Sônia Santos Lima de Carvalho, de 60 anos, é educadora, gestora pública e referência na luta antirracista através da Associação de Mulheres Antonieta de Barros (AMAB). Com trajetória marcada por sabedoria e coragem, ela transformou a educação em sua principal bandeira de luta, aliando ancestralidade, resistência e formação crítica.

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Sônia é uma das quatro painelistas do evento Antonietas: Potências Negras, que ocorre nesta sexta-feira (25), para celebrar o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. O evento será às 9h, no Auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) em Florianópolis, e terá uma programação de trocas e bate-papo com mediação da jornalista da NSC Carol Fernandes. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo link.

Conheça a trajetória de Sônia

Criada no bairro Estreito, em Florianópolis, neta de Dona Geninha — a primeira mulher a presidir uma escola de samba na capital catarinense — e filha de Ada Carvalho, Sônia cresceu cercada por mulheres fortes. Em casa, a liderança sempre foi feminina. A avó, inclusive, foi que ensinou a importância da organização e da tomada de decisões.

— Minha avó sempre teve muita liderança e eu andava muito com ela. Acho que fui aprendendo como lidar com as pessoas, com a coordenação de espaços… Fui me formando assim — conta.

Sônia cresceu em uma rua onde a família era a única negra. Tendo que lidar com situações de racismo desde cedo, ainda na infância desenvolveu a consciência racial. Em casa, a avó lhe ensinava que a história do povo negro ia muito além do sofrimento: era também feita de sabedoria, resistência e conquistas.

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— Foi preciso desenvolver essa consciência! Porque todo tempo isso aparecia. Eles questionavam minha vó, perguntavam quem era a verdadeira dona daquela casa. E éramos nós — relembra.

Na escola, o dia 13 de maio — data da abolição formal da escravatura — era uma data incômoda. Ela sentia que era o único momento em que estava em evidência, mas não por fatores positivos como trazer à tona “o conhecimento, a riqueza do povo preto”.

Foi imersa nesse ambiente de muitos questionamentos e de força matriarcal que Sônia decidiu cursar Pedagogia na Udesc em 1980, tornando-se a primeira da família a ingressar no ensino superior. Desde então, a educação passou a ser sua principal trincheira.

— A educação sozinha não transforma, mas transforma pessoas. E pessoas transformam o mundo — afirma, citando Paulo Freire como referência.

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Em 1993, ingressou como professora da rede municipal e, desde então, tem sido uma voz ativa na implementação das diretrizes de Educação das Relações Étnico-Raciais nas escolas de Florianópolis. A ideia é colaborar diretamente na construção de currículos e propostas pedagógicas alinhadas com essa perspectiva.

Espaço para aprender e ensinar

Desde 2002, Sônia atua como gerente do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (EJA), um espaço que considera potente por oferecer novas possibilidades a quem precisou interromper a trajetória escolar.

— A maioria são mulheres negras que, por cuidar dos filhos, por trabalhar, ou morar longe, tiveram que parar de estudar. A EJA representa o reencontro com o aprender, com o conhecimento, com a possibilidade de ensinar também — diz.

A ancestralidade é um dos pilares do pensamento de Sônia e, ao olhar para a própria trajetória, ela se reconhece como uma força em constante ação:

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— A gente só consegue se movimentar porque outras já se movimentaram. Só vou saber pra onde eu vou se eu souber de onde eu vim. Sou uma mulher em movimento. Uma mulher que tem sonhos e que acredita nas pessoas, na capacidade de ensinar e de aprender. Acredito que todos nós temos a capacidade de aprender, cada um no seu tempo e do seu jeito. Por isso, acredito tanto na educação.

Com coragem, ancestralidade e compromisso com o futuro, Sônia Carvalho é — sem dúvida — uma verdadeira potência.

Antonietas: Potências Negras

O movimento Antonietas, da NSC, celebra o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha com um evento especial no dia 25 de julho. “Antonietas: Potências Negras” reunirá quatro mulheres inspiradoras, que dividirão experiências em uma manhã de trocas e bate-papo com mediação da jornalista da NSC Carol Fernandes. O evento será às 9h, no Auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).

Além das conversas, será possível conferir apresentações artísticas do Coletivo Pegada Nagô. O evento é mais uma das ações que marcam um ano do movimento, que já reverberou mais de 400 conteúdos sobre a força da mulher catarinense nas plataformas da empresa.

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Estarão no local trazendo, suas histórias de vida, Fabiana de Freitas Silveira (formada em Serviço Social pela UFSC), Sônia Carvalho (gerente da Educação de Jovens e Adultos de Florianópolis e vice-presidente da Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros), Luciane Pereira (escritora, líder quilombola e educadora) e Ana Paula Lemos (comunicadora Social e Sommelière de Vinhos).

Serviço

  • O que: Antonietas – Potências Negras
  • Quando: 25/07 (sexta-feira), das 9h às 11h
  • Onde: Auditório Antonieta de Barros, Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Florianópolis
  • Inscrições: por meio do Sympla

Antonietas

Antonietas é um movimento da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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