Cerca de 320 mil jovens de 16 e 17 anos não possuem título de eleitor em Santa Catarina, conforme levantamento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC) até o dia 1 de setembro. O número representaria 6,5% do eleitorado do Estado caso esses jovens fizessem um título de eleitor. Especialistas explicam que se essa parcela da população participasse do processo eleitoral, seria capaz de definir a eleição de deputados estaduais, federais e senadores.

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Pela legislação, a votação só é obrigatória a partir dos 18 anos. Porém, os votantes entre 16 e 17 que têm interesse em participar do processo eleitoral e fizeram o título  representam 0,31% dos eleitores em Santa Catarina, segundo o TRE-SC. O interesse vem diminuindo e o número caiu nas três eleições.

Registros do TRE mostram que, entre 2016 e 2020, o percentual de jovens nesta faixa etária com título baixou 28% em SC. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas na idade de 17 anos, a queda foi de 53% no Brasil.

O secretário-geral da Escola Superior de Advocacia (ESA) da Ordem dos Advogados (OAB) de SC, André Jannis, avalia que a participação dos jovens seria definitiva nos pleitos:

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— Ao observar um resultado estadual ou federal, ou um senador, 320 mil votos fariam uma diferença enorme. Por exemplo, se fosse analisar isso estatisticamente, no senado, é um número que poderia ter alterado o resultado das últimas eleições. Seria o suficiente para eleger três, ou até quatro, deputados estaduais.

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Uma análise dos índices de abstenção mostrou que, mesmo entre os que estão aptos a votar, o número de pessoas de 16 e 17 anos que escolheram não comparecer às urnas mesmo com título em mãos foi de 56% em 2020, mais da metade do total de jovens eleitores nessa faixa etária.

Abstenção de votos de adolescentes entre 16 e 17 anos em comparação ao número total de jovens aptos da mesma idade
Abstenção de votos de adolescentes entre 16 e 17 anos em comparação ao número total de jovens aptos da mesma idade, quantificado por dezena de milhar (Foto: Gabriela Figueiredo/ Diário Catarinense/ Elaborado em 04/10/2021)

A campanha do TRE-SC “Bora Votar” busca chamar atenção para a importância da participação nas eleições, mesmo quando o voto é facultativo. Alice Lankewicz, de 18 anos, é de Joinville, e faz parte do movimento. A jovem dividiu algumas razões que justificam a ausência dos colegas no processo eleitoral.

— O jovem deixa de votar porque acha que é uma responsabilidade que não é dele. Eles argumentam que não é obrigatório. Dizem, “eu não estou a fim de sair de casa, é só um voto, nem vai fazer diferença no final”. Mas a gente sabe que não é bem assim. Se um pensa assim, imagina se 50 pensarem? Faz a diferença. É facultativo, mas a gente pode ir lá e mudar o futuro de um país ou uma cidade inteira – afirma Alice.

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Membro da OAB-SC, Jannis ressalta que a abstenção, o voto branco ou nulo também são escolhas:

— É importante ressaltar que o não voto é uma escolha, que a abstenção gera um resultado. A partir do momento que eu não voto, estou transferindo meu poder de decisão para os outros.

Como a eleição de 2018 ajuda a desenhar os desafios de 2022

As eleições de 2018 ficaram conhecidas pelo apelo digital e polarização. Foi o mesmo ano em que a curva de abstenção entre jovens de 16 e 17 anos subiu em 39%. Isso significa que mesmo com o título de eleitor, quase metade dos adolescentes decidiram não ir votar. De acordo com Alice Lankewicz, as redes sociais, até então mais populares entre jovens, ajudaram a implodir a motivação dos colegas para votação.

— 2018 foi o ano em as discussões encheram as redes sociais, mas chegou na hora e ninguém votou. Foi tudo muito extremo. Você tinha que escolher um lado ou outro, e tinha vários amigos meus que não queriam se envolver nesse conflito, com medo de serem rotulados ou perderem amizades. Se tornou um tabu falar de política.

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O fenômeno foi sentido pela Alice, que completou 18 anos em 2021, e fez o título apenas neste ano, quando passou a ter o dever de votar. Ela conta que se reconhece no depoimento dos amigos, e reflete sobre o efeito da decisão agora:

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— A última eleição me deixou meio mexida. Se eu pudesse votar em 2018, fico pensando, como seria agora? É um sentimento de que eu poderia ter feito diferente. É passado, mas é importante a gente relembrar o passado. É como aquela frase que falam, o povo que não conhece o seu passado, está fadado a repeti-lo.

A jovem explica como a polarização pode desmotivar adolescentes a votarem
A jovem explica como a polarização pode desmotivar adolescentes a votarem (Foto: Gabriela Figueiredo/ Diário Catarinense)

Segundo dados do TSE, a taxa de abstenção atingiu 22% nas eleições de 2020 entre os jovens de 18 anos, que já são obrigados a votar. Para André Jannis, a pandemia pode ter sido um fator para a ausência, mas as diferenças de comportamento político entre as faixas etárias também influenciam na estatística, como por exemplo, a necessidade do eleitor mais jovem se identificar com todas as propostas do candidato:

— O jovem pode ser idealista. Ele não vota de forma pragmática. A pessoa mais velha enxerga as opções e se tem que escolher uma entre duas, vota. O jovem já pensa que o voto pode significar dizer sim para coisas que ele não concorda, e deixa de votar. Se entre duas opções, por mais que goste mais de um do que de outro, se não aprova um ponto não vota em nenhum.

Cultura da participação

A vontade de participar dos processos eleitorais pode começar na infância. Alice conta que desde criança a mãe a levava às votações, sussurrava os números no ouvido da filha, e deixava que a estudante auxiliasse clicando nos dígitos da urna. De acordo com André Jannis, os pais e a sociedade têm um papel que muitas vezes influencia para que o adolescente não cumpra seu papel como cidadão.

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— A sociedade em um geral acredita que que os jovens não têm uma maturidade para tomar essa decisão sozinha. Dentro de casa, o pai até pode incentivar o jovem para ele vote na mesma pessoa que ele. Mas fora de casa, com o jovem genérico, a sociedade tende a desincentivar. Mas querendo ou não é uma parcela da população que tem suas necessidades próprias e acaba não tendo uma representação.

Estudante de Cinema e Audiovisual, Alice reconhece que a realidade na própria família não é maioria, e acrescenta que muitas vezes a opinião dos pais está por trás da abstenção do jovem.

— Meus pais me apoiaram muito, eles falam pra eu votar em quem eu quiser. Mas eu sei que acontece de, às vezes por pressão dos pais, que querem que você vote em determinado candidato que você não quer votar, você fica meio tremido e escolhe se abster – conta Alice.

Segundo Jannis, mostrar que o adolescente pode fazer a diferença, por meio de uma conscientização da juventude como um todo, pode ser a chave para combater a ausência da participação jovem nas eleições.

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O que é o Bora Votar

A campanha do TRE-SC quer incentivar o público jovem de 16 e 17 anos, para o qual o alistamento eleitoral e o voto são facultativos, a participar do processo democrático brasileiro. O movimento foi lançado no dia 13 de setembro e trouxe adolescentes para engajar a causa.

O Bora Votar pretende motivar a participação política por meio do engajamento das novas gerações nas redes sociais. Para isso, o TRE-SC estreou o seu perfil no TikTok, que já conta com alguns vídeos.

Os materiais também serão publicados nas demais redes sociais do Tribunal: Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Flickr, além de permanecerem disponíveis na página Meu primeiro título #BoraVotar, situada no portal do TRE-SC.

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