Roger Gusmão, marido de Catarina Kasten, morta aos 31 anos na última semana na trilha da Praia do Matadeiro, em Florianópolis, enviou uma carta aberta para ser lida em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), nesta quinta-feira (27). No texto, ele defende a mudança do nome da praia em homenagem à professora de inglês, violentada e assassinada no local.
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A carta foi lida pelo deputado estadual Marquito (Psol) na audiência pública que aconteceu nesta tarde. O documento inicia com uma apresentação de Roger, que conta que vivia há cerca de quatro anos com Catarina na Praia do Matadeiro, afirmando que considera o local um paraíso, “onde carro não chega e a comunidade é pacífica e acolhedora”.
“Alguns pensam que apoiar a mudança do nome é apagar a história. Mas a história é exatamente o acompanhamento das mudanças que vivemos ao longo do tempo. A Praia do Matadeiro tem esse nome porque se tornou um lugar onde matavam-se baleias. É um lugar onde, historicamente, há morte. E infelizmente, Catarina foi violentada e brutalmente assassinada ali“, escreveu.
Para Roger, o assassinato de Catarina faz com que um novo capítulo seja escrito na praia, sem a intenção de “apagar o que passou”, mas de “começar algo novo a partir desse marco”. O companheiro da professora de inglês argumenta que Florianópolis também já teve mudança de nome, já que se chamava Desterro até 1894 e foi renomeada em homenagem ao marechal Floriano Peixoto.
Roger também lembrou de um momento especial que teve com Catarina dias antes do assassinato, quando estava sentado com a jovem na areia da praia, olhando para o mar.
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“Praia Catarina remete tanto à minha Catarina quanto ao nosso estado Santa Catarina. Que reescrevamos agora essa história, para que esse lugar lembre luz e esperança de um mundo melhor para as mulheres“, afirmou na carta.
Leia a carta na íntegra
“Caros Vizinhos,
Aqui é Roger Gusmão.
Sou morador da Praia do Matadeiro há aproximadamente 4 anos junto com minha parceira de
vida, Catarina Karsten. Assim como vocês, sempre amamos esse lugar. Um paraíso onde carro
não chega e a comunidade é pacífica e acolhedora.
Alguns pensam que apoiar a mudança do nome é apagar a história. Mas a história é
exatamente o acompanhamento das mudanças que vivemos ao longo do tempo. A Praia do
Matadeiro tem esse nome porque se tornou um lugar onde matavam-se baleias. É um lugar
onde, historicamente, há morte. E infelizmente, Catarina foi violentada e brutalmente
assassinada ali.
Esse acontecimento fez nascer no coração de outros a compreensão de que é hora de
escrever um novo capítulo dessa história. A vontade não é de apagar o que passou de
começar algo novo a partir desse marco.
Nossa cidade, Florianópolis, também teve outro nome. Chamava-se Desterro. Foi renomeada
depois da revolta.
Hoje vivemos outra revolta. Catarina é um marco que veio para ficar, um marco da luta contra o
feminicídio.
Nós dois adorávamos aquela praia. No último final de semana a gente estava lá, sentado do
lado esquerdo, no fundo, olhando pro mar. Ela tinha uma câmera Polaroid e disse: “A próxima
vez que a gente vier aqui, a gente traz a Polaroid”. Eu tenho um conjunto de fotos dessa
câmera ao longo da vida dela, mas não daquele dia.
Praia Catarina remete tanto à minha Catarina quanto ao nosso estado Santa Catarina. Que
reescrevamos agora essa história, para que esse lugar lembre luz e esperança de um mundo
melhor para as mulheres.
Ilumina Catarina.
Do seu vizinho,
Roger Gusmao”
Veja fotos da audiência pública
Petição quer mudar o nome da praia
Um abaixo-assinado quer mudar o nome da Praia do Matadeiro para Praia Catarina Kasten. A proposta, que contava com mais de 6 mil assinaturas até a manhã desta quinta-feira (26), busca homenagear a estudante e dizer “de forma pública e permanente” que a vida das mulheres importa.
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Segundo a petição, a ideia não é apagar a história do Matadeiro, mas acrescentar uma nova camada de significado ao local. “É uma forma de dizer que Catarina não será esquecida, que a sua presença permanece, e que essa cidade não aceitará que vidas como a dela desapareçam sem deixar marcas profundas”, diz um trecho da proposta.
Conforme a Câmara Municipal de Florianópolis, normalmente é um processo longo, visto que envolve questões culturais e turísticas da cidade. Até a manhã desta quarta-feira (26), nenhum texto sobre o tema havia chegado ao legislativo municipal.
Relembre o caso
Catarina Kasten, de 31 anos, saiu de casa na Praia do Matadeiro para ir a uma aula de natação, na Praia da Armação, na sexta-feira (21), quando foi surpreendida por um desconhecido na pequena trilha que liga as duas praias. Catarina foi estuprada e assassinada. O corpo dela foi encontrado no mesmo dia, em uma área de mata perto da trilha. O suspeito confessou o crime e foi preso.
O suspeito de matar Catarina Kasten passou por uma audiência de custódia no sábado (22), um dia após ser preso em flagrante, e teve a prisão mantida pela Justiça. A defesa do homem é feita pela Defensoria Pública de Santa Catarina.
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O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios e segue para a 36ª Promotoria de Justiça da Capital, com atuação no Tribunal do Júri.
Catarina era estudante da pós-graduação de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora de inglês. Segundo o marido da vítima, Roger Gusmão, os dois planejavam construir uma casa na Praia dos Açores em janeiro do próximo ano.











