Um levantamento feito pela prefeitura de Blumenau a pedido do Santa mostra o tamanho do gargalo por exames e consultas no SUS. Somente entre as 10 especialidades com as maiores filas de espera há pacientes aguardando por atendimento desde março de 2018. A demanda sempre foi grande, mas aumentou 70% este ano em relação ao período pré-pandemia. A chegada da Covid-19 é um dos fatores apontados pelo governo como responsáveis pelo crescimento.
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Exames de ultrassonografia, endoscopia digestiva, oftalmológicos ambulatoriais, consulta em psicologia, cardiologia, colonoscopia, dermatologia, urologia, cirurgia vascular e otorrinolaringologia lideram o ranking em 2021. Juntos, somam 34.542 solicitações pendentes. No ano passado, eram cerca de cinco mil pessoas a menos nesta fila. Em relação a 2019, o número de pacientes em espera estava em aproximadamente 20 mil, conforme o levantamento da prefeitura.
— Nós tivemos um tempo parados com esses exames, mas a demanda continuou porque seguia o atendimento na atenção básica demandando exames clínicos e consultas em outras especialidades. Então, sim, a pandemia teve influência em represar. Outro fator é o regramento sanitário. Antes poderia atender cinco ou seis pacientes num espaço tempo, aí tive de reduzir para dois, por causa da Covid — justifica o secretário de Promoção da Saúde, Winnetou Krambeck.
Se quase 35 mil solicitações aguardando liberação assusta, é preciso saber que o número não para por aí. Ao todo são 260 especialidades disponíveis no sistema público de saúde em âmbito municipal e se considerar todos estes, o volume de pessoas esperando sobe em mais 30 mil. Resultado? São cerca de 65 mil pedidos de exames e consultas com especialistas à espera de autorização. É possível que se tenha mais de uma pendência por paciente, mas a prefeitura não sabe quantificar.
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A angústia da espera
Michele Duggen, 34 anos, machucou o olho em março do ano passado, logo no início da pandemia da Covid-19. Procurou a unidade de saúde perto de casa e passou por três consultas médicas para tratamento. Tudo correu bem rápido até ela precisar de um ultrassom ocular para ver se ficaram sequelas da lesão. Aí caiu na fila de espera, onde segue até hoje.
— Agora tem uma cicatriz na córnea e na última consulta o médico solicitou um ultrassom, mas nunca mais entraram em contato comigo para fazer o exame. Eu sempre tive problema de visão e até o ano passado era um certo grau, aí em quando voltei na optometrista o grau estava muito maior. Estou esperando esse ultrassom para saber se a lesão contribuiu para esse agravamento — explica.
Durante a reportagem, Michele soube pela clínica que a previsão é que o exame dela ocorra no fim deste mês, mas que deve aguardar o contato do posto de saúde, o que ainda não aconteceu. Enquanto o dia do procedimento não chega, a tosadora vive o receio de estar comprometendo, cada dia mais, a visão.
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A preocupação também acompanha Jurema de Fátima dos Santos, de 47 anos. Ela sofre com hérnias de disco na lombar há mais de 10 anos e sempre tratou na rede particular. Em 2018 a grana ficou mais curta e o plano de saúde começou a pesar no orçamento, por isso precisou ser cortado. E foi bem aí que ela sofreu uma crise de dor e precisou recorrer ao SUS.
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Entrou numa longa fila. Como não podia esperar, juntou o dinheiro do trabalho como empregada doméstica e babá para pagar a consulta particular. O médico então pediu uma ressonância e ela precisou parcelar em 10 vezes para conseguir fazer. A tão esperada consulta com o ortopedista na rede pública só ocorreu no mês passado — após três anos.
— Ele falou que meu caso já é para cirurgia. Tenho que tratar e fazer acompanhamento — conta Jurema.
Ela conta que recebeu um novo encaminhamento médico para se consultar com outro ortopedista, que já conhece o caso dela. O retorno deveria ser em cerca de duas semanas, pois tinha sinalização de urgência, mas segundo a paciente isso ainda não aconteceu mesmo depois de um mês. Na prática, ela saiu da lista de espera num dia e voltou novamente na mesma data.
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Solução desafia autoridades
Zerar fila de espera por qualquer que seja a demanda no SUS passa por uma equação nem sempre fácil de solucionar. Alguns procedimentos disponíveis pela rede pública dependem da contratação de empresas terceirizadas. Nestes casos, os acordos estabelecem a quantidade de procedimentos ao mês, por exemplo. Ir além do previsto depende de mais recursos da prefeitura e também de capacidade da clínica contratada.
De acordo com o secretário, a ampliação do leque de prestadores de serviços, bem como do aumento de atendimentos daqueles já contratados é o caminho para amenizar o problema. Mas isso depende ainda do interesse da outra parte em firmar parceria com o governo, pois isso envolve a discussão de valores para os cofres públicos e nem sempre o acordo vem na velocidade que o paciente precisa.
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Nos exames de ultrassonografia, no topo do ranking de procedimentos represados no SUS em Blumenau, estão 6,3 mil pacientes, alguns desde o fim de 2019. Neste caso a alternativa encontrada foi contratar mais uma unidade móvel para executar o serviço.
Até o mês de dezembro, mensalmente, serão feitos em média 700 exames de segunda a sábado, podendo chegar a 65 exames em um único dia. Não deve dar fim à demanda represada, mas ameniza de forma importante. De acordo com o secretário, a ideia é fechar o ano com cerca de 50 a 100 pessoas ainda na fila de espera.
Em outros casos, quando a solução está dentro de casa mesmo, com atendimentos feitos pelos profissionais da rede, a dificuldade apontada por Krambeck são afastamentos e aposentadorias, nem sempre fáceis de resolver em virtude do nível de especialização do profissional.
Até o mês passado Blumenau tinha pouco mais de 4 mil pessoas aguardando por atendimento psicológico. É o quarto procedimento com maior demanda, e a prefeitura sabe que precisa contratar mais equipe, mas ainda não tem previsão para isso.
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— Outra alternativa são os mutirões que já fizemos em algumas situações e que pós-pandemia vai ter que voltar também para conseguirmos vencer o que ficou represado — aponta o chefe da pasta.
Se por um lado o Poder Público precisa dar conta do recado, por outro a população precisa se conscientizar. As faltas, sem dúvidas, atrasam o andamento das filas. De janeiro a abril deste ano, o índice de ausências chega a quase 30%, segundo a Secretaria de Promoção de Saúde.
Todos os pacientes que aguardam por um exame ou consulta com especialistas no sistema único de saúde em Blumenau são cadastrados no Sistema Nacional de Regulação, o chamado Sisreg, onde médicos avaliam quem tem prioridade na hora de conseguir o aguardado atendimento. É por isso que às vezes um paciente acabou de entrar na fila e já consegue agendamento e outros esperam por tanto tempo.
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