A comitiva de oito senadores brasileiros que viajou aos Estados Unidos para tentar negociar o fim ou o adiamento do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros encerrou as agendas nesta quarta-feira (30). Em uma coletiva que marcou o término da missão, os parlamentares fizeram um balanço da viagem e admitiram que não houve um avanço concreto que sinalize um recuo sobre o início do tarifaço, anunciado para esta sexta-feira (1º). Apesar disso, indicaram que as reuniões serviram para abrir canais e construir pontes para uma negociação que deve continuar mesmo depois do início da nova tarifa.
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O grupo de senadores, que inclui o catarinense Esperidião Amin (PP-SC), esteve reunido desde segunda-feira (28) com empresários, membros da Câmara Americana de Comércio e com parlamentares do Partido Democrata e do Partido Republicano. A comitiva volta ao Brasil nesta quarta-feira sem um avanço concreto sobre uma possível reversão ou adiamento do início do tarifaço contra o Brasil, mas, em coletiva, informou que o encontro serviu para “semear” uma negociação que deve ter sequência mesmo após a aplicação da sobretaxa.
— Conseguimos distensionar a relação. Fomos recebidos por nove parlamentares, sendo oito democratas e um republicano. Conseguimos passar para eles a necessidade de manter o diálogo diante do caminho que teremos pela frente — afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e que coordenou a missão nos EUA.
Veja fotos das reuniões dos senadores nos EUA
Apesar de não terem uma indicação clara de possível reversão da medida, os senadores ainda indicaram esperança de um possível adiamento ou possíveis avanços setoriais. Um exemplo citado foi a possibilidade de isenção a produtos não cultivados nos Estados Unidos, como o café e outras mercadorias perecíveis. A chance de excluir esses produtos do tarifaço foi cogitada pelo secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.
O senador catarinense Esperidião Amin considerou que a missão conseguiu mostrar às autoridades norte-americanas que o tarifaço causaria prejuízos a ambos os países.
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— Nosso clamor para que haja prorrogação nesse prazo, que é um prazo absurdo, ganhou eco em todos. Todos os empresários concordam que anunciar numa carta uma sobretarifa para vigorar em 20 dias é realmente não querer negociação. E nós estamos aqui para pedir negociação — sustentou Amin.
Sanções por compras com Rússia viram novo “ponto de atenção”
Se a negociação do tarifaço permanece sob impasse, a missão dos senadores volta ao Brasil com um alerta para um novo “ponto de atenção” ao país. Nas conversas com parlamentares democratas e republicanos dos EUA, os brasileiros foram avisados sobre um projeto de lei em tramitação no Congresso norte-americano que pretende aplicar sanções econômicas a países que negociam com a Rússia. O projeto, que se aprovado pode prever taxas de até 500%, seria uma forma de inibir outros países de comprar produtos do mercado russo, sob o argumento de que esses recursos ajudam o país de Vladimir Putin a financiar a guerra com a Ucrânia. Nestsa semana, Trump anunciou uma sobretaxa de 25% para a Índia exatamente pelas negociações mantidas com o mercado russo.
O Brasil está entre os países que negociam com a Rússia, com destaque para a compra de óleo diesel e fertilizantes, e que poderia estar sujeito às novas sanções.
— Não será uma decisão do presidente, será uma decisão do Congresso. Então, o Brasil tem tempo para se preparar para buscar consenso, diálogo, como não teve nessa questão agora do tarifaço — afirmou o senador Carlos Viana (Podemos-MG).
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O parlamentar reforçou o alerta sobre os possíveis impactos da sanção:
— A política externa brasileira está sendo avisada de que há algo que pode nos atingir com mais força nos próximos 90 dias.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS) também reforçou que o assunto foi levado aos senadores brasileiros nas reuniões nos EUA.
— A compra de óleo e fertilizante é um assunto sensível e tem que estar no nosso relatório. Foi assunto que ouvimos não só de parlamentares, mas também da iniciativa privada — afirmou.
Ao falar sobre o assunto, o senador Jaques Wagner (PT-BA) ponderou que as negociações com a Rússia ocorrem por serem importantes para as atividades econômicas brasileiras.
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— Temos um agronegócio potentíssimo e uma dependência praticamente de 100% de fertilizantes (da Rússia). Não tem no classificado do anúncio do jornal. Ninguém faz o que quer, faz o que precisa, não tem fertilizantes sobrando por aí. Então, você não tem como deixar de comprar — defendeu o parlamentar.
Negociações com Executivo
Os senadores defenderam que o papel direto de negociar cabe ao Executivo, e que o grupo buscou abrir caminhos de negociação também por meio do parlamento.
— Essa história está só começando. Ninguém tinha pretensão de sair daqui com isso resolvido. É muito importante que isso seja passado de forma clara. A gente conseguiu, sim, abrir canal de conversa tanto do lado democrata quanto do lado republicano, [mostrando] que com esta atitude, perde o Brasil e perdem os Estados Unidos — avaliou Nelsinho Trad.
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