Mais de 80% dos casos de furto e roubo de cargas em Santa Catarina contam com a participação dos próprios caminhoneiros, que alegam ser vítima de criminosos nas estradas do Estado. Apenas em 2025, 15 investigações já foram iniciadas pela Delegacia de Investigação de Furtos e Roubos de Cargas (DFRC).
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Segundo o delegado da DFRC/DEIC, Juliano Baesso, muitas vezes os motoristas aceitam ser corrompidos pelas quadrilhas especializadas por causa da promessa de dinheiro fácil. Os alvos atraídos pelos criminosos transportam, principalmente, frango, carne suína, peças automotivas e eletrodomésticos.
Como motoristas ajudam em roubo de cargas
Segundo a Polícia Civil, como primeiro passo na simulação de um assalto, os profissionais registram falsos boletins de ocorrência, que podem até ser realizados em outros estados do Brasil. O delegado Baesso relata que, para dificultar a ação policial, os motoristas denunciam apenas dias depois dos supostos assaltos.
— A grande maioria dos registros de roubo acabam não sendo verdadeiros. A gente vem apurando que os motoristas acabam sendo corrompidos muitas vezes por essas organizações criminosas. Às vezes, o motorista está transportando uma carga que não interessa tanto, mas é aquele motorista que aceitou ser corrompido — relata o delegado.
Conforme investigações da Polícia Civil, facções conhecidas em todo o Brasil tem migrado sua atuação para o roubo e furto de cargas. De acordo com Baesso, São Paulo é outro estado que tem registrado grande volume desse tipo de crime.
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Suspeitos, inclusive, saem do estado paulista e vem até Santa Catarina para abordar e recrutar caminhoneiros na região. Pessoas que já trabalharam em empresas de rastreamento, com experiência na área, também se vinculam com as organizações criminosas e ajudam a concluírem os assaltos.
— Já tivemos interrogatórios de motoristas que alegaram que o valor do frete era muito baixo, que tinham dificuldades financeiras. E cada vez mais pedágios, valores altos que incomodam. Acabam tendo dificuldades em casa e aí acabam sendo seduzidos por essas propostas. E a gente sempre informa para essas pessoas que elas acabam prejudicando totalmente a carreira. Porque não é só a questão de serem penalizadas pelo crime, mas isso vai gerar uma dificuldade de serem contratadas por novas empresas — afirma Baesso.
Regiões de portos são visadas por criminosos
O Vale do Itajaí, Norte e Litoral Norte registram o maior número de roubos e furtos a cargas em Santa Catarina. Isso acontece, segundo Baesso, devido à presença de grandes portos na região, o que aumenta o trânsito de caminhões e carretas.
— E, além de tudo, é uma região de divisa com outros estados, como o Paraná. A gente verifica incidência de caminhões que saem do Rio Grande do Sul e cruzam essa região da BR-101. E da mesma forma, caminhões que vêm de São Paulo em direção ao Sul do estado que passam por essa região. Então, realmente é uma região que tem maior incidência de furtos e roubos de cargas — afirma o delegado.
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Crimes em SC
Desde 2018, a DFRC/DEIC atua em Santa Catarina. Nos últimos quatro anos, os roubos e furtos de cargas têm diminuído no Estado: passaram de 55 casos em 2022 e 2023, para 45 no ano passado. Com os 15 registros do primeiro semestre de 2025, a tendência continua sendo de redução.
Segundo a Polícia Civil, 26 pessoas que tiveram envolvimento nas ações foram presas em 2025. Além disso, R$ 3.138.257,05 foram recuperados, entre cargas, peças de caminhões e outros bens.
Segurança nas estradas
Vilson Gomes é caminhoneiro há mais de 30 anos e conhece bem os perigos da estrada. Ele já foi assaltado por um grupo de pessoas e, após esse episódio, a empresa para qual trabalha iniciou uma série de melhorias para garantir a segurança dos motoristas.
— Estava indo para o Rio de Janeiro, quando tinha atravessado o estado de São Paulo. Ali um carro me alcançou e dava para ver que tinha mais de uma pessoa. Queriam a carga ou queriam o caminhão — relembra.
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O profissional conta que, atualmente, todas as suas viagens são monitoradas, além de ações como paradas e entregas concluídas. Tudo isso é possível por meio de um computador de bordo instalado no veículo.
O diretor comercial da transportadora, com sede em Araquari, relata que há mais de 100 caminhões e motoristas da empresa circulando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Todos os trajetos são monitorados em uma sala de gerenciamento de risco.
— E qualquer ocorrência na viagem, acidente na rodovia que vai atrasar nos permite verificar junto ao cliente se ele consegue receber a carga no mesmo dia. Ou, para que o veículo não chegue e fique num lugar exposto fora do local determinado pela seguradora, ele para antes e continua viagem no dia seguinte, para entregar na parte da manhã. Sem a tecnologia seria impossível a gente realizar o que realiza hoje — expões Braga.
*Com informações do repórter da NSC TV, Walter Quevedo
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