar vivendo do passado. Em todas as épocas da vida temos o que ensinar e o que aprender o tempo todo. Eu costumo brincar que estou envelhecendo em HD e 4k. Quando eu comecei a trabalhar, com 20 anos, a televisão tinha uma definição de imagem muito ruim. Hoje eu tenho 66 anos e a televisão mostra todas as minhas imperfeições porque é uma televisão de alta definição. Claro que a televisão exige uma luta para que você se mantenha jovem, mas ela não pode ser a mais importante, não pode te dominar. Felizmente, a TV Globo onde eu trabalho, está muito preocupada com a pluralidade. E isso é fundamental justamente com essa questão da relação intergeracional. Parecer jovem não é a coisa mais importante do meu trabalho. Eu tenho orgulho dos meus 45 anos de trabalho. Agora, eu procuro estar jovem, não apenas na aparência, mas no meu espírito, na minha vontade de trabalhar, na minha importância e responsabilidade. Esta é uma das minhas vontades.

Antonietas

Antonietas é um movimento da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.  

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