Um dos termos mais usados pelo governador Carlos Moisés na entrevista que concedeu a Raphael Faraco e Mario Motta no Jornal do Almoço, nesta quarta-feira (23), foi liberdade. De volta ao cargo após ter escapado de um custoso processo de impeachment, Moisés, em sua nova versão, entende que não pode ir contra o que chama de ‘liberdade do indivíduo’ para conseguir conter a pandemia.
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O governador poderia ser mais claro e explicar aos catarinenses a que liberdade ele se refere. Ou à liberdade de quem. Certamente, não à liberdade de quem está há meses cumprindo as regras para ajudar a frear a contaminação pelo vírus.
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Milhares de catarinenses foram privados da liberdade de ver a família neste Natal, porque a pandemia está sob perigoso descontrole no Estado. Também foram privados de liberdade aqueles que gostariam de voltar a frequentar um restaurante ou a casa dos amigos, mas se sentem inseguros diante do alto índice de contaminações em Santa Catarina.
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Foram privados de liberdade aqueles que, em nome do coletivo, cobrem diariamente o rosto com a máscara para sair de casa. Ainda que incomode. Ainda que muita gente não use. E ainda que a fiscalização não funcione.
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Estão sem liberdade os que vivem no Litoral e temem que a chegada dos turistas, nos próximos dias, aumente perigosamente a demanda pelos serviços de saúde que já estão sobrecarregados. Os que terão que se fechar em casa, porque o Estado não consegue frear o ímpeto daqueles que têm urgência em aproveitar as férias.
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Tampouco têm liberdade aqueles que combatem heroicamente na linha de frente o coronavírus – muitos deles, enfrentando horas extenuantes de trabalho, distantes dos familiares para protegê-los.
Há ainda os que foram privados da liberdade de dizer adeus para um ente querido. Aqueles que se despediram na porta de um hospital, sem poder dar um último abraço ou uma palavra de conforto.
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Neste momento, mais de 23 mil catarinenses estão privados de liberdade porque se contaminaram e testaram positivo para Covid-19. Na loteria da pandemia, alguns terão sintomas graves e precisarão de internação. Alguns poderão morrer.
Ao dizer que defende a liberdade, seria mais justo e coerente o governador afirmar que abriu mão de gerir o Estado e que, se quiserem, as pessoas estão livres para transmitir o coronavírus em Santa Catarina. Ou esclarecer que o governo cedeu a própria liberdade para ‘resolver’ a crise política em que se enfiou.
Para ser justa, é preciso reconhecer que Moisés registrou pelo menos um acerto em sua fala aos colegas no Jornal do Almoço. Foi quando disse que só resta a Santa Catarina contar com um milagre.
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