Dona Maria do Carmo olha perplexa para a casa que ganhou do filho há 15 anos. Funcionária de um posto de saúde no Alto Canoas, em Luiz Alves, ela ficou ilhada no trabalho quando um temporal alagou a cidade. O que ela não imagina é que o próprio lar, a 10 quilômetros de distância dali, já ameaçava cair.
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A casa de dona Maria fica na Rua Arlindo Lins de Oliveira. Não chegou a entrar água durante o temporal. O problema é que no fundo da residência passa um rio e a força da enchente levou parte da fundação, como mostram as imagens do fotógrafo Patrick Rodrigues.
Assustada, e com razão, ela decidiu dormir na casa da filha. Medicada para a pressão não subir, ela levantou nesta terça-feira (25) e começou a tirar alguns móveis da casa. Até que decidiu não mexer mais.
— Não é seguro ficar aqui dentro. Olha onde já está a rachadura — afirma ao apontar para o que sobrou do quintal onde fica o canil.
Com motivos, Maria do Carmo não foi ajudar na limpeza da Unidade Básica de Saúde Rio Canoas, onde trabalha. Por lá, uma força-tarefa da prefeitura lava as paredes e o piso. Todos os móveis estão na calçada. Os computadores foram recolhidos para ver se ainda será possível usá-los. Medicamentos foram perdidos. As vacinas que estavam na geladeira não chegaram a molhar, mas agora precisa passar por uma avaliação para saber se podem ser usadas. Reabrir as portas à comunidade, só na próxima semana, acredita a prefeitura de Luiz Alves.
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Veja fotos de Luiz Alves após enchente
Cidade com maior registro de chuva
A cidade de Luiz Alves, no Vale do Itajaí, foi onde mais choveu em Santa Catarina nesta segunda-feira (24). Os dados da Defesa Civil do Estado mostram 160 milímetros em 24 horas, o que equivale a 160 litros de água por metro quadrado. Mais da metade disso caiu em um intervalo de apenas três horas, pegando moradores de surpresa.
O governo estadual estima que pelo menos 150 pessoas precisaram sair de casa às pressas. Alguns desses acabaram precisando de ajuda para deixar os imóveis. Segundo o Corpo de Bombeiros Militar, a corporação atuou com botes para resgatar 26 pessoas que ficaram ilhadas e não conseguiram sozinhas buscar abrigo seguro.
Na manhã desta terça-feira (25), já não tinha mais água nas ruas, que antes pareciam verdadeiros rios. O trabalho agora é contabilizar os prejuízos e definir como recuperar a cidade de pouco mais de 11 mil habitantes, conhecida nacionalmente pela produção de banana e de cachaça.
Chuva torrencial surpreendeu moradores
A prefeitura precisou pedir ajuda para cidades vizinhas para conseguir prestar assistência aos moradores. Com apenas um barco à disposição, Luiz Alves conseguiu com a Defesa Civil de Itajaí mais uma embarcação e outra com o Corpo de Bombeiros Militar de Navegantes.
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Com a locomoção comprometida, o governo municipal ainda não tem um levantamento sobre quantas famílias foram, de fato, atingidas. Nesta segunda-feira, um sobrevoo feito pela prefeitura apontou que ao menos um terço da área urbana da cidade havia sido afetada.













