Com o propósito de promover união de ações para recuperar florestas com geração de renda, a empresária catarinense Juliana Schurmann, sobrinha do casal de navegadores Vilfredo e Heloisa Schurmann, lançou na noite de quarta-feira (10), em Florianópolis, o Impact Coalition Institute. A organização, que tem como pilares regeneração ambiental, dignidade social e consciência coletiva, começa com projetos no Brasil, mas foca atuação internacional diante dos grandes desafios climáticos.

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O evento de lançamento, dois meses antes da COP30, a conferência mundial do clima que será no Brasil, contou com a participação especial do tio da empresária Vilfredo Schurmann. Ele representou a família apoiadora da nova iniciativa por meio do instituto Voices of the Oceans, que trabalha no mundo pela salvação dos mares e terá participação especial na COP30.

Veja mais imagens sobre o lançamento do Impact Coalition Institute:

A empresária afirmou que a ideia de criar um instituto foi inspirada na trajetória e palavras de apoio de seu tio Vilfredo. Juntos no evento, eles destacaram que o Impact Coalition trabalha para cuidar de florestas e o Voices of the Oceans, para cuidar dos mares. “Uma instituição cuida do azul (os oceanos) e a outra, do verde (as florestas)”, enfatizaram.

Fundado em 2024, em Florianópolis, por Juliana Schurmann e o marido Patrick Elbert, o Impact Coalition foi lançado agora com uma estrutura administrativa integrada por especialistas de alto nível, e conta com apoio e parcerias de empresas e instituições nacionais e internacionais. Atualmente, desenvolve dois projetos de regeneração de florestas, mas tem como meta de longo prazo alcançar mil florestas.

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Graduada em Arquitetura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Juliana Schurmann, 41 anos, atuou como arquiteta por 10 anos e, depois, foi empresária internacional na gestão de carreiras de modelos, começando com a da sobrinha Ana Schurmann. Ao atender a modelo indígena Zaya, da Amazônia, começou a ter contato com o mundo das instituições voltadas à preservação ambiental e aí revela que recebeu “um chamado do coração” para  se dedicar à regeneração de florestas, numa coalizão nacional e internacional. Saiba mais na entrevista a seguir:  

Qual é o propósito do Impact Coalition Institute que você está lançando agora?
– O Impact Coalition Institute nasceu como uma grande união. Veio muito forte a percepção de que precisávamos unir os setores para pensar juntos e criar soluções. Somos bombardeados o tempo inteiro pela mídia com tantas informações, vindas dos cientistas e de tantos detalhes. E vamos vendo tudo aquilo, e cada um já criando até a sua versão: “Ah, não quero mais ouvir falar sobre isso”.

Pensei: eu consigo ajudar. O que posso fazer? O que sei fazer?  Ali percebi que o que faltava era uma grande união. Quando comecei a participar do mundo climático, em vários eventos, vi que os setores estavam separados. Então pensei: cientistas, ativistas, empresários, empresas, governos e o terceiro setor, todos juntos, podem desenvolver um projeto grande e escalável. Essa foi a ideia.

E como foi desenvolvida essa ideia?
– A sensação era de que já existiam projetos belíssimos. Mas sabemos que o tipo de projeto que precisamos requer muita gente envolvida. Então comecei a reunir muitas pessoas, de forma totalmente multidisciplinar, para termos uma visão de vários setores.

Perguntei: vamos pensar num modelo de negócio diferente? E se criássemos uma empresa social? Não uma empresa com fins lucrativos, mas social, sem fins lucrativos, em que o retorno fosse para mais florestas, mais restauração. Mas, ao mesmo tempo, organizada como uma empresa: eficiente, escalável. Só que, no nosso caso, o lucro é reinvestido para fazermos algo diferente.

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E foi lindo ver como tudo se desenvolveu. Agora estamos finalmente colocando em prática. Estamos apresentando o projeto. Foi uma construção longa: temos o modelo de negócios todo desenhado e agora começamos a avançar.

