Em contraste com o Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil, que não vê problemas na prescrição de cloroquina contra a Covid, as associações médicas de diversos países desenvolvidos encamparam iniciativas para combater o uso desses remédios, ineficazes contra o coronavírus.
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Com 12 regiões em risco moderado, SC tem o melhor cenário na pandemia
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Estão em polo oposto ao do CFM associações dos Estados Unidos, da França, de Portugal, da Argentina, do Uruguai e do Chile, entre outros países. Na Venezuela, em contrapartida, a defesa da cloroquina e da hidroxicloroquina ainda é uma realidade.
A Associação Médica Americana (AMA), por exemplo, foi para as redes sociais combater a desinformação. A entidade que representa os médicos do país publica vídeos quase todos os dias em seu canal do YouTube para trazer atualizações sobre mudanças, avanços e resultados de novos estudos sobre a Covid-19.
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A AMA defende o uso das orientações do governo americano e de tratamentos avalizados pela FDA (agência que aprova medicamentos nos EUA). Um dos programas do canal entrevistou John Farley, diretor da agência, sobre uso da ivermectina.
“As pessoas precisam saber que há estudos clínicos que mostram que não há nenhum benefício ao usar a ivermectina e que os estudos que apontaram algum benefício foram feitos em outros países, sem nenhuma supervisão do FDA, então não temos como confirmar se os resultados são reais ou não”, afirmou Farley.
A AMA, junto com a APhA (associação de farmacêuticos dos EUA), se opõe sem hesitação ao uso do remédio para combater o coronavírus.
A entidade também defende a vacinação obrigatória dos profissionais de saúde. “O caminho para terminar a pandemia deve ser baseado na ciência, e a vacinação é parte indispensável da solução”, disse Gerald E. Harmon, presidente da AMA, em comunicado.
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Outras medidas do governo dos EUA, como as doses de reforço e a vacinação de crianças, também foram endossadas.
O guia de tratamento do governo americano recomenda que não haja uso de cloroquina e azitromicina. Até agora, apenas o remdesivir foi aprovado para o tratamento.
Apesar das orientações federais, há grupos que defendem a ivermectina e até divulgam lista de médicos dispostos a prescrever o remédio, apesar da falta de evidências científicas.
Os médicos nos EUA têm autonomia para tratar os pacientes, mas podem ser responsabilizados caso sua atuação seja considerada inapta ou antiética.
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“A ampla maioria dos médicos trabalha em hospitais ou instituições ligadas a universidades ou a operadoras de planos de saúde. A maioria deles segue as determinações do CDC [Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA]”, diz Maricella MacKenzie, professora de medicina na Universidade de Michigan.
O código de ética da AMA também inclui a obrigatoriedade de que profissionais denunciem casos de colegas que atuem de modo antiético ou incompetente.
“Os grupos que defendem tratamentos alternativos são muito atuantes em redes sociais, e muita gente só se informa por lá. Muitos dizem por aí que não acreditam na Covid ou nas vacinas. Há um componente político, especialmente em estados vermelhos [de maioria republicana], de questionar as vacinas em prol de tratamentos alternativos”, diz MacKenzie.
O ex-presidente republicano Donald Trump, que deixou o cargo em janeiro, deu muitas declarações minimizando a pandemia. Ele chegou a defender o uso de cloroquina como tratamento, assim como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Médicos espalham informações falsas também na Europa
Médicos que espalham informações falsas sobre vacinas contra Covid ou pseudotratamentos são também uma preocupação na Europa, embora a ação dos conselhos profissionais varie muito de região para região e haja poucos casos públicos de punição.
Um dos mais recentes aconteceu na Irlanda, no final de setembro. Após decisão do tribunal independente de prática médica (MPTS), Anne McCloskey foi proibida de atuar por 18 meses, por disseminar na internet comentários antivacinação.
McCloskey publicou em agosto um vídeo dizendo que não havia evidências suficientes de que a imunização era segura para jovens e disse que a vacina era uma “terapia genética experimental”.
