No dia 7 de setembro, que ocorreu no último domingo, diversos membros da direita bolsonarista foram às ruas. Neste ano, o feriado aconteceu em meio a um momento atípico: o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, ao Brasil. E no dia que o país comemora a própria independência, o símbolo que chamou atenção na Avenida Paulista, em São Paulo, foi o de outra nação: a bandeira dos Estados Unidos da América.

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O fato repercutiu na imprensa internacional, em jornais como New York Times e El País, que avaliaram a situação política do país e a relação da direita brasileira com os Estados Unidos.

O que se sabe sobre polêmicas e “guerra de versões” envolvendo bandeira dos EUA na Paulista

No domingo, os apoiadores de Jair Bolsonaro defenderam a anistia do ex-presidente.

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Os atos chamaram a atenção da imprensa internacional, que destacou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em defesa da soberania nacional, mas, acima de tudo, abordou a mobilização dos eleitores e aliados de Bolsonaro, que promoveram atos em 25 capitais e no Distrito Federal.

Jorginho vai à Beira-Mar Norte ao lado de Carlos e Jair Renan Bolsonaro em Florianópolis

Bandeira dos EUA em ato repercutiu nas redes sociais e na imprensa internacional (Foto: Redes sociais, Reprodução)

O jornal norte-americano New York Times publicou, nesta terça-feira (9), uma matéria sobre a presença de símbolos dos Estados Unidos nas manifestações pró-Bolsonaro, com o título: “Um novo símbolo da direita brasileira: a bandeira americana”. Além de falar sobre a “abundância de elogios” aos EUA, o diário citou as camisetas com a imagem do chefe da Casa Branca no Rio de Janeiro e máscaras com o rosto dele no ato de Brasília.

“Embora o Bolsonaro tenha sido impedido de ocupar cargos públicos até 2030, manifestantes de direita ainda mantêm a esperança de que seus direitos políticos sejam de alguma forma restaurados. Muitos depositam sua fé na Casa Branca”, destacou o jornal, para o qual os atos mostram Jair Bolsonaro como “uma força política relevante no Brasil”.

O jornal também ponderou que a pressão de Trump sobre as instituições brasileiras em favor do ex-presidente teve, até agora, “pouco sucesso”. Para o NYT, as ações só serviram para fortalecer o apoio ao rival petista, Lula.

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No dia 6 de agosto, quando as tarifas impostas ao Brasil passaram a valer, o jornal publicou uma entrevista especial com Lula, com o título: “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. Isso porque o petista segue defendendo a soberania nacional e não dá “margem” de negociação a Trump — como outros países alvos das tarifas já fizeram.

O jornal ainda destacou que a tendência é de que Bolsonaro seja condenado nesta semana pelo STF pela participação na trama golpista: “Ele pode pegar mais de 40 anos de prisão”, escreveu um jornalista.

“América, salve o Brasil”

Já o jornal britânico The Guardian, de igual renome, destacou que os apoiadores de Bolsonaro foram às ruas “pressionar o governo e o Judiciário do Brasil” e para “implorar ao presidente dos EUA que intensifique ainda mais sua campanha de pressão”.

— Ele é o único que pode nos salvar… Trump é a nossa única salvação — disse um bolsonarista ao jornal, em Brasília.

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O Guardian também destacou as declarações de Lula, que condenou as tentativas estrangeiras de influenciar decisões das autoridades brasileiras e chamou de “traidores” os políticos de direita que incentivavam a campanha de Trump. A matéria também citou a existência de símbolos estadunidenses nas manifestações pró-Bolsonaro e faixas, como a que estava num carro de som na capital federal, com os dizeres: “América, salve o Brasil”.

O Al Jazeera, canal de televisão árabe de notícias e atualidades via satélite, disse que os brasileiros marcaram o Dia da Independência do país com manifestações em apoio e contra o ex-presidente. O jornal destacou também as dezenas de anos que ele pode pegar no julgamento da trama golpista. 

O canal trouxe também como o julgamento do aliado gerou “a ira” de Trump e citou a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no ato de São Paulo e do senador Flávio Bolsonaro, no Rio, com a camisa “Bolsonaro 2026”, em defesa da anistia e da participação do pai na eleição.

Já a agência de notícias Associated Press disse que  “dezenas de milhares” de apoiadores do ex-presidente foram às ruas no domingo para protestar contra o STF. Na matéria, a AP ressaltou que, “nos últimos anos, os aliados de Bolsonaro transformaram o dia 7 de setembro em uma demonstração anual de força política” e que, desta vez, “Lula buscou direcionar o foco do Dia da Independência para a soberania”.

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A agência informou, ainda, que o “alvo favorito” dos bolsonaristas foi o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso. Destacou, também, que vários apoiadores usavam itens ligados a símbolos americanos. Também deu destaque à bandeira gigante dos EUA no ato da Avenida Paulista e ao discurso “emocionado” de Michelle.

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No jornal francês Le Monde e no espanhol, o El País, os atos de 7 de setembro também ganharam destaque. O francês classificou os atos bolsonaristas como “última resistência ou contra-ataque”, citou a bandeira dos Estados Unidos em São Paulo como uma forma de “implorar ajuda” de Trump e destacou Moraes como o “principal alvo”. O espanhol descreveu a participação de Michelle Bolsonaro, os ataques ao STF, os apelos por anistia e a postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

“O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto por muitos como um substituto menos radical de Bolsonaro, atacou o juiz Moraes, chamando-o de “tirano” e ditador. Ele também defendeu a anistia e a inocência de seu mentor político e disse que ‘é essencial que Bolsonaro seja eleito em 2026′”, escreveu o El País.

*Sob supervisão de Giovanna Pacheco

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