O foco é preservação de florestas?
– É restauração ambiental, junto com preservação. Trabalhamos em áreas degradadas. Como estamos focando agora? Pequenas áreas, mas em milhares de florestas. Muitas empresas grandes no Brasil já fazem restaurações em grande escala. Enquanto estudávamos, e foi um estudo longo, de mais de um ano, percebemos que era impossível preservar sem pensar nas pessoas.

Visitando territórios, vi que não fazia sentido investir em uma floresta que não fosse produtiva para as comunidades locais. A questão era como colocar a vida no centro de um projeto de restauração ambiental? Assim nasceu o projeto das Mil Florestas.

Falo bastante disso nas reuniões: não estamos aqui para plantar uma, duas ou três florestas. Como criamos um modelo de negócio para plantar mil florestas? Sabemos que precisamos restaurar, sabemos que o planeta precisa disso, e precisamos falar em vida. O planeta se regenera sozinho. Mas nós temos vida no planeta, e precisamos preservá-la.

E como você pensou em fazer isso colocando as pessoas no centro do projeto?
– O projeto das Mil Florestas consiste em criar pequenas florestas espalhadas pelo Brasil inteiro, junto a comunidades e pequenos agricultores. Só que, ao invés de apenas reflorestar, criamos florestas produtivas, que possam gerar renda. Esse foi o ponto principal: podemos gerar riqueza com isso.

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O Brasil é um país muito rico. Como gerar riqueza para quem cuida da terra? O Impact Coalition entra justamente para apoiar o pequeno agricultor que precisa restaurar sua área degradada, mas não consegue sozinho. Nosso objetivo é pensar em como trazer renda para ele. Estamos planejando com cuidado os primeiros anos, até o momento do plantio das mudas e da manutenção do viveiro, para que, depois de alguns anos, esse agricultor já esteja recebendo renda da floresta, além de segurança alimentar e geração de riqueza.

A ideia é que manter a floresta em pé traga mais benefícios do que cortá-la para monocultura. Hoje, já existem diversas técnicas de agrofloresta que podem beneficiar muito essas populações. Esse é o caminho que escolhemos.

Estamos desenvolvendo o nosso modelo de negócio em um documento extenso, com diversos especialistas, e todos reconhecem: estamos trabalhando em um ponto que ninguém tinha pensado ainda, que é como engajar os pequenos agricultores. O pequeno agricultor pode restaurar sua propriedade. Nós podemos levar expertise, conhecimento técnico e o projeto. Ensinar como fazer. É algo belíssimo. Mas o projeto como um todo vai além disso.

O que mais o projeto prevê?
Não adianta pensar só na restauração em si. Por isso temos três pilares: regeneração ambiental, dignidade social e consciência coletiva. Como já falei, não tem como pensar em restauração sem incluir a comunidade que vive ao lado. Isso é dignidade social. Precisamos fazer tudo junto. E o terceiro pilar é a consciência coletiva: só conseguiremos quando estivermos todos unidos.

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Precisamos de todos. Se a sociedade como um todo não entender que precisa ajudar, e que cada um pode contribuir um pouco, nada avança. Nesse sentido, temos trabalhado muito com educação. Já temos parceiros como o Mutirão das Árvores e a Fundação Pitágoras, presidida pela Helena Neiva, que está conosco no instituto. Nossa proposta é levar educação ambiental para as escolas de maneira diferente. Queremos que, desde cedo, a criança entenda o que é uma semente, uma muda, como plantar, como manter um viveiro na escola. Assim, construímos conscientização. O impacto é esse: estamos nos tornando um hub, que recebe vários projetos. E vamos integrando. Por que não unificar iniciativas como as escolas azuis, voltadas aos oceanos, as escolas verdes, o Mutirão das Árvores? Por que não chegar a todas as escolas juntas?

Como são esses programas de escolas azuis e escolas verdes?
– O Programa Escolas Azuis é uma iniciativa da Unesco e parceiros volada para o oceano de forma transversal. E o Brasil se comprometeu a incorporar o tema no Currículo Nacional. As escolas azuis da Unesco são totalmente voltadas para os oceanos. Agora a educação nas escolas passou a ser obrigatória também nesse tema. Além disso, existe o Mutirão das Árvores, da Fundação Pitágoras. Existe a Inner School. E existe uma organização dinamarquesa que está há mais de 25 anos no Brasil, também voltada para a educação ambiental.

