A investigação que apura o desvio milionário de doações feitas por meio da fatura da Celesc descobriu que o número de clientes atingidos é maior do que o imaginado. Cerca de 14.600 unidades consumidoras foram fraudadas em seis cidades de Santa Catarina. O prejuízo já é calculado em, pelo menos, R$ 10 milhões. Em dois anos e meio, o valor enviado a instituições como hospitais e clínicas não chega nem à metade do total desviado pelo grupo investigado na Operação Falso Samaritano, deflagrada em 5 de setembro. Os novos dados, com atualização sobre o esquema, foram divulgados nesta terça-feira (16) pela NSC TV.

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— Um percentual mínimo desses valores estavam sendo encaminhados às entidades, até para não levantar uma desconfiança de que essas doações não estavam acontecendo, porém em valores muito menores e fora dos contratos estabelecidos. Portanto, pelo menos 14.600 vítimas, unidades consumidoras de diversas diversas cidades do Estado, caíram nesse esquema criminoso e doaram para uma instituição filantrópica, mas na verdade o recurso foi para essa estrutura criminosa — explica o delegado regional de Joinville, Rafaello Ross.

Novidades na investigação da fraude

De acordo com Ross, o esquema criminoso era comandado diretamente de Joinville, cidade do Norte catarinense. Com a evolução da investigação, a Polícia Civil conseguiu identificar que a Slaviero Benefits, empresa “especializada” em arrecadar doações, foi contratada por, pelo menos, 15 entidades do Estado.

Veja imagens da operação

O aprimoramento da fraude levou o grupo a expandir sua atuação e conseguir fraudar doações de instituições de Blumenau, Brusque, Indaial, Chapecó e Xanxerê. A terceirizada era contratada para gerenciar o sistema de donativos que utilizava a fatura de energia elétrica da Celesc.

A investigação constatou que a empresa terceirizada não manteve todos os arquivos dos aceites das ligações telefônicas dos doadores. Ou seja, não há a comprovação de que todas as pessoas realmente aceitaram doar por meio de descontos na fatura de energia elétrica.

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— O próximo passo [da investigação] vai ser individualizar quais unidades consumidoras realmente não deram o aceite. Então, isso vai configurar o que a gente já percebeu na prática: descontos indevidos de pessoas que não autorizaram, incluídos na fatura de energia da Celesc — revela o delegado.

Apreensões e prisões

Três homens foram presos no dia em que a Operação Falso Samaritano foi deflagrada por liderarem o esquema que atingiu 14.600 unidades consumidoras no Estado. Ele permaneceram detidos por cinco dias e foram liberados.

Durante a ação, a Polícia Civil encontrou produtos de luxo usados para lavar o dinheiro. Segundo o delegado regional, o grupo utilizava diversas frentes para disfarçar a origem dos bens e dar uma imagem de licitude ao patrimônio.

— Uma das formas que nós identificamos foi uma coleção de whiskys importados, estimado em torno de R$ 40 mil, que foi apreendido pela Polícia Civil, encaminhado à Polícia Científica para análise e perícia. Possivelmente foram utilizados como um modo de garantir o valor da lavagem de dinheiro e preservar aquele patrimônio inicialmente desviado dessas entidades — relata Ross.

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Conforme o delegado, a Polícia Civil vai continuar as investigações para, efetivamente, desbaratar o esquema criminoso, identificar todas as entidades filantrópicas que não receberam os valores e, sobretudo, para onde foram as quantias desviadas.

— Nós não descartamos a hipótese envolvendo outras pessoas. Até porque o que temos em relação a esses três investigados são elementos robustos, concretos e aptos a indiciá-los no inquérito policial. Entretanto, já estamos trazendo novas informações com as diligências de campo e estamos percebendo que, possivelmente, há outras pessoas que aderiram a esse esquema criminoso para efetivar o desvio dessas instituições — revela.

Relembre fraude nas doações por meio da Celesc

A empresa joinvilense, alvo da operação, se define como especialista em captação de recursos para Instituições Filantrópicas. Em 2016, a Slaviero estabeleceu o primeiro contrato com Hospital Bethesda de Joinville, prejudicado pelo esquema de estelionato.

Segundo a Polícia Civil, a empresa funcionava como uma terceirizada, que ligava para potenciais doadores que aceitam fazer doações à instituições por meio de cobranças na fatura de energia elétrica. O mesmo modelo de convênio é adotado com diversas entidades, como o Corpo de Bombeiros Voluntários, APAEs, Rede Feminina de Combate ao Câncer, hospitais filantrópicos, Fundação Pró-Rim, Legião da Boa Vontade, entre outras.

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Segundo o Hospital Bethesda, uma das vítimas do esquema, o fluxo do repasse dos recursos acontece diretamente da Celesc para a instituição a receber o pagamento das doações arrecadadas. Para que aconteça esse repasse, cada empresa é identificada por códigos, para organização interna pela companhia de energia.

No entanto, a terceirizada contratada pelo Bethesda repassava códigos diferentes daqueles correspondentes às instituições que deveriam receber as doações. Ou seja, a empresa intermediadora fazia o contato com os doadores, recebia os dados em nome do Bethesda, mas ao enviar a lista para a arrecadação na fatura da energia elétrica, o código correspondia a outra instituição, que recebia valores de maneira indevida.

Assim, uma outra instituição de Joinville, recebia de forma fraudulenta as doações que deveriam ser destinadas às instituições filantrópicas. Além disso, a empresa também burlou o sistema da Celesc para inserir cobranças não autorizadas pelos consumidores. 

De acordo com a Polícia Civil, a trama criminosa vitimou ao menos sete mil consumidores mantidos em erro, que tiveram descontos irregulares na fatura de energia elétrica por anos. O sistema informatizado de proteção e desconto das doações foi burlado com o objetivo de obtenção de vantagem ilícita em benefício próprio da empresa intermediadora entre Celesc e instituição que deveria receber as doações.

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O NSC Total tentou contato com Slaviero Benefits, empresa investigada pelos desvios, e o empresário Slaviero Mario Bunn, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.

*Com informações de Walter Quevedo, NSC TV.

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