O apresentador Faustão passou recentemente por um retransplante de rim e um transplante de fígado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O caso despertou curiosidade, considerando que nos últimos anos ele já passou por outros dois transplantes, totalizando quatro procedimentos.
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De acordo com a SC Transplantes, dois casos semelhantes, em que pessoas também passaram por quatro transplantes, foram registrados em Santa Catarina. Dois pacientes, uma mulher e um homem, já passaram por quatro transplantes de fígado.
Em ambos os casos, três procedimentos foram motivados por complicações precoces, com necessidade de retransplante, e um por complicação tardia. Um dos pacientes teve boa evolução, já sobre o outro caso, não há informações do estado de saúde atual.
Joel de Andrade, coordenador da SC Transplantes, explica que também há casos no Estado de pessoas que passaram por três transplantes. São em torno de dez pacientes de transplante renal e pouco mais de cinco casos para transplante hepático que receberam o primeiro, segundo e terceiro enxerto, explica o médico.
O retransplante não é comum, segundo o coordenador da SC Transplantes. O mais comum é que os pacientes tenham a resolução do problema de saúde após receber o enxerto. Eventualmente, em enxertos hepáticos ou cardíacos que não funcionam, eles podem ser retransplantados ou perdem a vida.
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— Todos os pacientes que são retransplantados e perdem, por alguma razão, o enxerto, seja por rejeição, trombose, qualquer complicação cirúrgica ou clínica, eles voltam para a lista e são retransplantados quantas vezes forem necessários — detalha.
O que é retransplante
O retransplante, conforme o Professor Dr. Luiz Carneiro, cirurgião do aparelho digestivo, é um procedimento complexo para substituir um órgão transplantado que falhou. As indicações para o retransplante incluem rejeição crônica, complicações vasculares e recorrência da doença original.
Transplantes ficam mais complexos
À medida que os pacientes são retransplantados, o corpo se sensibiliza e forma anticorpos contra os enxertos, o que torna os transplantes cada vez mais difíceis e mais complexos. Esse processo ocorre especialmente com os pacientes transplantados de rim, segundo o médico.
— Agora, o paciente, quando precisa de um transplante, ele precisa transplantar, porque não existe outra alternativa ao transplante, especialmente quando a gente fala de coração, pulmão ou de fígado. Já no caso do transplante renal, existe a diálise que pode servir de ponte entre um procedimento e outro — destaca o coordenador da SC Transplantes.
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O retransplante feito por Faustão, de rim, é o mais comum. Quando o enxerto renal é perdido por rejeição, problema vascular ou outros motivos, o paciente volta para a fila de transplante e tenta retransplantar, como foi o caso do apresentador.
De forma geral, a recuperação de transplantes, consideradas cirurgias de grande porte, acontecem inicialmente na UTI, nos primeiros dias, até que o paciente seja transferido para uma enfermaria após melhora na condição clínica. Todos os pacientes transplantados recebem imunossupressores, medicamento para regular a resposta imune, o que aumenta a chance de infecção e tumores. Por conta disso, é necessário um cuidado com o pós-operatório devido ao risco de infecções agudas.
O caso de Faustão
Faustão passou por um transplante de fígado na quarta-feira (6) combinado a um retransplante renal. Ele está internado desde o dia 21 de maio no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma infecção bacteriana aguda com sepse.
Segundo médicos, o procedimento de retransplante renal era aguardado há um ano e foi realizado na quinta-feira (7). O apresentador agora passa por um controle infeccioso e está em reabilitação clínica e nutricional para que o quadro de saúde se estabilize.
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Em janeiro, Faustão precisou ser internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, também para tratar uma infecção. O apresentador já foi submetido a um transplante de coração, em agosto de 2023, e a outro de rim, em fevereiro de 2024.
No caso de Faustão, os órgãos transplantados (fígado e rim) vieram de um mesmo doador, o que pode aumentar as chances de compatibilidade. A Central de Transplantes de São Paulo acionou o hospital após a identificação de um doador compatível e a confirmação da viabilidade dos órgãos para o apresentador. Mais detalhes sobre o processo de transplante de Faustão não foram divulgados.
Como funciona a lista de espera de transplantes em SC
A lista de espera para um órgão funciona em Santa Catarina como no restante do Brasil. Os pacientes que são avaliados pelas equipes de transplantes têm seus dados inseridos nas centrais de transplantes através das listas de espera. Essas listas formam um conjunto de receptores, que são atendidos à medida que as doações acontecem.
Quando a doação ocorre, dados como tipo sanguíneo, Antígenos Leucocitários Humanos (HLA), altura, peso e outros são inseridos em uma base de dados que busca os receptores mais compatíveis. Os critérios técnicos estabelecidos para cada um dos tipos de transplantes são considerados para selecionar os receptores que receberão a doação.
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— Cada fila funciona de um modo distinto, por exemplo, para coração, um dos dados experimentais, além de tipo sanguíneo, é o peso do paciente. Já para pulmão, além do tipo sanguíneo, a altura do paciente é muito importante pela dimensão do pulmão — esclarece.
Quanto mais grave o paciente, mais rápido ele deve receber o órgão. Os receptores mais parecidos geneticamente com a pessoa que faleceu têm preferência no recebimento. A exceção é a fila de transplante de córnea, que é uma fila “indiana”, um atrás do outro, a menos que alguma urgência ocorra.
Índice de não autorização familiar
A SC Transplantes, que coordena as atividades de transplantes de órgãos no Estado, atua na capacitação de profissionais que estão em contato direto com as famílias, para que, com acolhimento correto, abordem a doação de órgãos.
Joel de Andrade afirma que, em 2007, a taxa de não-autorização familiar era de 70% — ou seja, 7 em cada 10 famílias diziam não para a doação de órgãos. Entre 2019 e 2020, esse índice chegou a 25%, número que tem recuado novamente nos últimos anos.
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Santa Catarina trabalha para diminuir a não autorização familiar com a educação dos profissionais de saúde. A SC Transplantes realiza desde 2010 cursos de comunicação em situações críticas e possui um grupo de instrutores vinculados à Central de Transplantes, que ensina técnicas de comunicação aos profissionais.
— Quase 3 mil profissionais de saúde catarinenses já foram treinados nessas técnicas, e com isso nós vamos tendo um aprimoramento da relação que se dá entre os profissionais de saúde e as famílias. E é dessa comunicação empática, acolhedora, que nasce a possibilidade da solidariedade — finaliza.
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