As novas restrições ao funcionamento do comércio, shoppings, bares, restaurantes e academias em Blumenau, que entraram em vigor na terça-feira (21), resgataram um debate que foi muito intenso nos primeiros dias de quarentena em Santa Catarina, ainda em março, mas que acabou esfriando à medida em que o distanciamento social foi sendo flexibilizado: como garantir segurança às pessoas e impedir o colapso na rede de atendimento à saúde sem sacrificar a economia?
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Não se discute que o novo coronavírus encontra terreno fértil para se proliferar em ambientes que possam proporcionar aglomerações. As divergências começam a aparecer nas estratégias adotadas para reduzir a circulação de pessoas. Isolamento horizontal, para todos, ou vertical, apenas para os grupos de risco? Por que algumas atividades são liberadas e outras não? O que define um segmento como potencial facilitador de transmissão do vírus?
Como era de se esperar, setores de Blumenau atingidos pela determinação reagiram por entenderem que estavam fazendo sua parte. Em nota, Sindilojas e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que representam o varejo, avaliaram que o comércio foi penalizado e não é responsável pelas aglomerações. A Associação Blumenau Gastronômico se manifestou dizendo que recebeu a informação de fechamento de bares e restaurantes “com certa estranheza”, já que os estabelecimentos estavam seguindo as normas de segurança.
Cabe ressaltar que essas entidades e a maioria das empresas não ignora a gravidade da pandemia. Reconhecem que saúde está em primeiro lugar, mas têm a legítima preocupação de manter a economia girando. É uma equação difícil de ser resolvida, que se torna ainda mais complexa quando parte da população confunde flexibilização com rotina normalizada.
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O prefeito Mario Hildebrandt passou boa parte do dia de ontem dando explicações sobre as medidas. Pela manhã, em evento online do Blusoft, disse, enquanto apresentava dados da situação da Covid-19 em Blumenau, que as restrições eram necessárias. À tarde, em postagem nas redes sociais, escreveu que a decisão de fechar alguns segmentos “foi, sem dúvidas, a mais difícil que já tive que tomar em minha vida pública”. Na live noturna, voltou a tocar no assunto e recorreu a um vídeo onde o médico Marcos Nemetz, do Hospital Santa Isabel, diz nunca ter visto situação tão grave em 42 anos de carreira.
É no respaldo técnico que Hildebrandt se escora para justificar o aperto de cinto. No domingo (19), ofício assinado por diretores dos hospitais Santa Isabel, Santo Antônio e Santa Catarina e pelo coordenador da Rede dos Hospitais do Vale do Itajaí pediu que medidas mais restritivas fossem adotadas imediatamente para reduzir e conter a disseminação da Covid-19, diante do estrangulamento da rede de saúde.
Em outro documento, de sábado (18), a Comissão Intergestores Regional do Médio Vale do Itajaí, em conjunto com a Comissão de Governança Regional para Combate e Enfrentamento à Pandemia do Novo Coronavírus no Médio Vale do Itajaí e a Furb, também fez apelo semelhante.
O prefeito diz entender a frustração dos comerciantes. Mas se defendeu das críticas dos que alegaram terem sido pegos de surpresa argumentando que o fechamento sempre foi uma possibilidade cogitada em reuniões com empresários, caso a situação fugisse do controle – embora muitos deles não trabalhassem com essa hipótese. No falso dilema entre preservar a saúde ou a economia, que ignora que as duas coisas caminham juntas, uma frase de Hildebrandt durante a live resume a visão da prefeitura sobre o cenário:
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— Não adianta a gente ter atividade comercial se o funcionário vai adoecer, se o familiar do funcionário vai adoecer e não tiver hospital para atendê-lo.
A maior parte da população terá contato com o novo coronavírus e, sem vacina disponível, mais mortes infelizmente serão inevitáveis. O sucesso na gestão da pandemia será medido pela oportunidade dada aos doentes mais graves de lutarem pela vida em UTIs, algo que muitos brasileiros não tiveram em estados como o Amazonas, por exemplo. Tudo isso reduzindo ao máximo os impactos na economia. Fácil? Quem tinha respostas prontas está quebrando a cara.
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