Você tira os sapatos ao entrar em casa? Se acha exagero ou “mania de oriental”, é hora de repensar. Deixar os calçados do lado de fora não é só questão de etiqueta: é, sim, uma questão de educação e de saúde, que a maioria ignora. Explico.
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Afinal, o que vem grudado na sola do seu sapato?
Estudos mostram que as solas dos sapatos acumulam, em média, centenas de milhares de bactérias. Sim, centenas de milhares! Entre elas, estrelas nada simpáticas como os coliformes fecais (fezes, cocô mesmo), presentes nas ruas, escadas de prédios, escolas, ambientes de trabalho e transportes públicos.
Um estudo da Universidade do Arizona (EUA) detectou, em 96% das amostras de solados americanos, a presença de bactérias do grupo dos coliformes (cocô na sola do sapato) — um alerta, considerando que esse grupo inclui vilões como a temida bactéria Escherichia coli que trás sérias infecções intestinais e urinárias, por exemplo.
Quer mais? Sapatos também podem trazer vírus, fungos, ovos de parasitas e até toxinas químicas para dentro de casa. Isso significa que, ao passear com seus tênis ou saltos elegantes, você pode estar levando um “presente” indesejado para o seu quarto, sala, tapete infantil e até pra onde você faz suas refeições.
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Estou sendo alarmista? Nem tanto.
A transmissão de doenças infecciosas está diretamente relacionada ao contato com superfícies contaminadas — e o solo urbano é, disparado, um dos ambientes mais promíscuos que existem. Crianças pequenas, que brincam no chão, têm risco aumentado de contato com esses micro-organismos. Sabe aquela mania que as crianças têm de colocar tudo na boca? Se cair no chão vai levar algumas bactérias para dentro daquele corpo indefeso.
Para quem tem idosos em casa, a cautela deveria ser ainda maior: eles são os grupos mais vulneráveis às infecções. Só um exemplo rápido: estudos relacionam a presença de bactérias dos sapatos ao aumento de infecções gastrointestinais em crianças. Não é coincidência. É ciência.
Se em países asiáticos, tirar os sapatos ao entrar em casa é quase lei, por aqui prevalece o descuido. Muitos dizem: “Nunca fiquei doente por causa disso!”. OK, um hábito não necessariamente vai adoecer você da noite para o dia, mas o acúmulo de riscos é real — e ignorá-lo é fechar os olhos para a prevenção. Convenhamos: custa tão pouco a incorporação dessa rotina! Um tapete na entrada, chinelos exclusivos para ambientes internos e disciplina familiar podem fazer diferença não só na limpeza da casa, mas, principalmente, na saúde dos moradores. Na minha casa é um hábito. Simples.
Quem não tira os sapatos ao entrar em casa está expondo a si e à família a riscos desnecessários. Não é frescura, não é modismo: é evidência científica e uma atitude básica de respeito com quem reside no mesmo espaço. Que tal experimentar essa mudança polêmica e, quem sabe, começar uma tendência por aqui?
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A saúde agradece — e o chão da sua casa também.
Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.
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