A Lachesis muta, mais conhecida como surucucu-pico-de-jaca, pico-de-jaca, bico-de-jaca, surucucu-cospe-fogo, surucucu-apaga-fogo ou apenas surucucu, é a maior cobra peçonhenta das Américas, podendo chegar a 3,5 metros de comprimento.

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O gênero Lachesis possui as espécies Lachesis melanocephala, Lachesis stenophrys e as encontradas no Brasil: Lachesis muta e Lachesis muta rhombeata (subespécie da Lachesis muta).

O nome científico da espécie Lachesis muta refere-se à Láquesis, uma das Moiras, as três irmãs da mitologia grega que decidiam o destino dos deuses e seres humanos. Muta (“muda” em latim) refere-se à vibração da sua cauda, que é similar à da cascavel, mas não emite ruído.

A qual família a surucucu-pico-de-jaca pertence

Ela pertence à família Viperidae (víboras), sendo as serpentes que mais causam acidentes ofídicos nas Américas (ocasionados principalmente pelas cascavéis e jararacas), mas é a partir dessas espécies que vários medicamentos são produzidos.

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A família Viperidae (Víboras) contém cerca de 321 espécies distribuídas no mundo todo e podem ser identificadas somente por profissionais. 

O grupo é formado por serpentes peçonhentas conhecidas por suas longas presas e mordida venenosa. 

Dentição solenóglifa: como são as presas das víboras

As presas das víboras são longas e ocas e permitem que elas injetem veneno em suas vítimas. O veneno é produzido e armazenado em glândulas encontradas na parte de trás da mandíbula superior da cobra. Quando sua boca está fechada, suas presas recuam em uma membrana fina e se dobram contra o céu da boca.

Quando uma víbora morde sua vítima, os ossos da mandíbula giram e flexionam para que a boca se abra em um grande ângulo de abertura e as presas se desdobrem no último momento. Quando a cobra morde, os músculos que envolvem as glândulas de veneno se contraem, espremendo o veneno através dos dutos de suas presas (dentes) em suas presas (vítimas).

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O que a mordida da surucucu-pico-de-jaca pode causar

A mordida de uma surucucu-pico-de-jaca pode ser fatal, pois ela é uma das maiores e mais perigosas cobras da América do Sul. 

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As vítimas geralmente se queixam de dor no local da picada e o inchaço pode ser evidente. Pode ocorrer destruição tecidual local significativa, juntamente com uma coagulopatia substancial. 

As vítimas também podem apresentar sintomas adicionais que são únicos, como hipotensão abrupta, diminuição da frequência cardíaca, cólicas intensas e diarreia sanguinolenta. A terapia médica imediata evita esses problemas.

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Casos de mordida no Brasil

Há vários casos de mordida de surucucu no Brasil. Confira dois deles. 

Um homem de 43 anos teve a mão direita mordida por uma serpente do gênero Lachesis, em julho de 2000, na zona rural de Pacoti-Ceará. Como ele chegou ao local para atendimento 23 horas após a ocorrência, isso contribuiu para a gravidade do envenenamento. Ele recebeu soro antibotrópico/laquético (SABL) e administração de hemocomponente, e passou por uma fasciotomia. 

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Em 2006, em Belém, no Pará, um homem de 19 anos foi picado no antebraço direito enquanto alimentava uma surucucu. Ele foi internado apresentando leve edema no antebraço direito, dor intensa e localizada, náuseas e vômitos, cólicas abdominais paroxísticas concomitantes, além de visão turva, epistaxe (perda de sangue pelo nariz) leve e diarreia. Seu tratamento consistiu em pré-medicação e soroterapia com soro botrópico. Após a soroterapia, o paciente melhorou, permaneceu assintomático e se curou.

A mordida da Lachesis muta pode ser fatal
A mordida da Lachesis muta pode ser fatal (Foto: Wikimedia Commons/Johan Fredriksson)

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Veneno

A surucucu pertence ao grupo das serpentes denominado Laquético, composto por víboras de grande porte, presa inoculadora de veneno, cabeça triangular, fosseta loreal e cauda com escamas arrepiadas.

O veneno laquético possui ação proteolítica (atividade inflamatória aguda), hemorrágica, coagulante e neurotóxica, que, dependendo da quantidade de veneno introduzido, serão responsáveis pela gravidade e manifestações clínicas. 

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Alguns sintomas característicos do veneno das surucucus são dor, bolhas, formação de edema, necrose, distúrbios da coagulação e síndrome vagal. O tratamento para o envenenamento laquético é realizado com base na gravidade do acidente – moderado ou grave. No Brasil, o tratamento é feito com administração via intravenosa do soro antibotrópico (pentavalente) e laquético.

O soro neutraliza imediatamente as ações tóxicas dos diversos componentes do veneno de serpentes dos gêneros Bothrops e Lachesis na circulação.

Habitat da surucucu-pico-de-jaca

A Lachesis muta ou surucucu é uma serpente solitária que vive em ambientes terrestres e que possui hábitos crepuscular e noturnos. É nativa de vários países da América Central e América do Sul. Na América Central, elas podem ser encontradas em áreas de floresta tropical do Panamá, Costa Rica e Nicarágua. Na América do Sul, podem ser encontradas no Equador, leste do Peru, Bolívia, Guianas, Colômbia, Trinidad, Venezuela e em áreas tropicais do Brasil (na Amazônia e na Mata Atlântica – da Paraíba até o norte do Rio de Janeiro).

