Embora as tarifas de importação do governo dos Estados Unidos tenham começado a impactar a economia e a criação de empregos do Brasil em abril, elas não são a única causa da retração a abertura de novos empregos em Santa Catarina. Os juros altos de 15% ao ano para conter a inflação já afetam toda economia, em especial a indústria, que está com ritmo menor em SC.

Continua depois da publicidade

O estado registra pleno emprego, com taxa de 2,2% de desemprego no final do segundo trimestre deste ano, de acordo com o IBGE. Mas os dados do Caged, que registram as contratações com carteira assinada, mostrar desaceleração. Em julho, SC teve saldo de 2.773 novas vagas e, Joinville, teve saldo negativo de –767 vagas. Para comparar, em julho de 2024, com economia mais aquecida, Santa Catarina abriu 12.150 novas vagas.

O presidente da Fiesc, Gilberto Seleme, observou que as mudanças nas tarifas dos Estados Unidos começaram a impactar negativamente exportações de SC ainda em abril, quando entrou a taxação de 10%. Mas, agora em agosto, quando subiu para 50%, as vendas ficaram proibitivas, em especial para setores como madeira e móveis.

Mas a indústria catarinense, segundo ele, vem sentindo os efeitos também da alta dos juros básicos da economia para conter a inflação. O ciclo de subida dos juros começou em setembro do ano passado e, agora, a taxa está em 15% ao ano.

– A situação dos Estados Unidos potencializou, mas as dificuldades vêm lá de trás, do mercado brasileiro. O juro está muito alto, o consumo cai. A pessoa prefere deixar o dinheiro aplicado com juro de 15% ao ano e comprar uma geladeira no ano que vem- afirma Seleme.

Continua depois da publicidade

A Fiesc destacou que o fechamento de 581 vagas em julho no setor de madeira e móveis foi em função do tarifaço. Mas reduções de vagas em outros setores foram impactadas também pela conjuntura brasileira. Em Santa Catarina, por exemplo, existem setores que já estão sentindo efeitos dos juros altos. Entre os exemplos citados pelo presidente da Fiesc estão embalagens de papelão e transporte de carga.

Joinville, maior cidade catarinense, polo industrial e que, quase sempre, tem liderado a criação de novas vagas em Santa Catarina registrou saldo negativo de -676 postos de trabalho em julho, sendo -818 na indústria, mostrou o Caged. O líder da bandeira de Capital Humano da Associação Empresarial de Joinville (Acij) e também head de Recursos Humanos da empresa Döhler, Alan Murilo Ghisi, disse que essa redução de vagas tem os dois impactos, do tarifaço e o da retração por causa dos juros da economia brasileira.

– Diante desse cenário, há uma desaceleração já esperada por especialistas do mercado e economistas. Portanto, não vejo com surpresa (a desacerelação), mas sim como consequência natural dos fatores expostos, para os quais as organizações vêm se preparando a fim de mitigar os impactos e garantir os resultados. Vejo, assim, um período de cautela e observação, de avaliar e reavaliar estratégias, cenários e rotas – afirma Alan Ghisi.  

Segundo ele, a cidade vinha de um período de forte crescimento de emprego, por isso essa não é uma redução significativa. Um foco das empresas, agora, está na retenção de mão de obra qualificada para manter a capacidade de respostas rápidas a demandas de mercado, afirmou o head de Recursos Humanos da Acij.  

Continua depois da publicidade

Leia também

Gigante global do agro investe em empresa de biotecnologia de Florianópolis

Pato laqueado de Pequim será “made in Brazil”, mas de Santa Catarina

Inventor, industrial funda duas multinacionais e o maior parque empresarial do Brasil

Startup de SC “médicos das árvores” recebe aporte para desenvolver IA