A decisão de adiar o reinício das aulas presenciais em Santa Catarina para 12 de outubro confirma a visões de especialistas que apontam que o momento atual da pandemia do novo coronavírus no Estado não é favorável para uma retomada das atividades nas escolas. Antes mesmo de SC confirmar o adiamento para outubro, nas cidades de Santa Catarina as redes municipais já tinham forte encaminhamento para que a suspensão das aulas se mantivesse por pelo menos mais um mês. 

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A presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação de Santa Catarina (Undime-SC), Patrícia Lueders, afirma que o cenário atual da saúde no Estado torna difícil imaginar qualquer retomada de atividades presenciais neste momento. Em Blumenau, cidade onde atua como secretária, o município já havia adiado o retorno para outubro na semana passada.

Ela afirma que no início da pandemia do novo coronavírus a pressão de pais era grande, mas que aos poucos esse movimento mudou e que agora muitos pais preferem que as atividades não retornem. A dirigente considera cedo para avaliar se será possível retomar as aulas presenciais ainda este ano, e diz que a avaliação é mês a mês. 

– Os pais nesse momento estão com preocupação de que seu filho tenha segurança, e não de quando as aulas vão voltar – afirma a dirigente. 

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O coordenador estadual do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de SC (Sinte-SC), Luiz Carlos Vieira, engrossa o coro dos que rejeitam uma volta neste momento em que a pandemia ainda está em alta no Estado.  

– Esse não é o momento para retornar. SC vive momento gravíssimo e a educação não pode ser esse agravante no contágio da covid-19. Esse é momento que as redes têm para se prepararem para quando tivermos a garantia de saúde e de vida para todos, retornarmos, com todos os cuidados – avalia. 

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Especialistas da saúde defendem que não é momento para volta das aulas 

Contato entre os estudantes facilitaria novos contágios de covid-19 entre estudantes, alertam especialistas
Contato entre os estudantes facilitaria novos contágios de covid-19 entre estudantes, alertam especialistas (Foto: Leo Munhoz, Diário Catarinense, arquivo)

Especialistas da área da saúde apontam que um possível retorno das aulas presenciais em setembro seria uma medida equivocada. 

O professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Fabrício Menegon, afirma que o Estado ainda tem uma taxa de transmissão do vírus elevada para projetar um retorno. 

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– Não existem condições adequadas para o retorno presencial neste momento. O cenário epidemiológico é desfavorável para qualquer atividade que envolva aglomeração de pessoas, mesmo que haja restrições de acúmulo de estudantes dentro das salas, ocupação menor. Por um motivo simples: a dinâmica do contágio leva em consideração o contato entre as pessoas – avalia. 

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O especialista alerta que as escolas são locais com muita movimentação de alunos, professores e pais que levam e buscam os estudantes, e que isso representa risco para as famílias. 

– As crianças, nesse trânsito de sair de casa e ir à escola, podem trazer o vírus para casa, contagiar adultos, principalmente os do grupo de risco, e aí você tem um cenário nada favorável, com possibilidade real de que o adulto fique doente e evolua para forma grave. 

Segundo ele, mesmo com as medidas que escolas da rede particular defendem para retomar as aulas já neste momento, o retorno não seria seguro. 

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– Até o fim do ano o Estado não reúne condições necessárias para voltar com segurança. Já está mais do que claro isso, pelo cenário epidemiológico, que piorou muito em SC nas últimas seis semanas – sustenta.

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A médica infectologista Sabrina Sabino, de Blumenau, diz que uma possível volta das aulas presenciais pode causar um “boom” de casos de covid-19 em crianças. Por isso, é preciso saber se há organização para atender esses casos com equipes médicas e disponibilidade de leitos de UTI pediátrica, por exemplo. Pontos que não costumam ser muito discutidos no planejamento da retomada. 

– No início da pandemia achávamos que estava tudo bem, que as crianças eram apenas transmissores, mas agora sabemos que podemos ter doença mais grave nas crianças também. Quanto mais as preservarmos nesse momento, mais adequado vai ser – aponta.