Quando surgiram as denúncias, ela foi suspensa provisoriamente pelo Conselho de Saúde e Assistência Social, “como medida de precaução enquanto realiza uma investigação completa”. Agora será investigada pelo Conselho Médico Geral (GMC) da Irlanda.
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Na França, a Ordem dos Médicos soltou em fevereiro deste ano um alerta contra médicos que prescrevem hidroxicloroquina ou óleos essenciais como forma de prevenir a Covid.
Entre esses profissionais, está em investigação a psiquiatra e deputada Martine Wonner, que foi expulsa de seu partido por “transmitir regularmente informações falsas sobre o coronavírus”.
Em seu site, Wonner divulgava também como tratamento contra o coronavírus zinco, vitaminas C e D, ivermectina, homeopatia e sofrologia (técnica de relaxamento).
Associações médicas e tribunais regionais alemães também dispararam recentemente uma série de investigações por causa do aumento da presença de médicos em protestos negacionistas.
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No mês passado, a Associação Médica Alemã anunciou que vai tomar medidas legais contra os médicos que, ao participar de atos contra o combate à pandemia de Covid, prejudicaram a reputação de seus colegas.
Além de associações médicas estaduais, tribunais distritais também têm agido contra profissionais da área que disseminam informações falsas.
Na Espanha, áudios com informações falsas sobre o coronavírus, negando sua gravidade e combatendo o isolamento, são disseminados por médicos que fundaram o grupo Doutores pela Verdade.
Em julho, eles fizeram um evento para negar a pandemia e combater o uso de máscaras e a vacinação, o que deu origem à abertura de investigações em organizações médicas espanholas.
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De acordo com os conselhos, além de ser muito grave para a saúde individual e coletiva, a desinformação disseminada por médicos compromete a credibilidade dos outros profissionais.
Em Portugal, casos semelhantes têm sido punidos com multas, e desde o ano passado professores de direito discutem a possibilidade de criminalizar os que contribuem para a disseminação da pandemia.
A tese defendida em artigos de revistas especializadas é que esses profissionais podem ser enquadrados no “crime de propagação de doença contagiosa”, para o qual é prevista pena de prisão de 1 a 8 anos.
Na Bélgica, um médico foi suspenso por tempo indeterminado por fornecer a pacientes, sem que eles pedissem, atestados médicos que os isentavam de cobrir o rosto.
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Ele já havia sido suspenso pelo conselho local por ter se recusado a usar máscaras em serviço e afirmou que a pandemia era uma conspiração. Sua licença foi retirada por “colocar pacientes e a saúde pública em perigo”.
Venezuela mantém recomendação de uso da cloroquina
A hidroxicloroquina e a cloroquina foram incluídas nos protocolos de tratamento contra o coronavírus, com o aval dos conselhos de medicina locais, na Colômbia, em El Salvador, na Venezuela, no Peru e na Bolívia -esses últimos dois países também receitaram a ivermectina.
Na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e no Chile, os conselhos médicos se posicionaram pela proibição de ambos.
O último país a abandonar a recomendação foi o Peru, em março deste ano. A Venezuela ainda mantém. Em todos eles, se estabeleceu que os medicamentos só fossem administrados com prescrição médica.
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“Nos primeiros meses da pandemia, as pessoas chegavam passando mal, tinham coronavírus, mas estavam com vários sintomas que eram por conta de reação a esses medicamentos. Era difícil diferenciar e tratar”, afirma a sanitarista Patricia García, ex-ministra da saúde do Peru .
“Não era apenas deixar de aprovar, deveríamos ter sido mais enfáticos em fazer publicidade sobre os riscos do uso indiscriminado dessas medicações.”
“A automedicação causou grave prejuízo para o enfrentamento da pandemia. Não dava para pôr polícia nas portas das farmácias, e as pessoas estavam desesperadas”, afirmou o infectologista mexicano Uri Torruco.
* Por Rafael Balago, Ana Estela de Sousa Pinto e Sylvia Colombo
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