Deve ser as paisagens. Ou as cenas que elas proporcionam. Alguma explicação tem que ter para tanta gente escolher Itajaí como lugar de morada. Do primeiro Censo dos anos 2000 até o último, há três anos, a população aumentou em 116 mil pessoas. Agora, quando comemora o aniversário de 165 anos, celebra também os 265 mil habitantes. 

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São homens e mulheres, crianças e adultos, que decidiram viver no município mais rico do Estado. E quem faz isso acontecer são os cidadãos. Nely Mario Lyra, ou simplesmente seu Nico, faz Itajaí acontecer, com certeza. Todo sábado, quando a feira do Fiuza Lima abre, ele está lá vendendo o que planta no bairro São Roque.

— Eu estou na plantação. Eu tenho uma terra em Botuverá e aqui também. A laranja vem de lá e o mel também — conta o agricultor e feirante. 

Nico é agricultor e feirante em Itajaí (Foto: NSC TV, Reprodução)

A relação com o freguês é de intimidade, afinal, desde 1989 ele está por ali. Seu Nico viu a feira mudar.

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— Naquele tempo estava toda quebrada. Ainda ficava um longe do outro. O pessoal ficava embaixo da telha. Aí eu trabalhava lá atrás e a gente se espalhava, porque ela estava toda quebrada — relembra seu Nino. 

Obras e mais obras depois, a feira hoje é outra. É também mais familiar. Até para ele, que hoje divide a banca com o filho, a nora e a neta. Assim como essa, muitas outras bancas também são de famílias vendendo cargas de frutas e verduras. Boa parte chega de caminhão. Essa, aliás, é outra categoria que faz Itajaí acontecer. 

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“Melhor cidade para se viver”

Na feira, no porto. Por onde se olha, tem um caminhoneiro pronto para conduzir todo tipo de riqueza que essa terra produz. 

— Comecei no porto de Itajaí, de criança, vendendo picolé. E aí fui me envolvendo com os caminhões e fazendo amizades. O nosso município respira transporte, estocagem, armazenagem. Aí eu me apaixonei por caminhões — confessa o caminhoneiro Janseron Maçaneiro. Para os mais íntimos, o Patrola. 

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Patrola conhece muitos lugares no Brasil, e Itajaí é o preferido (Foto: NSC TV, Reprodução)

Hoje, o Patrola ganha a vida no caminhão. Fica de 30 a 40 dias fora de casa. Poderia, tranquilamente, ter se encantado com outra cidade e ficado por lá ficado. Mas quem disse que ele quer? 

— Como eu conheço bastante o resto do país, eu tenho uma certeza absoluta: Itajaí é o melhor lugar pra se viver — crava o caminhoneiro. 

A partir dessa movimentação de cargas que o Janderson faz parte, comércios como o da Ana Paula se abastecem. A pastelaria que ela é dona está há quatro décadas no Centro de Itajaí. Um negócio que começou com os pais, nascidos e criados na terrinha. 

— Os dois eram naturais de Itajaí. Minha mãe é filha de pescador e meu pai, cedo, iniciou no comércio em uma loja muito tradicional da cidade. Aí passaram aqui na frente e viram a placa de “vende-se pastelaria”. Então meu pai pensou assim: “Ah, vamos tentar” — conta Ana. 

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A tentativa deu certo. O negócio prosperou. Depois do falecimento dos pais, Ana Paula seguiu tocando tudo junto com o esposo. Quanto mais a cidade cresce, mais novos clientes vêm. Mas ainda tem muita gente que visita a pastelaria em busca de nostalgia.

— Clientes que vinham com os pais, daí hoje já são adultos e estão trazendo os netos. Às vezes uns dizem: “Aí, que saudade da minha vó, de tomar a laranjinha e a bananinha que ela comprava”. Então tem uma memória afetiva muito grande — confidencia a empreendedora. 

Ana segue o trabalho que começou com os pais (Foto: NSC TV, Reprodução)

Sabe o que mais causa muita memória afetiva aqui? As águas. Do rio ou do mar, elas são responsáveis pela renda e histórias de muito itajaiense. 