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Ela afirma que voltar a fazer as crianças irem para a escola vai colocá-las novamente no transporte público, em circulação com outros alunos e, consequentemente, em exposição para o vírus. 

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– Todo mundo já se adaptou à situação atual. Sabemos das dificuldades das escolas públicas e particulares, mas não é o momento para uma retomada – defende. 

Amazonas foi primeiro Estado a retomar aulas presenciais

Escolas de Manaus iniciaram retorno às aulas presenciais no último dia 10
Escolas de Manaus (AM) iniciaram retorno às aulas presenciais no último dia 10 (Foto: Eduardo Cavalcante)

O Amazonas foi o primeiro estado do Brasil a retomar as aulas presenciais após a pandemia do novo coronavírus. Por lá, as escolas reabriram no último dia 10, com uma série de medidas como instalação de pias e dispositivos de álcool gel, uso de máscaras e modelo híbrido, conciliando atividades remotas e presenciais. As turmas também foram divididas em dois blocos e comparecem em dias alternados, evitando aglomerações. 

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação do Amazonas informou que o retorno foi definido após o órgão estadual da saúde constatar queda e estabilização dos números de covid-19 na capital. A retomada também considerou o comportamento do novo coronavírus após o reinício das aulas na rede privada em Manaus, autorizadas a reabrirem há mais de um mês.

A secretaria afirma que a divulgação do plano de retorno ajudou a reduzir a resistência dos pais e diz que, com pouco mais de uma semana de aulas, o comparecimento é de 77% entre os estudantes.

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O órgão ressalta que são as autoridades de saúde as responsáveis por nortear o possível retorno às escolas, “com base em dados, pesquisas e estatísticas que deem segurança aos pais e responsáveis”.

– O retorno às aulas presenciais enfrenta diversos fatores como evasão, saúde psicossocial e emocional dos servidores e toda comunidade escolar, dentre outras questões. Por isso, é importante que o trabalho pedagógico foque não somente em resgatar o período de aprendizagem perdido, mas trace estratégias que para viabilizar essa aprendizagem dentro das diferentes realidades da rede pública – afirma Luis Fabian, secretário de Educação em exercício do Amazonas.

Apesar da avaliação positiva do governo local, na última semana foram registrados protestos de pais e professores contra a retomada das aulas presenciais no Amazonas. Segundo o sindicato dos professores de Manaus, 50 professores já teriam testado positivo para covid-19 desde a volta às aulas, no início do mês. Segundo o portal G1, o governo estadual alega que seriam apenas oito casos, adquiridos fora das escolas.

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MEC define protocolo de segurança para orientar retorno

O Ministério da Educação (MEC) publicou em julho um protocolo de biossegurança para orientar o retorno às aulas. O documento recomenda a Estados e municípios medidas como turmas escalonadas, distanciamento social, ventilação das salas, medição de temperatura de alunos e professores, uso de máscaras e de álcool em gel 70% e evitar cumprimentos com aperto de mãos e abraços. Para alunos dos grupos de risco, as escolas devem considerar estratégias para repor as atividades após o fim da pandemia. 

Apesar disso, o MEC não estabelece prazos para a retomada das aulas. O documento define que o retorno das atividades presenciais deve ser orientado pelo governo local e pelas autoridades sanitárias. Para universidades, o MEC já autorizou a prorrogação do ensino remoto até o fim de 2020. 

Procurada pela reportagem, o MEC afirmou que “as redes estaduais e municipais têm autonomia administrativa e didático-pedagógica de acordo com a Constituição Federal” e que, por isso, compete a elas decidir sobre o retorno às aulas. 

Uma recomendação do Conselho Nacional de Educação, órgão que auxilia o MEC, sugeriu que pais possam decidir sobre a volta ou não dos filhos às salas de aula sem punições a quem optar por seguir com o ensino a distância. 

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Nesta semana, cinco meses após a suspensão das aulas presenciais por causa da covid-19, o MEC anunciou que irá oferecer planos de internet a cerca de 400 mil alunos da rede federal com renda baixa.

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