
Efeito da pandemia
Festa ajuda a movimentar toda a cadeia turística, injeta dinheiro na cidade e influencia também na arrecadação de impostos
O cancelamento da Oktoberfest de Blumenau em 2020 praticamente coloca fim a um ano considerado perdido para o turismo e o mercado de eventos. Setores econômicos beneficiados pela festa passarão os próximos dias avaliando os impactos – que serão grandes, mesmo que ainda não sejam completamente mensuráveis para fornecedores e prestadores de serviços. É a primeira vez que a festa não irá acontecer desde a primeira edição, em 1984.
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Segundo a secretaria de Turismo e Lazer, a Oktoberfest, em cenário normal, injeta cerca de R$ 240 milhões na cidade – ajudando a movimentar uma cadeia turística formada por cerca de 50 segmentos – e gera 6 mil empregos. Levantamento feito pela Secretaria da Fazenda a pedido da reportagem mostra que, somente com hotelaria, agências de turismo e guias de turismo, a perda no faturamento se aproxima dos R$ 20 milhões. A queda de receita com retorno de ICMS e ISS pode chegar a R$ 1,5 milhão.
Em maio, a prefeitura anunciou o adiamento do evento de outubro para novembro. Nos bastidores, já se admitia que, caso acontecesse, a festa não teria a mesma relevância financeira neste ano, consequência de uma previsível redução de tamanho e público. Mas muitos empresários acreditavam na possibilidade de melhora no quadro da pandemia até novembro e que a Oktoberfest poderia ajudar a resgatar a autoestima do blumenauense, como ocorreu no pós-enchente de 1984.
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A decisão, por outro lado, não chegou a surpreender. Quem atua no ramo já via outras festas e eventos com grande concentração de público serem cancelados ou adiados Brasil e mundo afora. O empresário Valmir Zanetti, sócio da Cerveja Blumenau, uma das fornecedoras da festa, avalia que a decisão foi “sensata e lógica”. O empresário Eduardo Krueger, da Bierland, também já se preparava para a notícia.
— Eu, pessoalmente, esperava esse comunicado a qualquer momento. Era certo que isso iria acontecer — conta.
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Havia certo consenso no trade turístico de Blumenau que uma definição sobre o futuro da festa não precisaria acontecer em maio. A avaliação era de que, até agosto, a pandemia poderia estar sob controle – o que não aconteceu. O posicionamento e as informações técnicas de autoridades de saúde, somados às incertezas do quadro sanitário e à falta de perspectiva de vacina e tratamento eficazes contra a Covid-19 em curto prazo, pesaram na tomada de uma decisão que se arrastava desde maio.
— Se a gente olhar pelo lado econômico, o desejo de todos era manter. Se olhar pelo lado da tradição e da nossa cultura, daquilo que é a nossa superação, todos desejariam manter. Mas olhando pelo lado da vida não dá para manter — diz o prefeito Mario Hildebrandt.
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Patrocinadores e fornecedores já foram comunicados e entenderam a situação, segundo Hildebrandt. O secretário de Turismo e Lazer, Marcelo Greuel, não esconde a tristeza. Em outras ocasiões, ele já repetia que muitas pessoas só se dariam conta da importância da festa para Blumenau quando ela não acontecesse:
— Seguramos até o último momento, mas as evidências foram claras. Eu sinto pelas bandas, pelos 6 mil empregos, pelo turismo, por hotéis, barres, restaurantes, pelos 800 músicos que têm uma vida ligada à Oktoberfest.
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Para Develon da Rocha, presidente da Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura (Ablutec) e do Blumenau e Vale Europeu Conventions & Visitors Bureau, “só um milagre” permitiria a realização da Oktoberfest deste ano. Ele diz que, cientes da possibilidade, empresários do ramo já discutiam alternativas para ocupar o calendário do segundo semestre. Ideias preliminares estão sendo debatidas, mas ainda não há nada programado.
Richard Steinhausen, integrante do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Blumenau e Região (Sihorbs), também diz que a decisão não pegou os empresários do ramo de surpresa. Com a gravidade da situação e com o cancelamento de grandes eventos em São Paulo e no Rio de Janeiro, seria natural Blumenau adotar a mesma postura.
— Nenhum outro evento de Blumenau tem o apego que a Oktoberfest tem. Não dá para julgar as decisões do prefeito e governador, essa é uma situação totalmente nova, mas quem conseguir sobreviver até ano que vem provavelmente precisará demitir bastante — avalia o empresário.
Em tempos de Oktoberfest, a ocupação em hotéis da cidade chega a 90%. No Réveillon o índice chegou a 100%, lembra Greuel. Sem atrações previstas para o resto do ano, o movimento na rede hoteleira deve ser mínimo. Steinhausen comenta que mesmo podendo receber pessoas a serviço da Saúde e outros setores essenciais, muitas empresas estão adiando o envio de funcionários à cidade devido ao alto contágio do coronavírus.
Sem vacina contra a Covid-19, não há previsão para que aglomerações voltem a ser permitidas. Enquanto remédio e tratamento não chegam, o setor turístico, avalia Greuel, continuará amargando prejuízos e tentando escapar das demissões, que com o prolongamento da pandemia passam a ficar mais frequentes.
— Mesmo se tivermos a vacina, 2021 será um ano difícil. Foi doído cancelar a Oktoberfest, mas mais que necessário — avaliou Greuel.
O Parque Vila Germânica deve permanecer fechado por tempo indeterminado. O próximo evento que ainda não foi cancelado, mas que depende da evolução da doença para ocorrer, é o Magia de Natal. A Sommerfest tampouco foi adiada até o momento. Porém, falar dela, por enquanto, ainda é cedo, diz o secretário.