Todos foram chegando até nós, no Impact Coalition, e estamos costurando um hub para pensar juntos. O que podemos construir? Às vezes, em uma escola determinada é melhor começar por um projeto, em outra por outro. Mas como fazemos isso todos juntos? Esse é o aspecto central da consciência coletiva.

Só que precisamos transmitir essa mensagem de uma forma especial: através do amor, do belo, da arte. A ideia é chegar em shows, grandes exposições, na televisão. Precisamos comunicar de maneira ampla, pouco a pouco, para que as pessoas entendam que devem fazer parte disso. 

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E como vai ser o modelo de negócios de vocês?
– No desenvolvimento do modelo de negócios, percebemos que é necessário estruturar com calma. Vamos organizar, estruturar e encontrar um jeito em que todos estejam incluídos. Buscamos, então, uma solução que seja simples para as pessoas participarem.

Assim, posso responder: “Olha só, entre nesse sistema”. E ali estarão vários pontos espalhados pelo Brasil: propriedades e comunidades com áreas a serem restauradas, todas já passando por um processo de compliance, de acordo com o número de hectares.

Aplicamos uma malha de metragem quadrada. Assim, a pessoa pode adotar um metro quadrado por um valor “X”. Esse metro quadrado, por exemplo, pode ser registrado e garantido por blockchain.

O que vocês já estão fazendo de prático? Você falou do metro quadrado que posso adotar…
Isso, pelo blockchain. Assim fica registrado que aquele metro quadrado foi adotado por você. Estamos desenvolvendo esse sistema. Nossa diretora de Ciência é uma cientista renomada, com 18 anos de experiência na área de monitoramento de imagens de satélites, junto com nossos parceiros alemães da Capacity, ONG que tem como foco utilizar tecnologia na proteção da biodiversidade.

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A ideia é deixar tudo claro. Porque sempre me perguntava: como vamos garantir transparência? O terceiro setor, às vezes, adota práticas que fazem as pessoas duvidarem: “Será que vou doar?”. Isso acabou marcando as últimas décadas. Então, como mudar esse paradigma? A resposta está em trazer transparência total. Esse é o ponto central do nosso modelo de negócios.

E como demonstrar essa transparência num meio digital?
A gente precisa mostrar exatamente o que está acontecendo. O dinheiro veio daqui, foi para ali, e pronto: está tudo acessível. A cada seis meses a pessoa vai receber no WhatsApp um acompanhamento de como está o crescimento da área.

Hoje, já existe muita tecnologia via satélite para isso onde se consegue mensurar tudo: altura das árvores, densidade, quanto de carbono está sendo absorvido… tudo online. Então a pessoa recebe essas métricas: “seu valor foi aplicado aqui, seu metro quadrado adotado está assim, e é isso que está acontecendo”.

Isso serve tanto para quem doa diretamente quanto para as empresas. Porque, para as empresas, vira um grande ativo de marketing. Elas podem, por exemplo, assumir o compromisso de restaurar mil, 10 mil, 20 mil metros quadrados. Com um QR Code, a empresa mostra para o consumidor final: “Olha, você ajudou a restaurar este metro quadrado”. Pode ser atrelado a um ingresso de show, a uma compra digital.

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Essa conscientização coletiva é muito poderosa. A gente foi desenvolvendo esse sistema com a premissa da transparência: todos podem ajudar e todos podem acompanhar o que está acontecendo.

As métricas ficam públicas, com auditoria e verificação. O que mais sentimos é que tem que haver total segurança. Se a pessoa faz um pix precisa confiar totalmente em como o dinheiro será usado. Por isso a transparência virou nossa premissa número um.

E como as empresas podem participar?
– Estamos buscando mantenedores. Já temos dois projetos-piloto em andamento. Um em São Paulo, na comunidade Guarani, no Pico do Jaraguá. É uma agrofloresta pequena, de 7,5 mil m², mas voltada para segurança alimentar, cultura indígena e medicinas tradicionais. O segundo é no Acre, com a comunidade Ashaninka. É uma área degradada que não estava em uso, e eles pediram para desenvolver uma agrofloresta de cacau e baunilha.

