O desempenho de Santa Catarina no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb 2019, confirmou a piora já esperada nos anos finais do ensino fundamental e mostrou resultados de ações adotadas no ensino médio, um gargalo histórico do Estado. Essas são as principais avaliações do secretário de Estado da Educação de SC, Natalino Uggioni, sobre as notas do Estado no Ideb 2019, divulgadas nesta terça-feira (15) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação.

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A reportagem do Diário Catarinense entrevistou o secretário para avaliar o desempenho do Estado em cada etapa do ensino básico e apontar quais os planos para manter os bons indicadores e reverter a situação em áreas como os anos finais, que tiveram piora na nota em 2019. Confira:

Desde 2013 os anos finais do ensino fundamental têm apresentado um desempenho que fica abaixo das metas na rede pública e estadual em SC. O aluno que saía muito bem dos anos iniciais, pegava uma etapa com tropeços e chegava ao ensino médio muito defasado. Agora a situação piorou nos anos finais. Por que isso aconteceu e o que precisa ser feito para retomar as metas?

Primeiro, temos que ter clareza de que a educação não dá resultado em curto prazo. Não pode se esperar mudança de cenário da educação em um ano de gestão. É (preciso) no mínimo dois anos para a frente, para ter continuidade nos processos e colher bons resultados.

Nesse sentido, os dados representam que SC se preocupou com o ensino médio, que é onde tínhamos dados muito preocupantes, alta evasão, baixo desempenho, pouco interesse dos estudantes, fizemos esforço nesse nível, e hoje vimos melhores resultados.

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Mas os anos finais foram uma faixa que ficou de certa forma num segundo plano. Vamos ser justos, é o mesmo desempenho no Brasil. O desempenho dos estudantes nos anos finais fica aquém do esperado. Mostra claramente que precisamos de atenção especial nessa faixa, evidentemente não deixando de dar atenção para as outras faixas, para que a gente possa colher melhores resultados investindo mais em ações nessa faixa de estudos.

Aí podemos falar o que temos feito para despertar o interesse dos estudantes nesses anos finais.

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Quais seriam os desafios para os anos finais, então? Como reverter esse resultado?

Nessa linha, temos para começar uma ferramenta de inteligência de dados que nos dá a possibilidade de chegarmos ao nível da escola. Temos condição de ação muito pontual naquelas escolas onde precisamos subir o nível da qualidade. Evidentemente que elas puxam a média para baixo. Se a gente fizer uma ação pontual, e a ferramenta hoje nos permite isso, certamente Santa Catarina vai colher bons resultados.

Segundo ponto: na nossa gestão hoje tratamos toda a rede de forma igual, homogênea, e a gente não pode falar de como era no passado. A gente pode assegurar que hoje todas as escolas são tratadas da mesma forma, independente do município, região ou número de alunos.

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Precisamos melhorar a taxa de aprovação. Não por aprovar, mas sim com qualidade.”

Outro ponto: investir na melhoria da qualidade física, seja em prédio ou infraestrutura interna, com móveis, equipamentos de tecnologia, lousas digitais, elementos que tornem a escola atrativa. Investimento na formação continuada de professores, incentivo para que tenham boas condições, sentimento de pertencimento fortalecido em relação à escola. São ações que vamos dar sequência e acreditamos que com a gestão nesse foco, SC vai colher melhores resultados não só nos anos finais, como em todo o ensino básico do Estado.

A gente já tinha um plano de ação organizado por conta dos indicadores de gestão do governo, e agora vamos inserir ações em decorrência desse resultado que recebemos. Por exemplo: uma proposta de recuperação no final do ano. Porque se a gente olhar o desempenho dos alunos nas disciplinas, a gente melhorou. Só que quando se vê o desempenho na aprovação é que puxa o indicador para baixo. Aí requer nossa atenção. Precisamos melhorar a taxa de aprovação. Não por aprovar, mas sim com qualidade. Se oportunizarmos a recuperação para estudantes que precisarem, quem sabe eles consigam demonstrar que assimilaram o conteúdo, e a gente melhora a taxa de aprovação e consegue melhores resultados.

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É com esse conjunto que a gente espera colher bons resultados. Não de um ano para outro, mas de gestão continuada. Em alguns indicadores estamos entre os melhores nacionais, o que mostra que fizemos o dever de casa. Agora ficou provado que a gente precisa continuar trabalhando intensamente nos anos finais, sem esquecer dos anos iniciais e ensino médio, onde a gente já encontrou o rumo, mas concentrar um pouco mais de esforços nos anos finais.

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A melhora do Ideb no ensino médio é reflexo da implantação das escolas em tempo integral? O que explica esse fôlego, que, embora positivo, na prática só cumpre a meta de 2011?

O ensino médio integral e em tempo integral se mostraram muito positivos em termos de resultados. Por isso essas escolas que implantaram esse formato estão servindo de referência para o Novo Ensino Médio. O Novo Ensino Médio vem com a perspectiva de responder àquelas expectativas dos estudantes, de que essa faixa de estudo faça sentido para sua carreira e sua trajetória de vida. A gente fala na construção do projeto de vida do estudante, do protagonismo do jovem.

Temos programas implementados no ensino médio e que também temos aplicado nos anos finais do ensino fundamental. Temos ensino do empreendedorismo. Vai impactar quando trabalhar no seu projeto de vida no ensino médio, mas mas estamos realizando desde anos finais, de 6º ao 9º ano. Ensino de linguagem de robótica e programação, também está sendo trabalhado nessa faixa. Educação maker. São todas iniciativas que esperamos que despertem ainda mais interesse pela aprendizagem. Antes de ser bom para nós, é bom para cada um deles. Vai fazer a diferença na sua trajetória de vida, e se reverte em ganho para a sociedade como um todo.

