Moradores da Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha, em Florianópolis, discordam da mudança de nome do local para Praia Catarina Kasten, conforme proposto em um abaixo-assinado que quer homenagear a estudante vítima de feminicídio, na última sexta-feira (21).
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De acordo com a presidente da Associação de Moradores e Amigos da Praia do Matadeiro, Ana Cristina Rossi, a maioria dos residentes quer preservar o significado histórico do nome original da praia — referência à época em que havia caça de baleias na região.
— A gente entende, respeita [a proposta], mas não temos intenção de apoiar esse tipo de mudança, porque também é a nossa história, dos pescadores aqui da praia bem antigos, tem várias famílias tradicionalmente pesqueiras aqui — diz Ana Cristina.
Segundo ela, o nome “Matadeiro” está enraizado na comunidade.
— A Praia do Matadeiro simboliza a vida de tantas pessoas, pela questão histórica e cultural que envolve a pesca da baleia. Quando isso ocorreu, lá atrás, não era um crime matar baleias, era uma forma de subsistência das pessoas que aqui estavam — defende.
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A comunidade, segundo ela, pensa em outras formas de homenagem à estudante, como instalar um memorial ou uma placa no início da trilha.
— Nós estamos fazendo o possível para que isso não seja esquecido, para que a memória da Catarina não seja esquecida e que a gente possa andar tranquilamente na nossa trilha — afirma.
O que diz petição que quer mudar nome da praia
A proposta de mudar o nome da praia foi criada por amigos de Catarina Kasten na última terça-feira (25). Por volta das 10h desta quinta-feira (27), havia mais de 6 mil assinaturas a favor da mudança. O texto na íntegra pode ser conferido no site oficial do abaixo-assinado.
Segundo a petição, a ideia não é apagar a história do Matadeiro, mas acrescentar uma nova camada de significado ao local.
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“É uma forma de dizer que Catarina não será esquecida, que a sua presença permanece, e que essa cidade não aceitará que vidas como a dela desapareçam sem deixar marcas profundas”, diz trecho da proposta.
Marido de Catarina apoia a mudança
Já o marido de Catarina, Roger Gusmão, apoia a mudança. Ele e a esposa moraram dois anos no Matadeiro, de forma fixa, e mais dois anos durante temporada. Após o crime, ele deixou Florianópolis e foi passar um tempo com a família, em São Paulo.
— Um lugar que chama Praia do Matadeiro quer dizer que as coisas são mortas ali. Catarina morava naquela praia — diz.
Roger argumenta que Florianópolis também já teve outro nome, Nossa Senhora do Desterro, antes de ser rebatizada em referência ao presidente da época, Floriano Peixoto, no fim da chamada Revolução Federalista, em 1894.
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— As pessoas têm que entender que a história é reescrita de tempo em tempo. Catarina foi um marco que veio para ficar, para colocar em pauta o feminicídio — diz o marido da jovem.
O que precisa acontecer para mudar o nome da praia
A prefeitura de Florianópolis informou que para que uma praia da cidade mude de nome é necessário virar um projeto de lei na Câmara Municipal da Capital. Ou seja, é preciso que o texto consiga um número “considerado de assinaturas” e que um vereador entre com o projeto.
Conforme a Câmara Municipal de Florianópolis, normalmente é um processo longo, visto que envolve questões culturais e turísticos da cidade. Até a manhã desta quinta-feira (27), nenhum texto sobre o tema havia chegado ao legislativo municipal.
Veja fotos de Catarina
Caso Catarina
Catarina Kasten, de 31 anos, saiu de casa na Praia do Matadeiro para ir a uma aula de natação, na Praia da Armação, na sexta-feira (21), quando foi surpreendida por um desconhecido na pequena trilha que liga as duas praias. Catarina foi estuprada e assassinada. O corpo dela foi encontrado no mesmo dia, em uma área de mata perto da trilha. O suspeito confessou o crime e foi preso.
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O suspeito de matar Catarina Kasten passou por uma audiência de custódia no sábado (22), um dia após ser preso em flagrante, e teve a prisão mantida pela Justiça. A defesa do homem é feita pela Defensoria Pública de Santa Catarina.
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios e segue para a 36ª Promotoria de Justiça da Capital, com atuação no Tribunal do Júri.
Catarina era estudante da pós-graduação de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora de inglês. Segundo o marido da vítima, Roger Gusmão, os dois planejavam construir uma casa na Praia dos Açores em janeiro do próximo ano.






