O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu nesta quarta-feira (17) acatar o recurso do Brusque e retirar a punição da perda de três pontos pelo caso de racismo envolvendo o jogador Celsinho, do Londrina. A decisão foi por seis votos a dois.
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O tribunal, no entanto, manteve a suspensão de 360 dias ao conselheiro, com multa de R$ 30 mil, além da punição de R$ 60 mil ao Brusque pelo novo julgamento do caso que aconteceu na semana da Consciência Negra. Os catarinenses foram apenados com a perda de um mando de campo.
Durante uma partida válida pela série B do Campeonato Brasileiro, em 28 de agosto, o então presidente do conselho deliberativo do clube, Júlio Antônio Petermann, teria dito ofensas ao jogador.
Com a modificação, a equipe passou de 41 para 44 pontos e pulou da 15ª para a 14ª colocação na tabela. A nova condição, entretanto, ainda não livra matematicamente o Brusque de um rebaixamento para a série C.
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Julgamento durou mais de cinco horas
A sessão foi iniciada por volta de 11h30 e se estendeu por pouco mais de cinco horas. Celsinho participou e chegou a se pronunciar vestindo a atual versão da camisa do Observatório de Discriminação Racial, alusiva a luta do combate ao racismo.
— Sou pai de dois filhos, tenho que dar esclarecimentos diariamente por essa e outras situações. Tenho um filho que todo santo dia me pergunta em relação a esse problema. Se já acabou tudo isso em relação ao meu cabelo, a me xingarem. Volto a frisar: é um presidente do conselho que tinha que dar exemplo — disse o meio-campista.
No dia do julgamento, ele também lembrou o dia em que viu a esposa e o filho de 14 anos chorarem por conta da situação.
— Me deparei com minha esposa chorando, com o meu filho chorando, o meu de cinco anos tentando entender o porquê das lágrimas. Me perguntando até se eu deveria cortar o cabelo para que a mãe e o irmão não chorassem mais. Me causou um estrago muito grande, um dano grande pessoal e profissional — completou.
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Além do jogador, o julgamento contou com a presença de integrantes das federações dos estados do Paraná, Santa Catarina e Bahia, além de adversários diretos na luta contra o rebaixamento, como Vitória e Ponte Preta.
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Advogado tentou minimizar o caso
A decisão foi por maioria dos votos dos auditores que divergiram do relator Maurício Neves Fonseca, que definiu pela permanência da perda dos três pontos do time na Série B, assim como a suspensão e multas aplicadas ao clube e ao dirigente.
Representado pelo advogado Osvaldo Sestário Filho, que ficou conhecido pela derrota na defesa da Portuguesa no caso Héverton, que culminou com o rebaixamento da equipe paulista para a Série B, em 2013, o Brusque procurou minimizar o caso tentado desqualificar o termo “cachopa de abelha”, utilizado para ofender Celsinho, como uma injúria racial
Sestário chegou a mencionar o zagueiro David Luiz, do Flamengo, afirmando que o mesmo termo não teria conotação racial se aplicado ao jogador.
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— O cachopa de abelha pode ser injúria, pode ser ofensa, mas um jogador branco que tem o cabelo como o David Luiz pode ser chamado como cachopa de abelha? Acho que sim. E seria injúria racial? Não, não seria — justificou.
O advogado iniciou a sua fala dizendo que o julgamento “não poderia ser pautado apenas por estarmos às vésperas da Consciência Negra”, além de pedir para que a decisão não tivesse influência externa da mídia.
— Devemos ter consciência sobre qualquer preconceito, sobre qualquer atitude aqui julgada 365 dias no ano, não apenas em um dia — complementou.
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Ele ainda argumentou que o termo era desconhecido pela maior parte das pessoas, inclusive por Celsinho, e que o caso não era de “extrema gravidade” mencionando ainda que atletas da equipe do Brusque negros, e com o mesmo cabelo, não se sentem ofendidos com o termo.
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O advogado do Londrina, Eduardo Vargas, criticou o posicionamento do Brusque mencionando que o clube “quer ver esquecida a dor de Celsinho”.
— Até quando toleraremos racismo na sociedade brasileira? Até quando seremos coniventes com a fala do advogado do Brusque dizendo que o clube não pode ser apenado da forma como foi porque tem vários atletas com cabelos semelhantes. Até quando vamos relativizar condutas criminosas? Isso é como o camarada que diz que não é racista, pois ‘até tem um amigo negrinho — disse Vargas.
Os jogadores do Brusque tiveram um representante à parte, o advogado Marcelo Franklin. Ele defendeu que os jogadores do clube não poderiam ser prejudicados por uma questão na qual não estavam envolvidos.
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Relembre o caso
O caso ocorreu no final de agosto. Celsinho chamou a atenção da arbitragem para ofensas que recebia de pessoas que estavam na arquibancada.
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Na súmula, o juiz Fabio Augusto Sá Júnior relatou que um integrante do estafe do Brusque gritou para o armador: “Vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha”.
Depois, o Brusque ainda divulgou uma nota diminuindo o caso e insinuando que o jogador queria se promover. À reportagem Celsinho afirmou que essa foi a gota d’água.
Ele também afirmou que suas ações não se limitam ao âmbito desportivo. Avisou que também agirá nas esferas criminais e cíveis contra o Brusque e o conselheiro.
O jogador também sofreu com outras duas situações semelhantes nesta temporada, sempre com menções ao cabelo black power.
Dois profissionais da Rádio Bandeirantes de Goiânia e um locutor da Rádio Clube de Belém usaram falas racistas como “cabelo pesado”, “bandeira de feijão” e “negócio imundo” para se referir ao jogador. Eles pediram desculpas públicas e foram afastados pelas emissoras.
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