E eles vão poder produzir nessa área, certo?
– Exato. Vão restaurar a floresta, preservar o território e ainda gerar renda com cacau e baunilha. Mas sempre pensando em renda. No caso do cacau, por exemplo, temos no nosso comitê o Estevan Sartorelli, fundador da Dengo Chocolates, que desenvolveu um trabalho fenomenal com agricultores do Sul da Bahia. Também temos o Mário, trader de cacau e especialista ESG. A ideia é envolver toda a cadeia. Não é só plantar a agrofloresta. É ajudar a comunidade a escoar o produto, pensar no futuro, estruturar uma cooperativa. Criar valor real e gerar riqueza com a floresta em pé.

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E como está estruturado hoje o instituto? Quem trabalha diretamente?
– Eu estou em tempo integral. Fechei minha empresa para me dedicar totalmente, porque acredito que podemos pensar o meio ambiente e a vida de outra forma, juntos. O Matheus Ricarte, nosso diretor de Estratégia e Inteligência, também está conosco em tempo integral, atuando em frentes diversas.

E todos os demais são voluntários?

-Sim. O Carlos Morandi e nosso CFO. A Dra. Helena Decker cuida da parte de educação, Ciência e pesquisa. Andressa Wehmuth atua na mobilização de recursos e a Dra. Flávia Mendes na parte de Ciência.  Temos um Conselho Consultivo atuante que está guiando a nossa caminhada, como a Maria Elena Johannpeter fundadora da ong Parceiros Voluntários, Rui Fernando Müller fundador da Bluenano, Luiz Magno Bastos Junior sócio do escritório de advocacia Menezes Niebuhr, Thiago Mascarenhas sócio da Mascarenhas Participações, David Canassa CEO da Reservas Votorantim e Edson Silva presidente e fundador do grupo Nexxera.

O Instituto Impact Coalition vai atuar primeiro no Brasil ou já nasce global?
A ideia é global. Já temos vários parceiros de fora do país. Tanto que disseram: “não coloca o nome em português, deixa em inglês porque isso vai para o mundo”. Queremos criar o modelo aqui e depois replicar em outros países.

E quem são esses parceiros internacionais?
Temos, por exemplo, a Capacity, da Alemanha. Também contamos com uma diretora de cinema em Hollywood, a Isabela Kleut. Ela é croata, viveu mais de 25 anos na Austrália e hoje circula entre Hollywood e outros lugares do mundo. Foi se aproximando porque quis ajudar, e isso é incrível, como as pessoas foram se somando.

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E vamos apresentar você. Quem é a Juliana Schurmann, como foi sua trajetória até aqui?
– Sou arquiteta, formada pela UFSC. Tive meu escritório por 10 anos. Aos 30, por acaso, comecei a ajudar minha sobrinha, a modelo Ana Schurmann, com contratos da carreira. Logo depois, uma amiga dela em Nova York pediu que eu também cuidasse da sua trajetória. Era a Varsha Thapa, a primeira modelo do Nepal em Nova York.

Acabei abrindo uma empresa lá e passei os últimos dez anos nesse trabalho. Em 2022, comecei a administrar a carreira da primeira modelo (indígena) nascida e criada na Amazônia, a Zaya. E foi por meio dela que me aproximei do ativismo climático. De repente, eu estava na ONU em Nova York, em Genebra, em Paris, participando dos maiores eventos mundiais sobre soluções climáticas.

Foi aí que virou a chave no meu coração: percebi que eu precisava fazer algo mais e que poderia ajudar. Tenho 41 anos, faço 42 em outubro. Sou casada com o Patrick Elbert, meu namorado desde o colégio e temos dois filhos. Ele é formado em Direito, mas atua na gráfica da família, a Gráfica Elbert, que existe há 50 anos em São José. Nunca tínhamos trabalhado juntos, mas quando decidi criar o instituto, disse a ele: “só faço se for contigo, porque isso vai exigir muito da nossa família”. Ele topou na hora e hoje é meu cofundador, parceiro em tudo.

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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