Desde agosto, o bolsonarismo e o PL em Santa Catarina vivenciam uma crise pela disputa ao Senado nas eleições de 2026. O surgimento do nome de Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e vereador no Rio de Janeiro, transformou o cenário da corrida pelas duas vagas na chapa do governador Jorginho Mello (PL) e trouxe à tona duras discussões entre políticos nas redes sociais.

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As primeiras movimentações políticas de Carlos Bolsonaro em Santa Catarina aconteceram em setembro, quando ele participou de atos em apoio ao pai, que na época já indicava um acordo com Jorginho Mello por uma das vagas ao Senado. A outra seria indicação do governador. Esse acordo, contudo, era negado por Jorginho, segundo apuração do colunista Ânderson Silva.

Desde então, as visitas de Carlos ao Estado se tornaram mais frequentes e marcaram os primeiros passos de uma trajetória cada vez mais certa rumo à candidatura. Entre setembro e outubro, Carlos passou por cinco regiões do Estado — indo da Efapi, em Chapecó, a Oktoberfest, em Blumenau, se reunindo com empresários e visitando igrejas.

Durante essas agendas, Carlos mostrou uma aproximação com a deputada federal Caroline de Toni (PL), com quem disputa uma indicação do partido para concorrer ao Senado. De Toni era apontada como favorita para a disputa. Mas a candidatura de Carlos Bolsonaro é dada como certa, por ser uma imposição de Jair Bolsonaro a Jorginho Mello.

Santa Catarina, assim como os demais estados, tem três representantes no Senado. Contudo, as renovações ocorrem de forma alternada, ou seja, em uma eleição somente um senador é eleito por estado e na seguinte dois senadores são eleitos por estado. Em 2026, os eleitores poderão escolher dois representantes nas urnas, o que amplia as possibilidades de candidatos.

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Chapa “pura” do PL

Num vídeo sobre a passagem por Chapecó, Carlos Bolsonaro defendeu a “pureza” do PL para 2026 e disse que os dois juntos irão “quebrar algumas poucas barreiras”.

— Com a pureza que começamos o nosso trabalho, o Partido Liberal continuará sendo puro e com essa pureza conseguiremos chegar a uma segunda vitória consecutiva em SC.

Em contrapartida, Jorginho Mello já admitiu que não gostaria de indicar uma “chapa pura” e deu indícios de uma predileção pela candidatura de Esperidião Amin (PP).

Soma-se o fato de Carlos Bolsonaro não possuir vínculos com Santa Catarina. Isso já gerou reações contrárias. Sua candidatura é vista como puro oportunismo e crescem as críticas e a rejeição a seu nome. Como, por exemplo, do setor produtivo, com manifestação contrária até da Federação das Indústrias de SC, a FIESC. Santa Catarina “não precisa importar políticos”, afirmou em nota a entidade.

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Perguntado um dia se sentia confortável com a indicação de Carlos, o governador Jorginho Mello foi sucinto: “não vou brigar com a família Bolsonaro”.

Veja fotos dos nomes cotados para o Senado por SC em 2026

Carol de Toni cogita “novo caminho”

No fim de outubro, depois de uma conversa entre Jorginho e Jair Bolsonaro realizada em Brasília, sobre o imbróglio político, a deputada federal Carol de Toni desabafou em entrevista à rádio Rede Princesa, em Xanxerê. Ela apontou duas possibilidades: resolver a questão dentro do PL ou seguir por um novo caminho, com a filiação em um “partido independente”.

A conversa em Brasília não foi de extrema leveza. Bolsonaro teria imposto Carlos Bolsonaro e Carol de Toni como candidatos ao Senado na chapa de Jorginho. Já o governador defendeu que o segundo nome, ao lado de Carlos, seja o de Esperidião Amin. Entre os argumentos de Jorginho estão a necessidade de alianças e de tempo de TV.

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De Toni alegou que o governador prometeu a ela uma vaga no Senado durante uma ida a Xanxerê. Disse ainda que não aceitará ser subordinada e que a decisão final será guiada pelo “desejo do catarinense”.

— Não vou me subordinar. Se eu me elegi a primeira vez foi graças a Bolsonaro. Só que agora eu chego num momento, encurralada, ou mostro que tenho estatura mostrando independência, não tenho dependência de nenhum desses líderes, Amin, Jorginho e João, não sou subordinada.

Ana Campagnolo entra na briga

Na última semana, um novo nome entrou no cenário. Ana Campagnolo (PL), a deputada estadual recordista de votos na história de Santa Catarina. Ela deu uma entrevista à Rádio São Bento, de São Bento do Sul, na qual menciona que, inicialmente, a chapa ao Senado seria formada por Amin e Carol de Toni, e que a chegada de Carlos teria feito Carol “perder espaço”.

A confusão se instalou até mesmo na família Bolsonaro. A entrevista de Campagnolo não foi vista com bons olhos por Carlos, que chegou a chamar a deputada estadual de “mentirosa”. Já Michelle Bolsonaro disse estar “fechada” com Carol, “independentemente da sigla partidária”. E Eduardo Bolsonaro, deputado federal que está nos Estados Unidos, publicou, nesta terça-feira (4), um texto criticando Ana Campagnolo.

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Eduardo lembrou que defendeu Campagnolo em 2018, quando ela foi criticada por disputar a eleição fora de sua região, e usa esse exemplo para justificar a defesa da candidatura de Carlos Bolsonaro em Santa Catarina.

“As declarações da deputada estadual do PL, Ana Campagnolo, são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público. No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou e, pior, por representarem uma tremenda injustiça, já que ela usa uma régua contra meu irmão que jamais aplicou a si mesmo”, escreveu o deputado.

Ainda na manhã desta terça-feira (4), Campagnolo respondeu ao colega de partido e informou que sempre esteve ao lado de Eduardo Bolsonaro em “todos os momentos”. Ela também falou que Santa Catarina “é o meu campo de trabalho, é o lugar que eu amo”.

Segundo analistas políticos, pela primeira vez o enorme capital político do bolsonarismo está em xeque em Santa Catarina.

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