Os ataques à credibilidade das pesquisas eleitorais já se alastraram pela profunda rede de mobilização política nos aplicativos de mensagens. A situação é monitorada pela Justiça Eleitoral, que planeja coibir a divulgação notícias falsas envolvendo as consultas de intenção de voto nas eleições de 2022.
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Mais de 3,7 mil envios acusando fraudes em institutos de pesquisa ou disseminando enquetes fictícias foram detectados pelo monitoramento do NetLab, laboratório de pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O levantamento considerou 566 grupos de WhatsApp e 1.100 grupos no Telegram de bolsonaristas, de dezembro de 2021 a abril deste ano.
Contrapor a popularidade dos candidatos nas ruas à liderança nas sondagens oficiais — as clássicas montagens com fotos de aglomerações de esquerda versus direita — ou legitimar enquetes enviesadas foram alguns dos mecanismos identificados pelo laboratório.
Para um levantamento ser considerado regular, o instituto deve prestar uma série de informações que permitam sua fiscalização. Sem esses requisitos, os levantamentos são considerados enquetes informais, proibidas durante o período de campanha sob pena de multas acima de 70 mil reais.
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— Há diversas formas de colher a impressão do eleitorado de forma equivocada. Enquetes nas redes sociais não têm um alcance capaz de irromper as bolhas. Algoritmos podem colocar determinado ator daquele segmento político em contato direto com seus seguidores — explica Maximiniano Sobral, secretário judiciário do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC).
Com a capilarização das campanhas nas redes, as consultas de intenção de voto se tornam um ponto de referência sobre a tendência do eleitorado. O diretor geral do Datafolha, Mauro Paulino, destaca que, apesar das pesquisas não funcionarem como prognóstico das eleições, ainda apoiam os eleitores no processo decisório.
— A pesquisa dá oportunidade para o leitor se localizar. Quais são os candidatos com mais chances, como está o seu candidato em relação aos outros e, mais ao final do processo eleitoral, a possibilidade de um cálculo sobre voto útil. Esse é um pensamento racional e legítimo — defende.
Além da função norteadora da pesquisa, as sondagens contínuas compõem a narrativa das eleições, conforme analisou a CEO do Ipec Inteligência, Márcia Cavallari (ex-Ibope). Para ela, o conjunto de estratégias de campanha e até o conteúdo moldado pelos algoritmos das redes sociais pesam na decisão do voto. Até o momento em que o eleitor entra na cabine, o voto pode mudar.
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— Se todo mundo estivesse votando de acordo com a pesquisa, não veríamos viradas. Na prática, o que vemos são várias dinâmicas das campanhas em função da conjuntura de cada localidade quando fazemos os monitoramentos das intenções de voto — explica Cavallari.
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Mais transparência
Embora os veículos de imprensa sejam clássicos contratantes das pesquisas, não são os únicos. Uma parcela das sondagens, financiadas por partidos políticos, empresas e associações de classe, têm uso estratégico.
Paulino, do Datafolha, prevê que nestas eleições gerais, pela primeira vez, os levantamentos contratados por instituições financeiras serão a maioria. O perigo do avanço do mercado financeiro no controle da informação eleitoral, avalia, é a especulação sobre ativos.
— O resultado, à medida que a eleição se aproxima, vai se tornando cada vez mais valioso. Quem recebe o resultado antes tem a possibilidade de fazer aplicações no mercado financeiro, fazendo a análise de como isso pode impactar a bolsa ou o dólar, por exemplo.
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O Datafolha, embora autônomo em relação à Folha de S. Paulo desde os anos 1990, faz pesquisas de intenção de voto apenas para o jornal. Os resultados viram matéria até duas horas após envio do Datafolha e são liberados no site do instituto em até 24 horas.
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Novas regras para 2022
Os institutos são obrigados, desde 1º de janeiro, a regularizar as pesquisas na Justiça Eleitoral. Neste ano, as regras para divulgação das enquetes antes do período de campanha foram flexibilizadas. Se antes a veiculação era estritamente proibida, agora basta destacar que não há registro no TSE.
Um movimento identificado nas eleições municipais de 2020 foram pesquisas contratadas por valores irrisórios ou de empresas sem capacidade técnica. Essa tentativa de burlar a fiscalização também será combatida pelo TRE, segundo Sobral. Os candidatos, partidos, coligações podem pedir para “abrir a caixa preta” do controle interno dos institutos de pesquisa. As federações partidárias, “casamento” de partidos autorizados nestas eleições, também podem pedir acesso às informações.
Sobral destaca que conferir se a pesquisa eleitoral está regularizada no TSE é a forma mais segura de checar a credibilidade dos dados, mas há outras pistas para identificar resultados distorcidos.
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— As ferramentas tecnológicas podem manipular uma pesquisa real para inverter o resultado. É importante que o eleitor cheque os dados em uma fonte confiável, como um veículo de imprensa, e não se limite à rede social. Toda pesquisa relevante é seguida de uma série de análises e debates, principalmente nas vésperas das eleições — explica.
Prazos do primeiro turno
1º de janeiro: registro obrigatório da pesquisa cinco dias antes da divulgação
26 de setembro: último dia para registro de pesquisas
1º de outubro: último dia para divulgação de resultados
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Diferença entre enquetes e pesquisas
O principal divisor entre as pesquisas e a enquete é a representatividade do conjunto de entrevistados. Os institutos ouvem um grupo de pessoas, chamado de amostra, que corresponde às proporções vistas na sociedade. Ou seja, regiões, idades, gêneros e outros critérios têm pesos diferentes. De acordo com Cavallari, as entrevistas de intenção de voto são presenciais nos principais institutos para levar em conta a inclusão digital.
— Por telefone, uma parte do eleitorado estaria fora do processo de amostragem. Se você tem uma eleição com clivagem social muito forte, por exemplo, com um candidato com força maior entre eleitores de classe alta e outro candidato da classe mais baixa, você deixa de fora o perfil específico de eleitor sem telefone — ressalva.
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Embora os ataques às pesquisas apontem manipulação nas amostras, quem está imerso na rotina da estatística aplicada explica quão difícil é fraudar um resultado.
— Para se manipular um resultado de pesquisa é preciso ter a concordância de muitas pessoas envolvidas, porque são várias etapas realizadas simultaneamente ou num curto espaço de tempo. O que pode acontecer é um instituto distorcer a composição da amostra. Por exemplo, entrevistar mais pessoas com escolaridade alta, favorecendo candidatos com votação mais alta nesses segmentos — afirmou Paulino.
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