O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu o Debate Geral da Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Lula falou sobre as sanções dos Estados Unidos contra o Brasil e citou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe. Também criticou os ataques à soberania brasileira e afirmou que a democracia no país é “inegociável”.

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— Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade — afirmou Lula.

O presidente brasileiro também destacou que o Brasil saiu do mapa da fome, pediu a redução dos gastos com guerra em favor de mais investimentos na área social e disse que “a pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo”. Lula também defendeu a regulação das redes sociais, como forma de evitar crimes.

— Regular [as redes] não é restringir liberdade de expressão, é garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim também no mundo virtual. Ataques à regulação serve para atender interesses escusos e dar guarida a crimes como fraudes, tráfico de pessoas, pedofilia e investidas contra a democracia — afirmou.

Lula foi aplaudido ao menos cinco vezes no discurso: ao defender a soberania brasileira, ao falar do genocídio em Gaza, do Estado da Palestina e da defesa do chamado “Sul Global”. Na segunda parte do discurso, o presidente defendeu uma solução de paz para os conflitos na Ucrânia e em Gaza. Também falou sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, que nas últimas semanas ganhou a adesão de países como a França.

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— Em Gaza, fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente. Quero expressar minha admiração aos judeus que dentro e fora de Israel se opõem a essa punição coletiva. O povo palestino corre o risco de desaparecer. Só sobreviverá como Estado independente integrado à comunidade internacional. Essa é a solução defendida por mais de 150 membros da ONU, reafirmada ontem aqui neste mesmo plenário, mas obstruída por um único veto — afirmou, citando a restrição norte-americana.

Lula também falou sobre a COP 30, que será sediada em Belém (PA) em novembro. O presidente afirmou que “bombas e armas não vão nos proteger da crise climática”. O chefe do Estado brasileiro citou, ainda, as mortes do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica e do papa Francisco.

— No futuro que o Brasil vislumbra, não há espaço para reedição de rivalidades ideológicas ou esfera de influência — afirmou, destacando que a relação entre os países não pode deixar de ser multilateral.

O presidente encerrou afirmando que a ONU tem hoje quase quatro vezes mais países do que quando foi fundada, há 80 anos.

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— Nossa missão histórica é torná-la novamente promotora de esperança e da igualdade e da paz, no desenvolvimento sustentável, da paz e da tolerância — afirmou.

Tensão entre Brasil e EUA

Lula foi o primeiro a discursar, mantendo a tradição histórica do encontro de reservar ao presidente brasileiro o primeiro discurso do Debate Geral. Em seguida, quem se manifesta é o presidente do país anfitrião do evento, os Estados Unidos, Donald Trump. A ordem de discursos gerou expectativa sobre um encontro de Lula e Trump e também de críticas ou recados nos discursos dos dois chefes de Estado. Brasil e Estados Unidos estão em meio a uma tensão após a aplicação do tarifaço pelo governo norte-americano e de sanções a autoridades brasileiras, como tentativa de retaliação pela condenação por tentativa de golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump.

Nesta segunda-feira (22), o governo de Trump anunciou novas sanções, com a inclusão da esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na Lei Magnitsky, conhecida como “pena de morte financeira”.

Abertura teve recado contra guerras

A Assembleia Geral marca os 80 anos da ONU, fundada em 1945, após a Segunda Guerra Mundial. A entidade reúne 193 países-membros, que devem discursar até o final da semana no evento nos EUA.

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Na abertura da assembleia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um discurso alertando para os riscos das guerras atuais em andamento e convocando líderes das nações para um consenso contra as guerras em Gaza e na Ucrânia.

— Muitas crises continuam ainda sem freios. A falta de lei é um contágio sem controle, é uma terra de ninguém. Quando a responsabilidade desaparece, os cemitérios prosperam. Há violações de obrigações legais e isso impede nossa capacidade de servir e oferecer resultados — discursou.

O secretário-geral convocou os chefes dos países a refletirem sobre a necessidade de pôr fim aos conflitos.

— Em um mundo em que há muitas opções, existe uma que não podemos tomar: não podemos desistir jamais. Essa é minha promessa — afirmou.

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Acompanhe os discursos da Assembleia Geral da ONU

*Matéria em atualização

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