Antes de se tornar a cidade de Santa Catarina com a orla 100% premiada neste ano pelo Selo Bandeira Azul, o “Oscar das Praias”, Balneário Piçarras foi construída por muitas mãos, de diferentes povos, ao longo de mais de milhões de anos. Fotos antigas e documentos históricos explicam como a cidade surgiu.
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Conforme Iria Quintino, da Fundação Municipal de Cultura, a formação de Balneário Piçarras está diretamente ligada aos povos que habitaram a região há milhares de anos. Mais precisamente para os municípios de Penha e Balneário Piçarras, as pesquisas arqueológicas já realizadas resultaram no registro de sítios arqueológicos pré-coloniais associados aos povos pescadores-coletores, conhecidos na literatura arqueológica como sambaquieiros.
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Acredita-se também que os indígenas guaranis que habitavam essas terras possam ser descendentes desses primeiros habitantes. Com a chegada dos europeus, os povos indígenas que habitavam a região passaram a ser chamados de Carijós, um grupo pertencente à etnia Guarani, que ocupava diversas partes do território brasileiro, segundo pesquisadores.
De acordo com o historiador José Ferreira da Silva, no livro “História do Município de Penha“, publicado no ano de 1958, na segunda metade do século 18, pescadores portugueses vindos da região de São Francisco do Sul desceram a costa com o intuito de encontrar baleias, o que na época, era a principal matéria-prima das atividades econômicas da região. Alguns desses pioneiros se fixaram na porção de terra do litoral catarinense que mais se aproximava do mar, o qual batizaram de “Ponta do Itapocorói”.
No ano de 1777, nasce o núcleo inicial dos municípios de Penha e Piçarras, chamado de “Armação do Itapocorói“. Armação era o nome dado pelos portugueses para o local onde içavam as estruturas específicas utilizadas no manejo das baleias. Com a caça excessiva da baleia, logo veio a sua extinção e a Armação perde o seu espaço econômico e político para Penha.
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Iria também destaca que, poucos anos depois, no ano de 1839, a região hoje compreendida pelo município de Balneário Piçarras passou a complementar a região de Penha, subordinada a São Francisco do Sul.
Com a venda da armação e o declínio da pesca da baleia, os escravizados foram encaminhados pelo governo para outras localidades da província. Após a abolição da escravidão, em 1888, muitos desses homens e mulheres, agora livres, estabeleceram-se nas regiões que hoje correspondem aos municípios de Penha e Balneário Piçarras, onde passaram a se dedicar à crescente produção agrícola, atividade que estava em expansão naquele período, indica o historiador Silva no livro.
Segundo a pesquisadora Jane Cardozo da Silveira, o povoado de Itapocorói era constituído por indígenas, paulistas, vicentistas e açorianos provenientes de Desterro e também por negros escravizados, que foram trazidos após a instalação das armações baleeiras.
A formação da localidade de Piçarras se deu a partir da ocupação das margens do Rio Piçarras, que desemboca no Oceano Atlântico, na localidade que era chamada de “Parada”, pois era local de passagem e havia necessidade de atravessar o rio com embarcação. Nesse local, o Império instalou um entreposto para fiscalizar e cobrar taxas e impostos dos comerciantes que se deslocavam entre os núcleos de São Francisco e Desterro.
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— Muitos moradores não permaneceram próximos ao mar, e com sua vocação agrícola, se fixaram no interior do município, povoando as regiões de Lagoa, Rio Novo, São Brás e Medeirinhos. Lá, portugueses, afro-brasileiros e italianos montaram vilas, ocupando o interior e transformando-o em zona de comércio próspera e de agricultura diversificada — indica Iria a partir da pesquisa de Jane.
A região de Penha e Piçarras conseguiu sua emancipação político-administrativa de Itajaí apenas em 1958, com o município de Penha. Anos depois, políticos locais articulam a instalação da sede do novo município de Piçarras, que aconteceu em 14 de dezembro de 1963. Francisco Leopoldo Fleith assumiu a Prefeitura iniciando assim o município de Piçarras.
Em abril de 2004, a população decidiu, por meio de um plebiscito, acrescentar o termo “balneário” ao nome da cidade, o que, de acordo com os defensores da proposta, aumentaria a visibilidade turística da cidade. Em julho a decisão foi ratificada em lei pela Câmara de Vereadores, passando a cidade a chamar-se Balneário Piçarras.
— Por muitos anos Balneário Piçarras ficou conhecida como a “Namoradinha do Atlântico”. O povoado habitado principalmente por pescadores, agricultores e comerciantes, cresceu, se desenvolveu e foi atraindo cada vez mais veranistas e turistas, em busca de sossego, refúgio de águas calmas e limpas. Da vedete dos anos 50 a 70, nos anos 80 sofreu com as constantes ressacas e viu sua popularidade diminuir, até que a reconquistou com a obra de engordamento da praia, atraindo novamente os turistas — destaca Iria.
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Ela também destaca que a cidade sempre se orgulhou da balneabilidade de suas águas, com registros das praias mais limpas do Litoral Norte catarinense, o que lhe garantiu o Selo Bandeira Azul com 100% de sua praia certificada.
— A relação com o Atlântico também fez Balneário Piçarras se tornar o berço do maior museu oceanográfico das Américas e o terceiro maior do mundo, o Museu Oceanográfico da Univali (MOVI). Seus 7 quilômetros de orla emoldurada por castanheiras centenárias são um convite a quem chega. A mais emblemática e atraente delas, a “Árvore torta” é considerada patrimônio natural da cidade, suas curvas aguçam a imaginação de quem a contempla — cita.
Na área rural a região encanta tanto por suas belezas naturais quanto economia com diversas culturas e pela preservação do local, formado por pousadas, cachaçarias e parque aquático e trilhas ecológicas, em um roteiro que possui encantos de lazer, hospedagem e cicloturismo.
Origem do nome Balneário Piçarras
O nome Piçarra ou Piçarro é dado ao solo argiloso, formado a partir da junção dos fragmentos de rocha e outros elementos, mas que ainda possui a textura autêntica da rocha original; piçarro. Como é grande a quantidade de rochas de argila de piçarro encontrado no solo da região, surgiu o nome Piçarras.
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Cidade de SC é a única do Brasil com 100% da orla premiada
Balneário Piçarras foi a única no Brasil que teve 100% da sua orla premiada no Selo Bandeira Azul. A premiação é concedida a praias, marinas e embarcações de turismo que atendem a 38 critérios relacionados à qualidade da água, gestão ambiental, critério patrimonial, segurança, infraestrutura e educação ambiental.
As quatro praias de Balneário Piçarras foram certificadas como o selo na temporada 2025/2026. São 6,7 quilômetros de extensão, com a Praia da Ponta do Jacques (certificada desde 2023), Praia de Piçarras (certificada desde 2018), Praia Central de Balneário Piçarras (certificada desde 2024) e a Praia da Barra do Rio Piçarras (primeira certificação para 2025/2026).
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