A vacina russa contra o coronavírus precisa ser analisada com cuidado, de acordo com Natalia Pasternak, doutora em microbiologia e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores referência em pesquisa sobre a Covid-19 no Brasil. Em entrevista à NSC TV, no Bom dia Santa Catarina desta quarta-feira (12), a pesquisadora afirmou que “estamos no escuro” quando falamos da eficácia do tratamento desenvolvido na Rússia.

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Pasternak ainda alertou que os testes da vacina russa no Paraná podem trazem riscos à população, se não forem executados conforme as regras da Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a pesquisadora, a imunização russa estaria na primeira fase de testes conforme as informações internacionais de pesquisa, sem ter passado sequer pelas fases de segurança. Para ser segura para testes em humanos, a vacina teria que passa pela primeira fase e ainda pela segunda fase de testes, o que não ocorreu até o momento. 

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Sobre as vacinas testadas atualmente no Brasil, como a vacina de Oxford, a especialista projeta que as doses seguras devem ser disponibilizadas apenas no começo do segundo semestro de 2021. Este é o prazo projetado por Pasternak caso todos os resultados de testes sejam satisfatórios e não haja imprevistos nas aplicações. 

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Cloroquina, ivermectina e ozônio retal

Sobre os tratamentos experimentais contra a Covid-19, Natalia Pasternak foi enfática ao desconsiderar a cloroquina ou hidroxicloquina como uma alternativa. – Não falamos mais que não tem eficácia comprovada, já temos a ineficácia compravada contra o coronavírus -, disse a especialista. 

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A aplicação de ozônio retal em Itajaí, por exemplo, também foi citada por Pasternak como um tratamento experimental, sem eficácia. Para a especialista, as aplicações devem ser restritas a ambientes de testes científicos, sem promessa de cura ou de tratamento. A invermectina distribuída em Santa Catarina também foi citada como um remédio sem eficácia. 

– Temos é que confiar nas medidas de distancimento, de higienização, que já sabemos que funcionam. Os países que adotaram essas medidas com rigor estão retornando as atividades com segurança -, analisou Natalia Pasternak. Para a especialista, o posicionamento adotado pelo governo federal, ao minimizar a importância dessas medidas para o combate da Covid-19, é um dos fatores que tem contribuído para o aumento das taxas de transmissão no Brasil, além de impedir o retorno das atividades comerciais e de educação, por exemplo. 

Retorno às aulas precisa ser analisado pela taxa de transmissão

A taxa de transmissão em cada cidade foi um dos requisitos para o retorno das aulas no Brasil, de acordo com a opinião de Pasternak. Para a especialista, se a taxa estiver alta na cidade, a transmissão em escolas pode ser ainda maior já que alunos, professores e funcionários precisarão circular pelo município para chegar até a escola. 

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Para que as aulas retornem com segurança, Pasternak ainda avaliou que é necessário colocar a medida como prioridade na reabertura. Se além das aulas, outros serviços estiverem abertos, as taxas de transmissão devem aumentar e o surto de coronavírus não deve ser facilmente controlado. – Temos que saber a nossa prioridade: abrir escolas ou bares e restaurantes? Com todos abertos, a transmissão irá aumentar -, comentou a especialista. 

Casos incomuns aumentam com maior número de casos

Natalia Pasternak também comentou a ocorrência de casos incomuns de mortes pelo coronavírus, como o menino de 12 anos que morreu em SC e o bebê que nasceu morto já que a mãe possuía o vírus. Segundo Pasternak, esses casos considerados “incomuns” devem aparecem com mais frequência em cidades ou estados em que as taxas de transmissão são cada vez mais altas. 

Caso a transmissão seja reduzida, os casos “incomuns” – de mortes fora do padrão do vírus – devem ser menores.