Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, é apontado pela Polícia Federal (PF) como o “facilitador” no esquema de fraudes dos descontos indevidos de aposentados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Segundo a investigação, ele teria transferido R$ 9,3 milhões para pessoas relacionadas a servidores do instituto entre 2023 e 2024. As informações são do g1 e do Jornal Nacional.
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O amplo esquema de fraudes e desvios de dinheiro de aposentadorias e pensões do INSS foi revelado por uma investigação da PF. Antunes, o “careca do INSS”, é apontado pela polícia como figura central do caso.
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Na última quarta-feira (23), foi deflagrada a operação “Sem Desconto”, que resultou no afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
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Segundo a PF, o esquema funcionava da seguinte forma: associações que ofereciam serviços a aposentados cadastravam pessoas sem autorização, com assinaturas falsas, para descontar mensalidades dos benefícios pagos pelo INSS. Os prejuízos, entre os anos de 2019 e 2024, podem chegar a R$ 6,3 bilhões.
“A partir da análise detalhada das transações financeiras identificadas na presente IPJ, é possível concluir que o esquema em questão envolve uma rede de empresas e pessoas físicas que atuam de forma coordenada para movimentar recursos advindos de um esquema ilícito, utilizando mecanismos complexos de envio e recebimento de valores entre as partes envolvidas”, diz o inquérito.
Dois diretores e o procurador-geral do INSS receberam milhões de reais para manter as fraudes, segundo as investigações. A PF afirmou à Justiça que a cúpula do INSS, presidida por Alessandro Stefanutto, tomou medidas práticas para garantir a manutenção dos desvios. Em troca, o grupo recebeu propina do esquema criminoso.
“Essas funções diretivas dos investigados se encontram diretamente vinculadas à cadeia decisória responsável por conferir guarida à perpetuação dos descontos associativos ilícitos praticados. É inaceitável que os investigados, descambando para a ilegalidade, valham-se das relevantes funções que o Estado lhes confiou para enriquecer ilicitamente, sobretudo quando verificado concretamente que o cargo público teria sido utilizado para viabilizar a empreitada criminosa”, diz o inquérito.
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Os descontos irregulares dos aposentados começaram em 2019, diz o relatório. As investigações apontam, ainda, que três dirigentes afastados estão envolvidos diretamente na aprovação dos descontos sem o consentimento dos aposentados. São eles:
- O então procurador-geral do INSS, Virgílio de Oliveira Filho;
- O ex-diretor de Benefícios, André Paulo Fidelis;
- E o ex-diretor de Governança, Alexandre Guimarães.
Juntos, os três teriam recebido ao menos R$ 17 milhões do esquema desde 2022 até 2024. Alexandre Guimarães alega que nunca recebeu dinheiro de maneira ilegal. Já a defesa de Alessandro Stefanutto afirma que ele é inocente. O Jornal Nacional não obteve retorno dos outros citados.
Steffanutto e cinco servidores foram afastados na semana passada, com base no relatório da PF.
Empresas receberam milhões para manter fraudes, diz PF
Empresas de Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do procurador-geral do INSS afastado, Virgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, receberam R$ 7,5 milhões de Antunes, conforme a investigação da PF.
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Outra empresa apontada de receber dinheiro para manter as fraudes é o escritório de advocacia de Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, André Paulo Felix Fidelis. Segundo a PF, ele recebeu R$ 1,5 milhões.
“Ao todo, portanto, pessoas físicas e jurídicas relacionadas a André Paulo Félix Fidelis receberam R$ 5.186.205,0041 das empresas intermediárias relacionadas às entidades associativas”, continua o inquérito.
Alexandre Guimarães, o ex-Diretor de Governança, Planejamento e Inovação do INSS, recebeu diretamente de Antunes (“careca do INSS”) R$ 313 mil.
Outras transações suspeitas
Também investigada pela PF, a empresa da irmã de Virgílio Oliveira Filho, Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira, recebeu R$ 630 mil do escritório de advocacia de Cecília Rodrigues Mota.
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Cecília, para a polícia, é uma operadora financeira do esquema em função da posição estratégica. A advogada presidiu duas associações ao mesmo tempo entre 2017 e 2020.
Já a companheira de Virgílio, Thaisa Jonasson, é sócia de quatro empresas. Uma delas, “Curitiba Consultoria em Serviços Médicos S/A”, foi a principal destinatária de recursos por parte do lobista Antonio Carlos Antunes.
A empresa THJ Consultoria, outra empresa de Thaisa, recebeu R$ 3,8 milhões de intermediários relacionados às associações, entre 2023 e 2024.
As investigações apontam ainda que um dos veículos sob a propriedade ou posse de Antonio Carlos, um Porsche Taycan 2022, passou a ser usado pela esposa de Virgílio Filho, procurador-geral do INSS afastado. O veículo custa entre R$ 660 mil e R$ 1 milhão.
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Quem é o “careca do INSS”?
Antônio Carlos Camilo Antunes, de 61 anos, é o “facilitador” no esquema de fraudes nos descontos indevidos de aposentados, segundo a PF.
“O ‘Careca do INSS’, desempenha o papel de facilitador no esquema, atuando como consultor para várias entidades que firmaram acordos de cooperação técnica com o INSS”, diz a investigação.
Antunes aparece no relatório como sócio de 21 empresas, sendo que 19 delas foram criadas a partir de 2022. Ao menos quatro “estão envolvidas e são utilizadas na ‘farra do INSS'”, segundo a investigação.
“Com efeito, verificou-se que as empresas de Antonio Carlos Camilo Antunes operaram como intermediárias financeiras para as entidades associativas e, em razão disso, receberam recursos de diversas associações que, em parte, foram destinados a servidores do INSS”, aponta um trecho do documento.
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Segundo apuração do Jornal Nacional, a PF faz agora a extração de dados dos celulares apreendidos na operação que apura as fraudes. Para os investigadores, essa análise é considerada prioridade. Após essa etapa, os suspeitos serão interrogados pelos delegados.
A reportagem entrou em conta com a defesa de Antônio, mas não obteve retorno até a publicação.
*Sob supervisão de Luana Amorim
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