“A violência é muito mais que a violência física”. É com essa frase que a jornalista da TV Globo e apresentadora do Bom Dia Brasil, Ana Paula Araújo, deu início ao evento “Antonietas contra a violência doméstica”, que debateu na manhã desta quinta-feira (28) o aumento nas ocorrências, a morte de mulheres e o que ainda é necessário para o combate da prática em Santa Catarina e no país.

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Os números, inclusive, assustam. Dados do Observatório da Violência Contra a Mulher de Santa Catarina apontam que, só neste ano, 42.400 casos de violência doméstica foram registrados no Estado entre janeiro e julho. Além disso, 29 mulheres foram mortas, vítimas de feminicídio, até o dia 28 de agosto.

Outro dado recente que mostra a escalada da violência contra a mulher catarinense é o número de medidas protetivas concedidas pela justiça. Conforme o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), ao menos 18.387 mil documentos foram concedidos às mulheres vítimas de violência doméstica entre janeiro e julho de 2025, uma média de 87 por dia — ou uma a cada 15 minutos. Em contrapartida, o Estado foi o segundo estado brasileiro com a maior taxa de descumprimento de medidas protetivas de urgência em 2024, de acordo com o Anuário da Violência divulgado em julho de 2025.

— Se você pensar, há 30 anos atrás era algo difícil e impossível de executar, não havia mecanismos de controle. Hoje, nós temos muitos mecanismos de controle e uma possibilidade de vigilância com o uso de tecnologia — pontua o presidente do TJSC desembargador Francisco Oliveira Neto.

A promotora do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres (NEAVID), Chimelly Louise de Resenes Marcon complementa que a maioria das vítimas muitas vezes não é assistida pelo poder judiciário. Por isso, a importância do trabalho conjunto para proteger essas mulheres.

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— Santa Catarina, embora tenha reduzido os números em termos de letalidade geral, cresceu em relação à quantificação. De feminicídios dentro desse conjunto de mortes violentas, um dado que é bastante interessante, é que 84% dessas mulheres que foram vítimas fatais dessa violência de gênero estavam fora do radar do sistema de justiça. Elas não tinham uma medida protetiva ativa para protegê-las de uma forma mais ativa. Então, esse dado nos leva a pensar também em mecanismos para nós credenciarmos esses equipamentos de modo que a população realmente encontre nesses órgãos a confiança necessária para que ela rompa esse ciclo da violência, apresente a sua denúncia e esse agressor seja efetivamente punido e responsabilizado pelo ato que foi praticado — enfatiza.

Por isso, o Antonietas, da NSC, debateu sobre o tema durante todo o mês de agosto com objetivo de levar a conscientização e a discussão sobre os mecanismos para combater a prática.

— O movimento Antonietas, criado há mais de um ano pela NSC, tem o objetivo de promover a transformação social. E ele tem como essência o debate, a orientação e a conscientização da pessoas também sobre uma epidemia que é a violência contra a mulher. E este evento reforça nossos objetivos com uma especialista no assunto, como a Ana Paula Araújo, que é uma porta-voz do tema — diz Raquel Vieira, coordenadora de jornalismo digital

“Violência ocorre onde ela deveria se sentir protegida”

A jornalista Ana Paula Araújo virou uma das referências do tema da violência contra a mulher no país. Em junho, ela llançou o livro “Agressão: a escalada da violência doméstica no Brasil” onde debate os diferentes tipos de agressões e como ela está presente em diferentes classes da sociedade.

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— È muito importante falar sobre a violência contra a mulher. Cada vez que a gente fala sobre isso, a gente está trazendo luz para um assunto que muitas vezes fica dentro de casa. A violência contra a mulher acontece, geralmente, naquele ambiente doméstico onde ela deveria, inclusive, se sentir mais protegida. É uma violência que, em geral, parte de um companheiro, de um namorado, um marido, um ex-namorado, ex-marido, alguém com uma relação próxima, que geralmente é a família dela. Então, são todas situações muito delicadas e, por isso, muitas vezes a mulher tem dificuldade de falar porque, quando ela vai denunciar ou vai buscar ajuda, muitas vezes ela não encontra o apoio necessário — pontua.

A jornalista enfatiza, inclusive, que durante a pesquisa do livro se deparou com violências que nem imagina que cometia mulheres:

— Vi que a violência está em todos os lugares e muitas vezes a gente nem percebe, porque quando a gente fala de violência física é mais fácil de identificar, mas tem a violência psicológica, que está presente de uma maneira assustadora e muito espalhada em todas as classes sociais, níveis de escolaridade, em todos os lugares do Brasil. A Violência patrimonial, por exemplo, que é quando um homem toma conta de todo o dinheiro da mulher, não deixa ela ter acesso aos bens dela, ao dinheiro dela. Então, são várias reflexões que as mulheres precisam ter dos homens para perceber que a violência está, às vezes, acontecendo dentro daquela casa.

Antonietas contra a violência doméstica

O evento que debateu a escalda da violência doméstica no Brasil encerrou uma série de ações e a cobertura do Agosto Lilás.

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— O Agosto Lilás foi um mês onde focamos em todos os veículos da NSC em trazer à tona, discutir com a sociedade e convidar todo mundo a olhar para a violência contra a mulher como algo que a gente realmente quer tratar e que a gente quer buscar soluções para isso. Então, ter um evento como esse, através do movimento Antonietas, é mais uma vez reforçar o nosso compromisso com a sociedade de trazer essa discussão à tona e fazer com que, principalmente, a gente não naturalize todos os tipos de violência que acabam atingindo as catarinenses, as brasileiras e as mulheres de uma forma em geral — enfatiza Eveline Poncio, apresentadora do Bom Dia SC e mediadora do evento.

O encontro ocorreu no auditório Ministro Teori Zavascki, no Tribunal de Justiça, em Florianópolis. Além da palestra com a jornalista e escritora Ana Paula Araújo, também participaram do evento Naiara Brancher, titular do Juizado da Violência Doméstica e Familiar da Capital e coordenadora adjunta Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (Cevid), e a promotora e coordenadora NEAVID, Chimelly Louise de Resenes Marcon.

Confira como foi o evento

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.