Uma megaoperação foi realizada nesta quinta-feira (28) em São Paulo para desarticular um esquema criminoso bilionário no setor de combustíveis, que promovia adulteração com metanol. Segundo informações do g1, o uso do metanol pode causar danos ao motor logo no primeiro tanque cheio.

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De acordo com investigações da operação, o combustível da facção criminosa envolvida chegava a ter 90% de metanol na composição.

O que é o metanol e como ele prejudica o carro

O metanol é uma substância química presente na composição do biodiesel, mas que pode provocar danos significativos em veículos que utilizam gasolina ou etanol. Especialistas alertaram para os riscos graves que o metanol representa aos veículos.

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— O principal problema é a corrosão das peças que entram em contato direto com o produto — explicou o técnico e professor de mecânica automotiva, Tenório Júnior.

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— Antes mesmo de estragar as partes do motor, o metanol acaba queimando a bomba de combustível. Se a pessoa rodar com esse produto, que é corrosivo, tem carro que não aguenta andar nem durante um tanque — alerta Bruno Bandeira, mecânico e proprietário de uma oficina.

De acordo com o g1, apesar de alguns veículos conseguirem tolerar a presença do metanol no tanque, a substância química pode corroer os seguintes componentes:

  • Bicos injetores;
  • Flauta de combustível;
  • Câmara de combustão;
  • Guia de válvulas;
  • Bomba de baixa pressão;
  • Bomba de alta pressão.

— Com o tempo, o motor que sofre com a contaminação do combustível pode até não ligar. “Tem carro que, pela manhã, nem liga. Pelo combustível, ele trava onde fica a haste de válvula do cabeçote. O metanol cria uma goma — revela Bruno.

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O mecânico acrescenta ainda que há possibilidade dos componentes internos da bomba de alta pressão desaparecerem, ao se desgastarem por causa da compressão acima do esperado causada pelo metanol.

Bruno afirma que a adulteração tem se tornado cada vez mais frequente, sendo mais comum com metanol do que com etanol misturado à gasolina.

Como identificar combustível adulterado

Segundo o mecânico Orli Robalo, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um dos sinais mais comuns de carro abastecido com combustível adulterado é visto nas luzes no painel.

— O combustível alterado faz com que sature a leitura dos sensores e faz ligar essa luz— aponta o especialista.

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Outro sinal claro de mal abastecimento é a perda de potência, segundo Denis Marum, mecânico com formação em engenharia mecânica.

— Assim que você abastece, o pedal do acelerador fica ‘borrachudo’. Você sente que precisa acelerar mais para obter a mesma velocidade — diz.

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Outros indícios

Segundo o especialista, há outros sinais que demonstram problemas com o abastecimento.

  • Consumo elevado: “geralmente, o consumo médio despenca 30%. É fácil de perceber para quem faz o mesmo percurso diariamente: o tanque dura menos”, diz o especialista;
  • Dificuldade para pegar pela manhã;
  • Ruído do motor semelhante ao de uma corrente de bicicleta trocando de marcha: “Esse ruído ocorre nas saídas e, principalmente, em subidas, momentos em que o motor é mais exigido”, aponta;
  • Odores estranhos saindo do escapamento;
  • Cheiro de solvente ou querosene.

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José Luiz de Souza, especialista da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), afirmar que é possível identificar o combustível adulterado antes mesmo de abastecer.

Para isso, você precisa coletar 50 ml de gasolina e misturar com a mesma quantidade de água e sal. Depois de misturado, o etanol que estava na gasolina se junta à água e, após cerca de 10 minutos, os líquidos se separam, com a gasolina ficando na parte superior do recipiente.

Como a gasolina brasileira pode conter até 30% de álcool, a separação entre os líquidos deve ocorrer na marca de 65 ml, se você estiver usando uma proveta. Em alguns postos, a legislação mais recente permite até 30% de etanol.

— Se tiver abaixo disso a gasolina não está em conformidade. Se estiver a cima, tem mais álcool que o permitido—  afirma José Luiz de Souza, especialista da ANP.

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Metanol se camufla com mais facilidade

Segundo Tenório Júnior,  o metanol age diferente e pode ser camuflado com mais facilidade. 

—  Ele tem alta capacidade de combustão e água não. Além disso, nos testes a água separa totalmente do combustível, metanol não—  diz o mecânico.

Segundo a ANP, o metanol é um dos compostos orgânicos mais relevantes na indústria química e é usado como matéria-prima na fabricação de produtos como adesivos, solventes, pisos e revestimentos.

A agência aponta que os produtores do biodiesel correspondem a 52% do consumo de etanol no território nacional. O restante está aplicado em produtos como formol, resinas e na preparação de madeiras e compensados.

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De acordo com as resoluções 807/2020 e 907/2022, a ANP permite um limite máximo de apenas 0,5% de metanol na composição da gasolina e do etanol.

— Toda unidade revendedora, bem como a distribuidora, precisa ter o kit de análise do combustível. Esse mesmo kit pode ser utilizado, caso o consumidor tenha alguma dúvida—  comenta Luciano Santos, coordenador do Sindipostos do Piauí.

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