No estado da Bahia, ocorre nos municípios de: Belmonte, Amargosa, Camamu, Entre Rios, Ilhéus, Ibicaraí, Itacaré, Pau Brasil, Maraú, Mutuípe, Santa Cruz Cabrália, Piraí do Norte, São Felipe, Una, Teixeira de Freitas, Valença e Uruçuca.

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Em cativeiro, é uma espécie considerada tranquila, ao contrário de sua grande agressividade atribuída por algumas lendas populares. Assim como outros animais, ela tem comportamento agressivo quando se sente ameaçada, por exemplo, quando tem seu território invadido.

Aparência da surucucu-pico-de-jaca

O corpo da surucucu vai das cores amarela a marrom pálido, muitas vezes rosado, com uma série de figuras imitando o formato de diamantes irregulares pretos ou marrons profundos que se encontram nas costas e apontam para baixo em cada lado. 

Apresenta bordas de luz ao redor dos “diamantes” ou pontos de luz brilhantes entre eles, fazendo com que o padrão seja bem vívido. As escamas estriadas e brilhantes foram comparadas à casca de um abacaxi. 

A cabeça grande e oval é coberta com pequenas escamas. A linha do maxilar é curvada, como num sorriso. Uma faixa diagonal preta se estende do olho até o pescoço. Os olhos são pequenos e redondos, com pupilas verticais. 

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Surucucu-pico-de-jaca no Zoológico de Nashville - EUA
Surucucu-pico-de-jaca no Zoológico de Nashville – EUA (Foto: Wikimedia Commons/Ltshears)

Possui uma abertura em forma de fosso, profundo e proeminente entre cada olho e narina, que funciona como receptor sensorial térmico – permite detectar radiação infravermelha. Como a maioria dos organismos vivos emite calor na forma de radiação infravermelha, esse órgão podem detectar qualquer corpo que seja mais quente do que seu entorno. Isso inclui não apenas endotérmicos, como pássaros e mamíferos, mas também ectotérmicos, como lagartos e sapos, que podem ser mais quentes do que seus arredores durante o dia. 

Esse órgão é muito útil na detecção de presas próximas.

Alimentação da surucucu-pico-de-jaca

As surucucu-pico-de-jaca da América do Sul são predadoras de emboscada. Elas sentam e esperam que a presa passe, geralmente por onde passam pequenos mamíferos. Dependendo do tamanho da presa, as cobras podem morder e segurá-las ou morder e soltar, e depois seguem o rastro do cheiro da presa envenenada.

A alimentação da surucucu é baseada principalmente em pequenos e médios mamíferos de tamanho grande, como roedores (ratos e cutias), porcos-espinhos, esquilos e gambás, e ocasionalmente inclui macacos-esquilo, sapos e pássaros.

Predadores da surucucu

Os predadores da Lachesis muta incluem cobras (muçurana ou mussurana), queixadas e humanos.

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Surucucu gigante já apareceu em Santa Catarina?

A surucucu-pico-de-jaca não possui registro de ocorrência na região Sul do Brasil, estando presente nas regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil (Grantsau 2013, Bernarde 2014).

Surucucu-pico-de-jaca é ovípara

A surucucu-pico-de-jaca posta de 5 a 19 ovos por época de acasalamento, preferencialmente em passagens subterrâneas escavadas por roedores. Isso faz dela a única espécie de viperídeo (família Viperidae) no Brasil que é ovípara e em que a fêmea se enrola junto aos ovos para cuidar dos ovos. Ela somente se afasta dos ovos brevemente quando sente necessidade de beber.

Os ovos eclodem após 60 a 79 dias e nascem com cerca de 30 a 50 centímetros de comprimento. Os filhotes têm pontas de cauda laranja ou amarela, muito coloridas, que usam para atrair presas. O padrão de cor adulto se desenvolve quando eles têm entre 1 e 2 anos de idade, e os filhotes se tornam sexualmente maduros aos 4 anos de idade.

Expectativa de vida

A expectativa de vida das surucucus selvagens é desconhecida. Espécimes em cativeiro geralmente vivem de 12 a 18 anos, embora tenham sido registrados até 24 anos. (Zoológico Woodland Park, 2011)

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Importância 

As surucucus, assim como muitas outras cobras, ajudam a reduzir as populações de roedores. Além disso, seu veneno pode oferecer possíveis aplicações para uso em pesquisas médicas e medicamentos.

Risco de extinção

A espécie Lachesis muta está ameaçada de extinção, enquadrada na categoria de Espécie vulnerável (VU). Isso ocorre em razão de problemas como desmatamento na Amazônia e Mata Atlântica (seu habitat natural), poluição e caça furtiva.

O que fazer ao ser mordido por cobras peçonhentas

  • Mantenha o paciente em repouso, evitando correr ou caminhar.
  • Tranquilize o paciente, podendo ser administrados analgésicos, mas evitando-se drogas de ação depressora do sistema nervoso central.
  • Não faça torniquete do membro afetado, sucção ou incisão no local da picada.
  • Limpe cuidadosamente o local com água e sabão. Não coloque substâncias sobre a ferida (fumo, café, esterco, ervas, etc) ou faça curativos oclusivos.
  • Monitore sinais vitais e volume urinário.
  • Não use bebidas alcoólicas para limpar a área picada.
  • Chame socorro imediatamente ou leve o paciente para uma unidade de saúde, mais próxima ao local de ocorrência, que trata pacientes acometidos por envenenamento por animais peçonhentos. 

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