— Fizeram de tudo para me salvar. Se não fosse o esforço do hospital, hoje eu não estava aqui.
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A afirmação é de Bruno Justus Sampaio, catarinense de 35 anos. Ele é um dos raros pacientes que passaram por quatro transplantes em Santa Catarina. Todos os procedimentos foram de fígado, o que torna o caso ainda mais incomum, e ocorreram em um intervalo de apenas um ano.
Bruno conta que ainda era criança quando começou a ter problemas de saúde que apontaram a uma doença autoimune. Aos 18 anos, ouviu pela primeira vez que o problema era no fígado e, provavelmente, com a avançar da idade, seria necessário um transplante.
A vida saudável e o tratamento com remédios retardaram a cirurgia, mas aos 32 anos os sintomas começaram a ficar mais fortes.
— Tinha muito cansaço, inchaço, dores, retenção de líquido. Uma gripe, por exemplo, durava muito tempo — recorda.
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Em 2022, uma médica o recomendou ir para Blumenau, referência em transplantes em Santa Catarina. Após uma série de exames, entrou para a fila de espera. Com um quadro de cirrose em fase avançada e sem causa definida, Bruno esperou por seis meses, até setembro de 2023, para receber um novo fígado.
Era o início de uma jornada difícil e dolorosa que ainda teria muitos capítulos.
— Depois desse primeiro procedimento, ele teve uma complicação. Uma trombose de artéria hepática, que normalmente danifica o fígado a ponto de precisar de um novo transplante. Então ele foi submetido ao segundo procedimento — explica a médica Maíra Godoy, chefe do Serviço de Transplante Hepático do Hospital Santa Isabel de Blumenau.
Bruno passou por outro transplante 13 dias após o primeiro. A gravidade do caso, as complicações no pós-operatório e a questão da compatibilidade são alguns dos critérios que o permitiram receber outro órgão rapidamente. Foram dois meses internado, entre “altos e baixos”, nas palavras do próprio paciente, que olha com carinho para o empenho da equipe que cuidou dele no hospital.
Apesar da segunda cirurgia, o jovem ainda não estava bem de saúde e voltou a ser internado em Blumenau em junho de 2024. Ele conseguiu liberação de apenas alguns dias para ficar em casa e comemorar o aniversário do filho e, depois, voltou à unidade.
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Ele precisava urgentemente de outro fígado.
O terceiro procedimento ocorreu em agosto daquele ano, mas houve rejeição. Oito dias depois, veio o quarto transplante. Em novembro, com 75 dias consecutivos dentro do hospital, teve um pedido atendido: pode comer um pastel e tomar uma Coca-Cola. Quem nunca?
Bruno conta que foi uma luta para não perder o quarto órgão e a família teve papel fundamental nesse processo. Tanto esforço dele, dos profissionais de saúde e dos parentes, deu certo.
— Depois do quarto transplante eu comecei a melhorar, ter uma evolução boa. Eu estou cada dia mais forte. É impressionante, vida nova — garante o paciente, que ainda enfrenta sequelas das cirurgias.
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Mas por que essa série de transplantes?
De acordo com a médica Maíra Godoy, as perdas de fígado acontecem por vários fatores, mas a principal delas é a rejeição crônica, principalmente em pacientes jovens e com hepatite autoimune ou doenças autoimunes. Esse conjunto de fatores torna cada vez mais difícil uma cirurgia, pontua a especialista.
Curioso, Bruno recorreu à internet para saber o quão raro é alguém passar por quatro transplantes, sobretudo quando é sempre do mesmo órgão. A médica traduz essa raridade em números:
— Não é nem um pouco comum isso acontecer. Nós temos praticamente 1,8 mil transplantes no Hospital Santa Isabel e apenas três pacientes que receberam quatro enxertos.
Hoje em casa, o jovem pontua a eficiência do sistema brasileiro de transplantes, que é público e foi responsável pelos quatro procedimentos feitos pelo apresentador Faustão.
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— As pessoas ficam julgando: “Ah porque é o Faustão conseguiram vários órgãos para ele”. Mas não é assim que funciona. Comigo, eu precisei de um órgão e três dias depois apareceu. E eu sou uma pessoa totalmente desconhecida. O suporte que me deram no hospital salvou minha vida. Se não fosse tudo o que fizeram, não estava aqui hoje — pontua Bruno.
Dados do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, apontam 1.016 pessoas na fila de espera por um transplante em Santa Catarina. O órgão que aparece em primeiro lugar na lista é o rim, aguardado por 933 pessoas, seguido do fígado (50), e da modalidade de transplante pâncreas-rim (32).
— É muito importante entender que certas situações levam a priorizações e que priorizações indicam gravidade e que isso não é furar fila e muito menos deixar alguém para trás que também precisa. Todo mundo precisa, mas as urgências precisam ser valorizadas e ainda bem que a gente tem um sistema nacional que funciona, onde tudo isso pode ser diferenciado e a gente consegue salvar muita gente dessa forma — frisa Maíra Godoy.
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