Com os números de casos de coronavírus considerados controlados pela gestão municipal, Blumenau caminha em direção ao “novo normal”. Ao menos é essa a avaliação da médica infectologista Sabrina Sabino, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia. A especialista, porém, acredita que a cidade terá uma segunda onda da doença e arrisca dizer quando isso deve ocorrer: em novembro.
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Para explicar o que causará a elevação na quantidade de infectados, Sabrina analisa a união de três cenários: a volta às aulas, as reuniões clandestinas e o relaxamento com os cuidados básicos. Neste último não é preciso sair do bairro onde se mora para constatar que para muitos o vírus já não existe: máscaras no queixo e conversas calorosas a curta distância podem ser vistas em diversos locais.
Aliadas a esse descuido estão as reuniões cada vez mais frequentes entre amigos e familiares. Os registros de bares cheios e festas particulares são inúmeros, basta alguns minutos nas redes sociais para ver isso. Por outro lado, permanecem os pedidos das autoridades de saúde de que se mantenha o isolamento sempre que possível. Grandes eventos e aulas presenciais nas escolas estão suspensos desde o março.
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— Não está tudo bem. Eu entendo que as pessoas estejam de saco cheio do coronavírus, que falamos a mesma coisa o tempo todo, mas isso pode custar a vida de alguém da sua família — alerta Sabrina.
“Receio quanto às crianças”
A médica conta que percebe que a tradição das festas de outubro — ainda que todas tenham sido canceladas — pode surgir como vilã no combate ao coronavírus. Isso significa que as confraternizações devem se intensificar no próximo mês e o resultado virá semanas depois, em novembro. A questão vai piorar ainda mais se o retorno das aulas presenciais nas universidades e escolas realmente ocorrer.
— Tenho muito receio quanto às crianças, muito mesmo. Nós não estamos preparados para cuidar de crianças com coronavírus, não temos tantos leitos pediátricos. Elas possuem uma carga viral maior, transmitem com mais facilidade. Imagina várias juntas em uma sala fechada — diz Sabrina.
Em todo o Médio e Alto Vale do Itajaí são 20 leitos pediátricos mantidos pelo SUS, conforme dados do governo do Estado desta terça-feira (22).
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Sabrina explica que apesar das crianças não estarem nos grupos de risco da Covid-19, há estudos que mostram que alguns casos evoluem para uma síndrome mais grave, que exige tratamento intensivo cerca de um mês depois do diagnóstico para coronavírus. Não é preciso que muitas tenham essa manifestação mais rara para lotar os espaços hospitalares existentes.
— Nos outros países o segundo pico aconteceu depois da reabertura das escolas. Não dá para dizer que foi por causa disso, mas tem que ter um cuidado nesse retorno no estado — disse em uma live o secretário municipal de Promoção da Saúde, Winnetou Krambeck.
Nova onda x novo normal
Com ou sem aulas, Sabrina acredita que a segunda onda chegará em novembro, mas de forma mais branda que o observado em julho, quando a cidade teve uma média móvel de 293,4 novos testes positivos diários. Primeiro porque muitas pessoas já ficaram expostas ao vírus e se contaminaram, inclusive sem saber (os chamados assintomáticos). Segundo porque o estado estará se aproximando da estação mais quente do ano.
— Sabíamos que o pico seria em julho porque todos os anos o pico da influenza é em nesse período e a queda acontece em setembro. Como não temos a vacina contra o coronavírus, diferente da influenza, há grande possibilidade da segunda onda da Covid-19 chegar — explica.
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Sabrina não acredita que a cidade tenha atingido a imunidade de rebanho (quando boa parte da população fica imune por ser vacinada ou, neste caso, por já ter sido infectada).
— Existe essa possibilidade, mas ela á muito remota. Existe também a possibilidade de reinfecção, mas é muito baixa — tranquilizou.
Sabrina, como qualquer profissional da saúde, reforça que sem vacina a única forma de prevenção é o distanciamento social e todos os outros cuidados (como higienização constante das mãos e fugir de locais fechados com aglomeração).
O comportamento correto diante de atividades diárias nada mais é do que o “novo normal”. É por isso que Blumenau se aproxima do termo, porque ainda falta entendimento de parcela da população para a necessidade de permanecer com os protocolos cotidianamente.
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Coronavírus em Blumenau
Nesta terça-feira a prefeitura confirmou 12.732 casos de coronavírus na cidade. Destes, 314 estão em tratamento (casos ativos) e 96,4% são considerados recuperados. 148 pessoas já morreram devido às complicações da doença (taxa de letalidade de 1,16%). Nos hospitais há 16 internados em leitos de UTI (taxa de ocupação de 17%) e 19 em enfermaria (11%).