As mídias sociais costumam ser o cenário de debates ideológicos inflamados, e muitas vezes, polêmicos. Uma dessas discussões mais recentes diz respeito à utilização das vogais temáticas. Essa é a chamada linguagem neutra e seria uma terceira forma de tratamento para os indivíduos, que vai além dos gêneros tradicionais masculino e feminino.

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Entre os gramáticos, essa discussão tem tomado força. Existem aqueles que acreditam que o uso da linguagem neutra é respeitadora e inclusiva. Já outros afirmam que esse uso é exclusivo, visto que pode atrapalhar pessoas com dislexia, confundir na leitura labial de surdos e atrapalhar cegos que leem através de softwares.

Mas para formar uma opinião a respeito, precisamos compreender o que é a linguagem neutra e qual o seu objetivo. Saiba mais sobre esse assunto logo abaixo.

O que é linguagem neutra

A língua portuguesa, assim, como as demais, é considerada viva, ou seja, acompanha as mudanças da sociedade. A gramática é a área mais conservadora e busca preservar a norma culta. Já a linguística é a área que reconhece a transformação da língua. O latim, com o tempo, também foi mudando, e deu origem a outras línguas, como o português.

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No latim, além do masculino e feminino, existia uma terceira forma de tratamento, uma forma neutra. Mas ela caiu em desuso e a forma masculina passou a ser usada também nesses momentos. Ou seja, quando você fala “todos” ou “alunos”, por exemplo, você pode estar se referindo a um grupo só de homens, ou um grupo com homens e mulheres.

A linguagem neutra é uma estratégia para evitar o uso do masculino genérico no idioma.

Existem várias propostas para promover essa alteração. O uso do “x” e do “@”, por dificultarem a fala e a leitura, já é considerado inapropriado. Algumas alternativas, como o uso das vogais “e”, “i” ou “u”, estão sendo apresentadas.

Essa linguagem funciona trocando as letras “a” e “o”, dos finais das palavras que determinam gênero. No seu lugar, uma letra neutra é colocada. Por exemplo, as palavras “todos” e “brasileiros” seriam usadas apenas para aqueles que se identificam com o sexo masculino. De uma forma geral, seriam trocadas por “todes” e “brasileires”.

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Qual é o objetivo desse tipo de comunicação

Para os apoiadores, a linguagem neutra tem o objetivo de promover a inclusão social. Ela permite que pessoas que não se sentem representadas nem pelo gênero masculino, nem pelo gênero feminino, possam se sentir mais incluídas. A linguagem neutra tem como objetivo ser um movimento social e trazer transformação.

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Ela não é vista apenas como uma mudança gramatical, mas sim, como uma mudança de perspectiva. Falar de linguagem neutra significa falar sobre gênero e relações de poder. Permite tornar os transgêneros visíveis, e eles são uma parte da população que geralmente é posta à margem.

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Quem criou a linguagem neutra

A primeira língua oficial a adicionar um pronome neutro de terceira-pessoa, através de uma autoridade institucional, foi o sueco. A palavra “Hen”, em sueco, pode ser usada para descrever qualquer pessoa, independente da sua identificação de sexo ou gênero.

Pesquisadores observam que os falantes de línguas com gênero gramatical tendem a ter pensamentos mais sexistas. Exemplos dessas línguas são francês, espanhol e português. Os pronomes pessoais neutros ajudam a diminuir a discriminação de gênero. Exemplos desses pronomes são “they” em inglês, “ri” em esperanto e “hen” em sueco.

Essas observações estimularam algumas discussões sobre o assunto. E após algumas discussões sobre o uso do gênero masculino de forma generalizada, e na comunicação com pessoas não-binárias, surgiu a proposta da linguagem neutra.

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Diferença entre linguagem neutra e linguagem inclusiva

Algumas pessoas não sabem ao certo o que significam esses termos e acabam confundindo os seus significados ou acreditando que se trata de um mesmo conceito. Apesar de objetivos parecidos, a linguagem neutra e a linguagem inclusiva não são sinônimos.

A linguagem inclusiva ou linguagem não sexista busca uma forma de comunicação sem exclusão. Ela não quer invisibilizar nenhum grupo e nem deseja alterar o idioma da forma que conhecemos. Um exemplo clássico dessa ideia é começar discursos falando: Boa noite a todos e a todas.

A linguagem neutra também visualiza a não exclusão, mas ela vai além. Ela apresenta determinadas propostas para alterações no idioma, como algumas mudanças na grafia de algumas palavras.

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Exemplos de palavras neutras

No início foi proposto o uso de “x” e “@”. No caso, exemplo de palavras neutras seriam “todxs” e “convidad@s”. Porém, na prática, essa modificação dificulta muito a fala e a leitura. Além de não se mostrar tão inclusiva para uma parcela da população com mais dificuldade em aprender essas mudanças.

