
Coloca a cara no sol
Petra decidiu se assumir como mulher para amigos e família por meio de um vídeo; já para Maikon o processo aconteceu quando teve o primeiro namorado
A catarinense Petra Bonato Becker sabe desde criança que é uma mulher. Mas foi com 22 anos, por meio de um depoimento em vídeo, que contou a amigos e familiares ser uma mulher trans. Nesta segunda-feira (11), quando é celebrado o Coming Out Day, histórias como a dela vêm à tona. A data marca o dia internacional da conscientização sobre a importância de "sair do armário". E Petra não está sozinha. Longe disso.
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A jovem tem 23 anos e mora em Santa Cecília, na Serra Catarinense. Porém, até os 18 anos, a catarinense nunca havia conhecido ou tido como exemplo referências positivas de pessoas trans. A psicóloga foi a primeira para quem ela contou que se reconhecia como mulher.
— Foi uma sessão linda, sabe? Eu simplesmente cheguei para a terapeuta e disse: "Eu tenho certeza de que sou uma mulher". Pronto, eu tive um apoio que nunca tinha sentido em outro momento na vida — relembra.
Segundo a jovem, a mãe sempre soube que ela era diferente e a apoiou no processo. Mas entre os amigos, poucos sabiam do desejo da jovem de fazer a transição. No dia em que decidiu sair do armário, Petra conta que gravou um vídeo e se surpreendeu com a reação dos mais próximos para quem o enviou:
— Tive um dia péssimo. Me sentia mentindo pra todos sobre quem eu era, estava cansada de ficar com esse sentimento. Cheguei em casa à noite e gravei um vídeo para o YouTube explicando o que eu sentia. Mandei pra todo mundo que importava pra mim, e o que eu mais fiquei surpresa, foi que eu só recebi amor. Ninguém se afastou de mim — lembra.
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Um ano se passou entre o momento que se entendeu como mulher e o dia em que decidiu publicar o vídeo, intitulado “I am me”, que significa “Eu sou eu”, em inglês. O vídeo de uma maquiadora trans se assumindo como mulher encorajou a jovem a fazer o mesmo. Em fevereiro de 2020, Petra pediu para que os amigos e familiares a aceitassem.
— Gostaria que minha família minha aceitasse, que o mundo me aceitasse. Mas não tá sendo fácil, nunca vai ser fácil. Esse vídeo é um informe do que vai acontecer nesses próximos meses. Então a partir de agora, pela ciência de todos, não compreensão, porque eu acredito que é um debate bem grande, esse é meu coming out — diz Petra em um trecho do vídeo.
No Coming Out Day, a Globo estreia série-documental “Orgulho Além da Tela”, que faz um retrospecto da representação LGBTQIA+ nas novelas da emissora.
Segundo matéria publicada pelo Gshow, o lançamento traz cenas e personagens LGBTQIA+ que marcaram época e ajudaram a pavimentar o caminho para um presente com mais inclusão, respeito e representatividade.
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O ator Maikon Andretti, morador de Florianópolis, assumiu ser gay para a mãe quando compartilhou que estava namorando.
— Eu disse: "Mãe, estou namorando um rapaz! Ele também é ator, e estamos muito apaixonados!" Ela sorriu me abraçou forte e disse: "Ai, que legal! A mãe fica muito feliz, porque te vejo feliz!" — relembra.
Os depoimentos dos catarinenses ressaltaram a importância de se apresentar como se é para outros. O caminho para Maikon nunca foi de esconder nada:
— A gente não pode nem por um segundo deixar de ser quem é ou buscar nossa felicidade, pensando no achar dos outros! Seus pais fizeram suas vidas, seus amigos farão, e todos nós só temos uma chance! A vida acontece agora, e é curta demais para não amar muito! — ressalta o ator.
Para Petra, sair do armário é um processo que exige coragem:
— É tão valioso poder viver a minha vida da forma que eu sempre quis. Ser LGBT não é uma escolha, mas é uma escolha viver a sua verdade.
Para a psicóloga Catarina Gewehr, doutora em psicologia na PUC de São Paulo, sair do armário é um ato político que precisa ser feito com responsabilidade, por segurança da pessoa que quer se assumir. De acordo com a especialista, é comum que o ato feito em um impulso possa representar riscos físicos e emocionais, principalmente para a população mais jovem.
— Às vezes, sair do armário não é a opção mais segura, mas existem maneiras de se fazer isso quando você depende dos pais, por exemplo. Talvez a melhor maneira não seja arrebentar a porta do armário, e sim preparar as pessoas para entender. Entender não no sentido de aceitar sem reservar, mas aceitar que o outro pode ser quem ele é — aconselha.
Além disso, a psicóloga diz que ter uma rede de apoio, formada por pessoas de confiança, como amigos, professores, profissionais da saúde, garante que se assumir seja um processo mais seguro.
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