Conversas apagadas do celular de Jair Bolsonaro (PL) foram recuperadas por peritos e divulgadas pela Polícia Federal (PF) na noite desta quarta-feira (20). O ex-presidente e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foram indiciados por tentarem interferir no julgamento da trama golpista. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, deu 48 horas para que a defesa de Bolsonaro se manifeste sobre o descumprimento de medidas cautelares.
Continua depois da publicidade
A decisão integra um relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) e também resultou em medidas contra o pastor Silas Malafaia. Ele foi alvo de mandado de busca pessoal e de apreensão de celulares.
A investigação reúne indícios, como mensagens e áudios, que revelam uma tentativa de coagir ministros do STF para livrar o ex-presidente da ação penal da qual é réu. O conteúdo encontrado no celular de Bolsonaro, de acordo com a PF, confirma que o ex-presidente desrespeitava medidas cautelares impostas pelo STF de forma intencional.
Bolsonaro ativou um novo aparelho no dia 25 de julho, após ter o seu antigo celular apreendido pela PF no dia 18 de julho, quando Moraes determinou medidas cautelares contra ele.
A restauração dos dados apagados deste novo aparelho, apreendido no início de agosto, revelou intensa atividade de produção e propagação de mensagens para as redes sociais, o que era proibido pela medida cautelar.
Continua depois da publicidade
O que dizem as mensagens encontradas no celular de Bolsonaro?
As mensagens encontradas no celular de Jair Bolsonaro incluem pedidos de asilo do ex-presidente na Argentina, troca de ofensas com o filho Eduardo Bolsonaro e articulação com os Estados Unidos. Em um texto que seria enviado ao presidente argentino, Javier Milei, Bolsonaro escreve:
“De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares”.
Em outra mensagem, recebida por Bolsonaro e enviada pelo filho, Eduardo Bolsonaro, a PF concluiu que a real intenção do deputado não seria uma anistia para os condenados do 8 janeiro, mas a impunidade do ex-presidente na ação penal no STF por tentativa de golpe de estado.
“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos Estados Unidos terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar (…) temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto. (…) neste cenário você não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado final de agosto”.
Continua depois da publicidade
Além da anistia, Bolsonaro e Eduardo trocaram mensagens falando sobre a importância de publicar em uma rede social um agradecimento ao presidente Trump pelas medidas aplicadas contra o Brasil. Ele se referia ao tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros, anunciado no dia anterior:
“Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você [segundo a PF, uma referência a Trump]. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta. Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com a cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que por aqui as coisas mudem”.
Ainda segundo a PF, no dia 15 de julho, Eduardo disse ao pai que a “Magnitsky em Moraes estava muito muito próxima”. Depois de 15 dias, os Estados Unidos aplicaram a Lei Magnistky impondo restrições financeiras ao ministro.
O pastor Silas Malafaia enviou mensagens a Bolsonaro pedindo o disparo de vídeos com chamadas para que o conteúdo fosse compartilhado. Ele também solicitou que o ex-presidente mobilizasse deputados para postar vídeos em apoio a manifestações pró-anistia.
Continua depois da publicidade
A análise dos celulares de Bolsonaro também revelou que Malafaia atuava em linha com ele e o filho dele. Com base no relatório, o ministro Alexandre de Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra Malafaia.
Troca de farpas
O deputado Eduardo Bolsonaro xingou o pai após entrevista do ex-presidente sobre o conflito com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de acordo com mensagens analisadas pela Polícia Federal.
Nos diálogos, Eduardo demonstrou irritação pelas declarações do pai em uma entrevista ao portal Poder 360, em 15 de julho. Na ocasião, Jair descartou a candidatura do filho à presidência da República, dizendo que ele não é “tão maduro” e não está “talhado” na política.
Segundo o relatório, Eduardo escreveu: “Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende”. O deputado continuou: “VTNC SEU INGRATO DO C*****O!’”
Continua depois da publicidade
A conversa, segundo a PF, continuou com Eduardo citando termos usados pelo ex-presidente na entrevista: “Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se f***r é vc E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA P***A AQUI!”.
Eduardo concluiu a conversa dizendo ao pai: “Tenha responsabilidade!”. Bolsonaro respondeu com dois áudios que, segundo a PF, não foram recuperados pela investigação.
O deputado federal também diz: “Agora ele quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer. E pode ter certeza, uma ‘solução Tarcísio’ passa longe de resolver o problema, vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima.”
Veja histórico de Bolsonaro
Contatos proibidos, listas de mensagens e contas bancárias
A PF identificou uma mensagem recebida via SMS por Bolsonaro vindo de um número com DDD de Brasília, às 00h31min de 9 de fevereiro de 2024. O responsável por enviar o texto, de acordo com as investigações, seria o ex-ministro Walter Souza Braga Netto, que descumpriu uma proibição judicial ao falar com ex-presidente.
Continua depois da publicidade
“Estou com este número pré-pago para qualquer emergência. Não tem zap. Somente face time. Abs Braga Netto”, dizia a mensagem.
Os policiais também localizaram quatro listas de transmissões no aplicativo de mensagem WhatsApp instalado no aparelho celular apreendido de Jair Bolsonaro. As listas foram nomeadas da seguinte maneira: “Deputados”, “Senadores”, “Outros” e “Outros 2”.
A investigação detalha que, por exemplo, no dia das manifestações em 3 de agosto, houve grande atividade de compartilhamento de diversos conteúdos por meio do WhatsApp de Jair Bolsonaro.
Outro indício é de que Eduardo Bolsonaro teria usado a conta bancária de sua esposa, Heloísa, para esconder recursos recebidos pelo pai e evitar possíveis bloqueios de valores. Processo semelhante teria sido empregado por Bolsonaro com sua esposa, Michelle Bolsonaro.
Continua depois da publicidade
Leia mais
“Ingrato” e “imaturo”: quais foram as ofensas trocadas entre Eduardo e Jair Bolsonaro