— Quando eu era pequenininho, vinha aqui na beira do Rio Itajaí-Mirim, o meu avô já pescava tainha. E naquela época eu lembro que não tinha rede, não tinha tarrafa, não tinha nada. Pegava a bateirinha, ia ali no rio, eles batiam no piri, a tainha caía dentro da batera — recorda Arlindo Fernandes, pescador. 

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“A adrenalina vai a mil, meu amigo”

Arlindo é chamado há décadas de Legendário, de tanta história que tem. Ele se diz especialista em pesca de robalo. Já passou por muito perrengue.

— Quando você pega um robalo de oito, 10, 12 quilos no caniço e dá o guascaço que te leva todo para o fundo, a adrenalina vai a mil, meu amigo. Você tem que ficar ligado, senão cai da pedra e leva um tombo —alerta. 

A vida profissional dele foi quase toda na Univalli. Entrou como office boy, saiu coordenando publicações de livros e revistas. A pesca realmente é um hobby. Aposentado atualmente, ele aproveita para viver a cidade com tempo.

— Porque tu faz muitos amigos, pessoas bacanas, sinceras. São uns amigos muito bons que tu faz em Itajaí. Então te cativa. E outra coisa. Em matéria de emprego, o pessoal vem para  Itajaí, tem trabalho — garante. 

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O legendário pescador Arlindo (Foto: NSC TV, Reprodução)

Cidade que mais empregou em 2025

Isso é verdade. Na indústria, foi a quinta cidade de Santa Catarina que mais empregou no ano passado. Entre os destaques, o setor pesqueiro. A  Vitalmar está completando 30 anos. Um negócio familiar, que começou em uma Itajaí bem diferente da atual. 

— Era uma cidade pequena, ela tinha a pesca, tinha o porto e tinha a madeira como base da economia. Não tinha a indústria — conta o empresário Dario Luis Vitali. 

Hoje, a indústria emprega centenas de famílias em Itajaí. 

— É uma empresa que produz pescados congelados e nós estamos em um novo momento, tentando fazer com que nossos produtos sejam mais vendidos, mais conhecidos e comercializados e mais consumidos aqui próximo, na região Sul — aponta Vitali. 

A sete quilômetros da Vitalmar, na mesma Itajaí, a atividade muda o som da máquina de costura. É dona Ana Maria Corbetta, aposentada, fazendo a cidade acontecer. 

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— Vou fazer 86 anos agora dia 27 de julho — conta a idosa, que ao ser questionada sobre há quantos anos borda, ela responde: desde os 4 anos de idade o “castigo” dela era bordar.

A mãe de dona Ana achava que era um castigo. Quando a filha não fazia algo que era para ser feito, a ordem era bordar. E ela se encantou. Isso em um tempo em que nem casas de aviamentos existiam em Itajaí. 

— Até coisa para bordar era muito difícil. A gente ia pra Blumenau buscar. Agora melhorou. Hoje tem de tudo, do [produto] vagabundo e do [produto] bom. Mas melhorou — garante rindo. 

Dona Ana se apaixonou pelo bordado cedo (Foto: NSC TV, Reprodução)

Ela, que já ganhou a vida bordando, hoje faz por lazer, quando dá. Dona Ana lida com o Parkinson. 

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— Agora eu faço quando é possível, quando eu quero, quando estou com vontade, quando eu não estou tremendo muito — admite a aposentada, que reconhece a importância do crescimento de Itajaí, mas tem uma saudade da pequena cidade do passado.

— Eu acho melhor meu tempo de infância. Era mais pacata a cidade, não tinha esse movimento maluco — defende.

O futuro até preocupa alguns deles, como seu Nico, do começo desta reportagem: 

— Olha, vai ser complicado. Porque o São Roque está virando cidade muito rápido. Itaipava também. Colônia Japonesa é só galpão. Então daqui a 10, 15 anos não tem mais terra de colono. 

Mas só se preocupa assim quem ama

— É uma cidade fantástica, linda, que continue assim — deseja seu Arlindo.

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