A eleição para o Senado vem sendo apontada como sinônimo de disputa acirrada nas eleições de 2026. Em Santa Catarina, mesmo a um ano do duelo nas urnas, as indicações para as duas vagas de senador nas chapas já tem motivado disputas internas. É o caso da chapa ligada ao governador Jorginho Mello (PL), que tem apenas duas candidaturas disponíveis para três nomes cotados, após a entrada no jogo do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) como possível indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro. O atual senador Esperidião Amin e a deputada federal Carol de Toni articulam com as lideranças do partido de olho na vaga restante, mas as definições ainda devem se estender ao longo do próximo ano.

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Não é apenas em Santa Catarina que o cargo de senador se tornou espaço valioso. Antes de começar a cumprir prisão domiciliar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vinha fazendo apelos a eleitores e aliados de todo o país para eleger o maior número possível de representantes do seu grupo político para a Casa, chamada de “Câmara Alta” por revisar as leis aprovadas por deputados. 

Entre os motivos deste interesse está o papel estratégico das decisões no Senado, que envolvem, por exemplo, a aprovação de indicações do presidente da República para tribunais superiores e até mesmo o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora tenha sido menos explorado durante o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe, a medida já foi defendida por bolsonaristas contra ministros vistos como adversários políticos do grupo, como Alexandre de Moraes. Em um dos protestos em favor do projeto de anistia antes de ir para prisão domiciliar, Bolsonaro chegou a apelar aos apoiadores: 

— Me deem 50% da Câmara e do Senado que eu mudo o destino do Brasil, nem preciso ser presidente — afirmou. 

Veja nomes cotados para disputa ao Senado por SC em 2026

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O fato de o cargo eletivo ser o único com mandato de oito anos é outro atrativo, já que os eleitos garantem quase uma década de influência e poder político. Das 81 cadeiras do Senado, 54 estarão em disputa nas urnas em 4 de outubro do ano que vem. A renovação de dois terços da Casa é outro atrativo, porque permite mais possibilidades de composição nas chapas. 

Nesse cenário, o PL, partido do ex-presidente, tem mobilizado nomes de peso para disputar as vagas ao Senado. Michelle Bolsonaro, no Distrito Federal, e o filho do ex-presidente, Carlos Bolsonaro, que concorreria por Santa Catarina, são alguns dos exemplos que entrariam na disputa para formar uma grande bancada bolsonarista no Senado a partir de 2027. 

Como reação, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também passou a mapear nomes famosos para concorrer a senador nos estados. Os ministros Fernando Haddad (PT), Simone Tebet (MDB) e até o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), por exemplo, são cotados para a disputa do Senado por São Paulo, importante colégio eleitoral nacional. 

Os motivos do interesse

O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Tiago Daher Padovezi Borges, explica que a eleição ao Senado é importante por ser uma disputa majoritária, que exige dos candidatos uma base eleitoral mais ampla, diferente dos deputados, que podem renovar seus mandatos com atuação focada em um nicho menor e de interesses mais específicos. A consequência disso costuma ser um parlamento mais sensível a manifestações públicas sobre pautas em discussão. 

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Na avaliação do especialista, nos últimos anos o Senado tem sido um elemento de contenção a algumas pautas que conseguem avançar na Câmara dos Deputados. Um exemplo ocorreu este mês, quando a PEC da Blindagem foi aprovada pelos deputados em um acordo entre bolsonarismo e Centrão que envolvia também o projeto de anistia, mas acabou barrada no Senado após manifestações populares contra a medida. 

— Isso tem gerado uma propensão de setores do PL, principalmente aqueles que estão mais engajados em um tipo de sobrevivência de um grupo político específico [ligado a Bolsonaro]. O Senado tem sido visto como uma arena fundamental para tornar o Congresso de uma maneira geral com uma maioria mais conservadora, mais propensa a essa agenda, sem muita oposição — explica. 

Padovezi Borges acrescenta que o papel importante do Senado nas indicações ao STF e até mesmo em processos de impeachment de ministros torna a Casa um espaço capaz de representar algum tipo de controle ou incômodo à Suprema Corte, o que também interessa ao grupo bolsonarista. 

— É uma arena em que passam regimentalmente as indicações e tem essa pressão que tem se falado bastante por essa fatia aliada ao Bolsonaro. Desde a época que ele era presidente se falava nisso. É um grupo pouco propenso a aceitar os contrapesos institucionais, e (busca) reverter esses contrapesos no sentido de acabar com eles — analisa. 

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O movimento do PT de também escalar nomes de peso para a disputa do Senado nos Estados é vista como uma reação do grupo ligado ao Lula, para impedir que os espaços do Congresso sejam preenchidos majoritariamente pelo grupo da direita. 

— É possível que a esquerda reaja e existe essa competição muito centrada no Senado, pelo papel que tem desempenhado na agenda da Câmara e no seu papel em relação ao STF — analisa. 

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