Catarina Kasten, de 31 anos, Karla Luiza Schvirkoski Domingos, de 30, Lucila Borges Pagani, de 63 e Débora Ester Araújo da Silva, de 33. Essas mulheres não se conheciam, mas foram unidas nas últimas semanas por um ponto em comum: estão entre as 47 vítimas de feminicídio em Santa Catarina em 2025. Conforme um levantamento feito com base nos dados da Secretária de Segurança Pública (SSP), o Estado registrou 324 feminicídios desde 2020. Ou seja, em média, são 54 vítimas por ano, o que equivale a uma mulher assassinada por semana. Nesta terça-feira (25), é celebrado o Dia Internacional para Eliminação da Violência Contras as Mulheres, uma data que busca conscientizar a população sobre os diferentes tipos de agressão contra meninas e mulheres.
Continua depois da publicidade
Os dados do Observatório da Violência Contra Mulher apontam que, até outubro de 2025, 38 mulheres foram mortas em razão de gênero no Estado. Até o dia 24 de novembro, segundo a Polícia Civil, outras nove foram vítimas de feminicídio. Segundo a presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência Doméstica da OAB Nacional, Tammy Fortunato, Santa Catarina está no top 10 entre os estados que mais mata mulheres por serem mulheres em contexto de violência doméstica.
— Se nós fôssemos observar os números de 2024, que estão lá no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram 196 tentativas de feminicídio e 51 consumados em Santa Catarina. São números que assustam e assustam bastante. Ele tentou matar, ele não conseguiu, mas ele tentou — diz Tammy.
A maioria dos casos de feminicídios em 2025, segundo Observatório da Violência Contra Mulher, foi cometido pelo companheiro (11) ou marido da vítima (8). Outros casos envolvem ex-companheiros (6), namorados (5) e ex-namorados (2). Do total, 22 agressores estão presos, 10 cometeram suicídio e outros seis são considerados foragidos. A maioria dos crimes foi cometido por arma branca (19), seguido por arma de fogo (8) e agressão física (3).
A prisão dos autores de feminicídio é necessária, mas, segundo especialistas, não basta. Para Chimelly Marcon promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres (NEAVID), é preciso aumentar o trabalho na base da sociedade, principalmente nas escolas
Continua depois da publicidade
— Sexismo, misoginia, cultura de controle. Tudo isso estrutura a violência que hoje perpassa a existência das mulheres e onde ela encontra um terreno fértil para se expressar também na forma do feminicídio. Como enfrentamos esse quadro que é estrutural? Com políticas também estruturais. Com política pública consistentes em educação, campanhas de sensibilização, informação e responsabilização adequadas desses agressores — explica a promotora.
Morte de Catarina impulsiona debate sobre feminicídio em SC
O caso de Catarina, entretanto, vai na contramão das estatísticas de feminicídio no Estado. Isso porque a estudante foi assassinada na Trilha da Praia do Matadeiro, no Sul de Florianópolis, por um homem que não a conhecia.
— Importante a gente esclarecer para a população que a lei do feminicídio define duas situações: o feminicídio praticado na situação de violência domestica e familiar, que temos a Maria da Penha que define quais são as situações, e o feminicídio com menosprezo ou discriminação na condição da mulher, quando não há o vínculo íntimo de afeto. A Polícia Civil tem desde 2021 um curso específico para que os policiais civis identifiquem os dois tipos de situação — destaca a delegada Patrícia Zimmermann, atual coordenadora das Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso em Santa Catarina (DPCAMI) de Santa Catarina.
O crime foi registrado na última sexta-feira (21), quando Catarina saiu de casa para uma aula de natação. Por volta de 12h do mesmo dia, o companheiro da vítima recebeu uma mensagem informado que os pertences dela foram encontrados na trilha da Praia do Matadeiro.
Continua depois da publicidade
O corpo de Catarina foi localizado pela Polícia Militar com sinais de violência na trilha da praia. Segundo a Polícia Civil, a vítima sofreu violência sexual, com lesões traumáticas em regiões anal e vaginal. A causa da morte foi asfixia, conforme o Boletim de Ocorrência.
Em depoimento à Polícia Civil, o suspeito confessou o crime e relatou que voltava de uma festa quando avistou Catarina. Ele passou por uma audiência de custódia no sábado (22) e teve a prisão mantida pela Justiça.
