Morador de Imbituba, no Sul de Santa Catarina, Magdiel Bastos, de 35 anos, passou por uma experiência tensa em meio ao desejo de servir a Ucrânia no conflito diante da Rússia. Com promessas e garantias financeiras por parte dos recrutadores, ele viu no alistamento a chance de dar uma vida melhor à esposa e aos três filhos. Em julho, ele viajou ao leste europeu, mas em poucos dias desistiu da ideia e retornou ao solo brasileiro.

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No dia 19 de julho, Magdiel embarcou com destino à Europa. Após algumas escalas de voos, ele aterrissou na Polônia, onde pegou um trem até Kiev, na Ucrânia. Para a reportagem do NSC Total, o imbitubense contou que inicialmente o principal motivo para encarar o desafio foi financeiro, além de ter o desejo de ser um militar por já praticar tiro com frequência.

Aproximadamente 15 dias após se alistar, ele foi chamado por um recrutador, que o explicou sobre valores e o enviou o contrato para servir as forças armadas ucranianas por três anos.

— Ele fez uma entrevista comigo, falou sobre o salário, que seria R$ 5 mil por mês, mas caso eu fosse para linha zero, o “front”, o salário seria de R$ 25 mil, e caso eu fosse morto em combate, a minha esposa e meus filhos teriam uma indenização de R$ 2 milhões pagos em cinco anos — detalhou o catarinense.

Após receber o documento, ele conversou com os dois filhos mais velhos e a esposa, que não queriam que ele fosse, mas com o objetivo em mente, Magdiel foi à Europa. Ele chegou a vender itens de casa para pagar a passagem. Porém, chegando lá, a empolgação e o foco na missão foram tomados por desconfiança.

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O imbitubense conta que era próximo de Gustavo Viana, de Laguna, que também havia ido para a guerra, mas chegando no local, recebeu a notícia que o amigo tinha morrido servindo o batalhão que ele também faria parte.

— Nesse batalhão haviam morrido seis brasileiros e um colombiano. Era um batalhão de língua portuguesa e espanhola. Aí pensei que pelo menos a família estaria amparada, mas quando fui ver o contrato, percebi que não era nada do que haviam passado para mim. Mentiram para mim — afirma.

Após se informar com pessoas que estavam servindo na guerra, Magdiel descobriu que, na verdade, o salário era de apenas R$ 2,5 mil e, caso fosse para a linha de frente, ele ganharia até uma bonificação entre R$ 10 a 15 mil, muito abaixo do prometido.

— Falaram que estavam colocando os estrangeiros na linha de frente. Estavam morrendo muitos brasileiros. E eu só teria indenização [para a família] se achassem o meu corpo, o que 90% das pessoas não conseguem recuperar, porque o exército russo avança — ressalta.

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Dessa forma, o brasileiro decidiu que precisava voltar para casa e rever seus familiares.

Dificuldades para retornar à SC

Após as “desilusões” no local, no dia 21 o catarinense deixou o solo ucraniano e foi à embaixada da Polônia para conseguir mais informações. Ele chegou a receber inicialmente um valor equivalente a R$ 300 e precisou dormir em um albergue, sem sequer se alimentar por alguns dias.

No entanto, com o auxílio de amigos e familiares brasileiros, que realizaram uma vaquinha, ele passou a se bancar no local e dias depois, um amigo empresário o ajudou nos custos das passagens de volta. O início da viagem aconteceu no dia 28 de julho, e alguns dias depois ele desembarcou em solo catarinense, onde está novamente com a família.

No dia 14 de setembro será feito um torneio beneficente para repor o valor doado pelo amigo de Magdiel. O catarinense tinha o objetivo de abrir um negócio com o dinheiro que seria conquistado na guerra, mas precisou mudar os planos. Agora, em casa, Magdiel está empregado e se arrepende de ter tentado servir na guerra.

— Eu aconselho as pessoas a não ir. Parece que querem que a gente vá só com uma passagem de ida. Eles têm muitas armas, mas não tem mão de obra, pessoas, por isso estão recrutando — completa.

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