Tudo indica que o pico da pandemia do novo coronavírus em Blumenau ocorreu no fim de julho. É isso que mostra um levantamento feito pelo Santa com base nos dados referentes à Covid-19 repassados diariamente pela Secretaria Municipal de Promoção da Saúde.

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O gráfico aponta que o crescimento exponencial de novos casos começou em 7 de julho e alcançou o pior cenário no dia 26, com uma média móvel (entenda abaixo) de 293,4 novos testes positivos diários. Esse número elevado, na casa dos 290 novos diagnósticos, se estendeu por quatro dias. Desde o início de agosto, porém, há registro de queda.

Especialistas ouvidos pela reportagem sinalizam que o momento mais delicado da pandemia em Blumenau pode ter ocorrido no mês passado. Mas a principal preocupação é o quanto essa “sensação de alívio” pode impactar diretamente no desrespeito ao isolamento social.

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Um exemplo é o Dia dos Pais: você, leitor, provavelmente viu diversas fotos e vídeos publicados nas redes sociais e que mostram famílias inteiras reunidas para celebrar a data. O último 9 de agosto, inclusive, é o que coloca um pé no freio do otimismo de infectologistas e especialistas da área da saúde.

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— Aparentemente saímos do pico, mas há um porém: no Dia dos Pais houve muita movimentação na cidade, e agora a gente fica na expectativa dos números a partir da próxima terça-feira (18/7). Se confirmar o viés de baixa, ufa, demos um belo passo. Agora se voltar [a aumentar o número de novos casos], significa que perderemos todo o empenho — afirma Eduardo Werneck Ribeiro, professor do Instituto Federal Catarinense (IFC) e integrante da Rede Nacional de Geógrafos para Saúde.

Lojistas apostaram em promoções para amenizar impactos da crise da Covid-19 no Dia dos Pais.
Lojistas apostaram em promoções para amenizar impactos da crise da Covid-19 no Dia dos Pais. (Foto: Patrick Rodrigues)

É consenso entre as fontes ouvidas pela reportagem que os decretos com restrições impactaram positivamente nos números em Blumenau do fim de julho em diante. Os ônibus do transporte coletivo na cidade estão parados desde 14 de julho. Linhas intermunicipais com grande fluxo de passageiros, como das empresas Rainha (Indaial), Volkmann (Pomerode), Verde Vale (Ilhota e Gaspar) e Presidente (Alto Vale) também não podem passar pelo perímetro urbano do município.

Isso, aliado à breve suspensão do comércio não essencial e à fiscalização do cumprimento das regras de distanciamento social contribuiu no desafogo do cenário.

— Os óbitos que estamos tendo na região são de pessoas que foram hospitalizadas lá atrás, entre os dias 5, 10 de julho. Estamos num platô agora. Percebemos os atendimentos na central de triagem, emergências, e mesmo em UTIs, sensivelmente menores nos últimos 10 dias, com uma procura por internações menos enlouquecida, como estava. Em outros lugares esse cenário [de platô] durou de 4 a 8 semanas. Já estamos na quarta semana. Então talvez mais um mês para termos uma queda persistente — aponta o infectologista Ricardo Freitas.

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Na avaliação da médica Sabrina Sabino, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia e faz parte do Comitê de Enfrentamento da Covid-19 em Blumenau, o pico ocorreu por conta da falta de gestão do governo do Estado, que não orientou as prefeituras sobre restrições.

As medidas adotadas localmente — mas que não tiveram respaldo de outras cidades na região do Médio Vale — aliviaram os números, fizeram com que Blumenau vivesse um breve platô e, agora, impactassem na queda no nos novos casos.

Sabrina diz que historicamente já há uma tendência de diminuição de síndromes gripais em agosto e que o Dia dos Pais, de fato, precisa ser levado em consideração daqui para frente.

— Já imaginávamos que o pico seria no final de julho e com queda em agosto porque essa é a sazonalidade das síndromes gripais há décadas. Mas, sem dúvidas, sobre o Dia dos Pais, teremos uma resposta dentro de sete a 14 dias. Mas com um detalhe: não teremos grandes acumulados de novos casos, o que dará uma sensação de que está tudo bem, quando na verdade não está — ressalta a infectologista.

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Números de mortes disparou

Embora os números de novos casos e a procura ao Ambulatório para Casos Suspeitos de Coronavírus — montado na Vila Germânica — tenham diminuído, outros indicadores revelam certa preocupação.

O índice de letalidade, por exemplo, alcançou a maior marca em Blumenau desde maio, chegando a 0,81% — taxa que está em ascensão desde a metade de julho, quando estava na casa dos 0,50%. As mortes relacionadas à Covid-19 também dispararam: em 12 de julho, eram 17. Hoje, são 84, sendo que 14 só nos últimos três dias.

O indicador de casos ativos também registrou diminuição considerável desde 29 de julho, quando 3.140 pessoas estavam, simultaneamente, infectadas pelo coronavírus. Esse número diminuiu para 1.985 no último domingo (9) e se estabilizou em pouco mais de 2 mil no início desta semana.

No último relatório divulgado pela prefeitura de Blumenau, eram 8.275 pacientes considerados recuperados da Covid-19, o que corresponde a 79,4% do total de casos confirmados, 10.416.

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Há, ainda, 107 pessoas hospitalizadas com Covid-19 ou sintomas da doença em Blumenau. São 59 em unidades de terapia intensiva (UTIs) e 48 em leitos de enfermaria.

Cenário do coronavírus em Blumenau

Veja no gráfico o número de testes positivos, pacientes recuperados e de casos ativos da Covid-19 em Blumenau:

O que é média móvel

A média móvel de novos casos de coronavírus é o total dos últimos sete dias dividido por sete. Esse índice ajuda a diminuir diferenças entre as confirmações de dias de semanas e finais de semana, por exemplo, e dá uma dimensão mais realista do cenário da pandemia. 

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