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As vogais “e”, “i”, e “u” são mais bem aceitas, em especial o “e”. Nesse caso, na hora de tratar um indivíduo, ao invés de se utilizar senhor, senhora ou senhorita, se utiliza a palavra senhore. Ao falar de um povo, ao invés de dizer brasileiros, latinos ou americanos, se diz brasileires, latines ou americanes.

Algumas frases formadas de acordo com essas modificações são:

  • Elu comeu muito.
  • Elus são parceires
  • Aquele menine é Ariel?
  • Mi namorade não tem gênero.

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Como adotar a linguagem de gênero

Se você quer começar a usar a linguagem neutra no seu dia a dia, existem algumas dicas para facilitar esse aprendizado. Ela deve ser introduzida utilizando alguns artifícios já existentes na língua portuguesa, e também é preciso aprender algumas modificações que devem ser feitas em determinadas palavras.

Evite artigos e pronomes de gênero para substantivos uniformes

Evite o uso de “o”, “a”, “nosso”, “nossa” ou qualquer palavra que determina gênero, sem necessidade. Por exemplo, na frase acima, poderia ser dito: evite OS artigos e OS pronomes de gênero. Isso iria determinar gênero sem a necessidade do uso desses artigos para a compreensão da mesma. Outro exemplo, ao invés de falar “Eu fui encontrar a Maria no shopping”, basta dizer “Eu fui encontrar Maria no shopping”.

Use artigo ou pronome indefinido sempre que possível

Ao invés de falar “da” ou “do” se deve optar por usar “de” sempre que for possível. Por exemplo, falar “Sinto falta de Maria” no lugar de dizer “Sinto falta da Maria”.

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Utilize alternativas neutras no lugar dos adjetivos

Troque determinados termos do uso habitual por outras que tenham um sentido neutro. Por exemplo, diga “palavras são substituíveis” no lugar de dizer que “as palavras podem ser substituídas”.

Substitua sujeitos pela expressão “pessoas que”

Essa dica é muito fácil e pode fazer toda a diferença. Por exemplo, ao invés de dizer que “costureiras fazem roupas interessantes” diga “pessoas que costuram fazem roupas interessantes”. Troque “cozinheiros” por “pessoas que cozinham”, “namorados” por “pessoas que namoram” e por aí vai.

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Troque os sujeitos no plural pelo nome do agrupamento

Serve para evitar a generalização para o masculino. Por exemplo, não diga “alunos”, diga “corpo discente”.

Substitua as letras “a” e “o” por “e”, “i” ou “u”

Por fim, faça as modificações no final das palavras que definem gênero para torná-las palavras neutras como senhore, todes e brasileires.

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Oposição

Nenhuma ideia é unânime e o conceito de linguagem neutra também não é. Muitas pessoas vão de encontro a essa ideia e apresentam os seus argumentos para rebater essa proposta. Essas pessoas se baseiam no argumento de que o gênero masculino é considerado neutro e, portanto não são necessárias modificações na linguagem.

Além disso, eles explicam que a linguagem neutra não é verdadeiramente inclusiva. Elas apontam dificuldades que pessoas com dislexia teriam para aprender esse novo conceito. Além disso, surdos que fazem leitura labial, teriam que reaprender essa habilidade. E os softwares usados por cegos vão precisar de atualização geral.

Eles afirmam que existe uma parcela muito maior da população que se prejudicaria com essas mudanças. E que os benefícios não seriam suficientes para justificar toda essa transformação.

Conclusões

A linguagem neutra é uma proposta que já está sendo usada por uma parcela da população com o objetivo de proporcionar inclusão social. Ela possui finalidade parecida, mas esse termo não é sinônimo de linguagem inclusiva.

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Essa linguagem deseja fazer com que pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino se sintam incluídas na sociedade. E foi criada com base em discussões a respeito do tema, após a observação que falantes de línguas com gênero gramatical, como português e francês, tendem a ter pensamentos mais sexistas.

Para usar a linguagem neutra, é preciso utilizar artifícios da própria língua portuguesa, como evitar artigos definidos e utilizar pronomes indefinidos, sempre que possível. Além disso, é necessário aprender algumas modificações, como a troca das letras “a” e “o” por “e”, “i” e “u”, no final de palavras que determinam gênero.

E como toda ideia, existem pessoas que são a favor da sua implantação, e existem aqueles que são contra. Então, observe os argumentos apresentados pelas duas partes, analise e forme uma opinião. Siga de acordo com a sua ideia formada, mas não imponha isso aos demais. Apresentar argumentos e discutir difere de impor e brigar.

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