Após o caso ganhar repercussão nacional, moradores, amigos e colegas de Catarina participaram de um ato em Florianópolis em homenagem a ela. A manifestação também pediu por mais segurança para as mulheres da cidade.
— Como é ser mulher? É ter medo. Ter medo todos os dias na hora de sair de casa. Mas também é encontrar nos outros e nas outras a forma de estar segura — diz Luisa Wolf, uma das participantes do ato.
Continua depois da publicidade
Mês mais letal para as mulheres de SC
Catarina entrou para as estatísticas do número alarmante de mulheres mortas por serem mulheres em novembro deste ano em Santa Catarina. Segundo a Polícia Civil, foram nove feminicídios cometidos até o dia 21 deste mês. O total faz deste mês o mais violento do ano na comparação com dados do Observatório de Violência contra a Mulher, que tem informações atualizadas até outubro.
O primeiro caso aconteceu no dia 3 de novembro, quando uma mulher de 57 anos foi encontrada morta dentro de casa no bairro Morretes, em Itapema. A vítima, natural do Paraná, tinha sinais de violência e, de acordo com a Polícia Militar, o caso foi registrado como feminicídio.
Um dia depois, no dia 4 de novembro, Thaís Sachainy Araújo, de 27 anos, foi morta pelo ex-companheiro em Balneário Rincão. Ele a asfixiou com um mata-leão. O suspeito afirmou que teria se “defendido” da vítima durante uma discussão e acabou a sufocando. O corpo de Thaís foi encontrado dentro da residência onde o casal havia morado.
Na noite do dia 8 de novembro, Karla Luiza Schvirkoski Domingos, de 30 anos, foi encontrada morta em uma rua de Balneário Barra do Sul. Duas testemunhas informaram à polícia que ouviram um barulho, como uma batida, na rua. Depois, acharam o corpo da mulher. A vítima tinha um histórico de relacionamentos amorosos conturbados, com a solicitação de uma medida protetiva contra um ex-companheiro.
Continua depois da publicidade
Outro assassinato foi registrado um dia depois, no dia 9 de novembro. Lucila Borges Pagani, de 63 anos, foi encontrada morta em uma casa, em Criciúma, com sinais de agressão pelo corpo. Segundo os médicos que atenderam o caso, Lucila já tinha hematomas antigos no rosto, pescoço, tronco e braços. O companheiro dela, de 69 anos, foi preso em flagrante.
No dia 15 de novembro, Débora Ester Araújo da Silva, de 33 anos, foi morta no bairro Vila Albina, em Santa Rosa do Sul. A Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência relacionada a uma briga de casal. Quando chegaram ao local, os policiais foram informados de que o homem teria esfaqueado a esposa. Os policiais, então, entraram na casa e confirmaram o óbito.
Quatro dias depois, uma mulher de 59 anos foi encontrada morta dentro de casa em Braço do Norte. Segundo a Polícia Militar, quando a guarnição chegou ao local, a equipe do Samu já realizava o atendimento. O socorrista informou que a vítima apresentava perfurações causadas por um objeto pontiagudo, possivelmente uma faca, em um dos quartos da casa.
Na sexta-feira passada (21), em Itajaí, uma mulher foi morta a tiros pelo marido dentro da própria casa, no bairro Espinheiros. Testemunhas afirmaram que o casal discutia com frequência e estava em processo de separação, mas o homem não aceitava o término do relacionamento.
Continua depois da publicidade
Quem são as vítimas de feminicídio em novembro em SC
Dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres
A data de 25 de novembro é marcada como o Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência contra a mulher. Ela foi escolhida para lembrar as irmãs Mirabal (Pátria, Minerva e Maria Teresa), assassinadas pela ditadura de Leônidas Trujillo na República Dominicana. Em março de 1999, o 25 de novembro foi reconhecido pelas Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.
Desde 20 de novembro, o Brasil faz a campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, que busca conscientizar a população sobre os diferentes tipos de agressão contra meninas e mulheres em todo o mundo. Trata-se de uma mobilização anual, empreendida por diversos atores da sociedade civil e do poder público.
A campanha ocorre até 10 de dezembro.
Antonietas
Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.
Continua depois da publicidade