O ensino integral então foi o principal responsável pela melhora no ensino médio?

A educação é bastante ampla. Seria até uma injustiça se afirmássemos que foram somente esses aspectos. Como o ensino médio vinha apresentando resultados ruins e pontos de atenção gritantes, SC fez opção acertada de concentrar esforços nessa etapa. Essas iniciativas vieram para somar a esse plano de ação que está em curso, e que agora ganha reforço, com definição do novo currículo e com advento do Novo Ensino Médio, que é esse que tem possibilidade do estudante escolher qual trajetória que ele quer seguir na sua carreira. Esse conjunto de ações, toda a gestão, esse despertar no jovem para o mundo do trabalho, levar a ele que existem oportunidades quando ele sai do ensino médio. Quando vou a uma escola e tem terceiro ano do ensino médio, faço questão de entrar na sala para conversar com os estudantes. E é preocupante quando você pergunta quem vai fazer vestibular, alguns levantam a mão, quem vai fazer formação técnica, outros tantos levantam a mão, e grande maioria não levanta a mão, sendo que é o último ano que estão conosco.

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É preocupante quando você pergunta quem vai fazer vestibular, alguns levantam a mão (…), e grande maioria não levanta a mão, sendo que é o último ano que estão conosco.”

A partir dessa vivência prática passamos a fazer um chamamento, primeiro, dos anos finais, e segundo, quando o aluno chega no ensino médio, a gente diz que ele só tem mais três anos conosco. A gente precisa começar a alertá-lo. Nessa linha fizemos programa com a Acate e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico para prepará-los para o mundo de TI. O setor historicamente requer muitos profissionais que não temos. Faltam 10 mil profissionais ao setor. Se continuarmos despertando nos jovens do ensino médio o interesse para o mundo da TI, em três anos imagino que tenhamos 30, 40 mil jovens interessados em adentrar nesse setor, porque já sairão com três anos de preparação e conhecimento que daremos.

Trabalhando nessa linha, acreditamos que SC continuará colhendo bons resultados no ensino médio, e investindo nos anos finais vamos fortalecer também essa etapa, e alunos chegarão com o que eu chamo de “gostinho de quero mais” para o ensino médio, e SC ganha como um todo.

Nos últimos anos, o discurso era de que o ensino médio era o gargalo de SC. Mas agora o ensino médio teve melhora na nota, enquanto o fundamental recuou. Faltou atenção ao fundamental?

A gente não pode avaliar as decisões feitas no passado, mas quando a gente chegou aqui na pasta, no início de 2019, a equipe já trouxe esse sinal de alerta de que precisávamos realmente desenvolver ações para melhoria do resultado nesta etapa intermediária, entre anos iniciais e ensino médio. Então já trabalhávamos com essa perspectiva. A prova foi aplicada em 2019, portanto com muito pouco tempo para que pudéssemos colher resultados. Daí que essas ações que a gente colocou em curso, a gente aposta que uma próxima avaliação já mostre os resultados que esperamos. A equipe técnica já sabia da necessidade de maior atenção a esta etapa, e o resultado comprovou o que a equipe já tinha como possibilidade. O que reforça a importância de darmos sequência à atenção aos anos iniciais e ensino médio, mas concentrarmos um pouco mais de esforços e atenção a esse plano de ação, que já está em curso, para os anos finais. Era demais esperar que nós, iniciando em 2019 e colocando essas ações em curso, que colhêssemos resultados já em 2019. Já tínhamos convicção de que precisaríamos de mais tempo para colher esses resultados.

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Primeiro, nossa leitura é de que as escolas da rede não eram tratadas de forma homogênea, igualitária, mas é uma leitura nossa, e que nós mudamos completamente. Hoje as 1.065 escolas são tratadas com a mesma prioridade. Os investimentos em tecnologia e melhoria feitos para uma, vale para todas as demais. E a infraestrutura, grosso modo, metade das escolas ficaram de lado em termos de investimento e melhoria por muitos anos, isso também se reflete na qualidade da educação. Mas a análise que a equipe técnica trouxe foi em decorrência dos estudos anteriores, do Ideb anterior.

O ensino fundamental sempre foi um destaque de SC desde o primeiro Ideb. Em 2019 os anos iniciais parecem ter atingido estagnação, mantendo a nota estável em 6,5, mas diminuindo a vantagem que tinha sobre a meta. Por que isso aconteceu? Isso preocupa?

Temos leitura de que a base do desempenho dos estudantes nessa faixa etária é a boa alfabetização. Qual é nossa ação nessa direção: termos uma política estadual de alfabetização. Alguns estados já implementaram e já colheram resultados nesse sentido. Não apenas garantir acesso à escola, mas garantir que crianças sejam bem alfabetizadas, na idade certa. A criança bem alfabetizada na idade certa, tem já comprovado cientificamente melhor desempenho na sua trajetória estudantil. Se ela souber ler bem, escrever bem, interpretar o que ler na idade certa, certamente vai ter melhor desempenho. Aí vem esse aspecto que vai se somar à política estadual de alfabetização.

Outra iniciativa que merece destaque: programa Tempo de Aprender, do MEC. É uma ação nacional que trabalhamos juntos, tive a felicidade de trabalhar no grupo técnico que vai alinhar as ações, puxado pelo MEC, em parceria com Consed e Undime. É mais uma iniciativa do alinhamento como deve ser, federal, estadual e municipal, também aposto que vai contribuir para melhorar também nos anos iniciais. Na última chamada de professores, contemplamos grande número para anos iniciais, coisa que historicamente não vinha sendo feito. Isso foi divulgado ano passado. Nesses programas está contemplada uma boa formação para que esses professores tenham condições de fazer ainda melhor o trabalho de alfabetização. Com isso, a gente colhe melhor resultados.

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