Em 2020, tanto a participação de pessoas negras para o cargo de vereador quanto a eleição delas aumentou no Estado, em relação ao pleito anterior. Porém, apesar do crescimento, a parcela de negros que pleiteiam esse cargo ainda é irrisória em relação ao total de candidaturas, envolvendo todas as raças. 

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Em 2016, o total de pessoas negras que pleiteavam um espaço nas Câmaras em SC representava 2,97%. O número em 2020 passou para 3,75%. Mesmo com a ascensão, no mesmo ano, nenhuma pessoa negra foi eleita prefeito ou prefeita no Estado. E mais: desde que a autodeclaração passou a ser obrigatória pela justiça eleitoral, apenas um prefeito negro foi eleito, em 2016. Nas eleições seguintes, nenhum ocupou o alto escalão dos municípios em Santa Catarina.  

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— Existe uma grande justificativa que diz que o baixo número de pessoas negras na política vem da falta de organização deste grupo. Mas não é bem assim, existe um sistema longo e grande de castração de poderes. Demorou muito para que mulheres pudessem votar, para que o negro pudessem também — diz o especialista Thiago da Silva Santana.

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Mesmo sendo parte de uma parcela menor da população catarinense, cerca de 3% segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, o cenário de representatividade permanece igualmente branco quando o pleito é federal. Em 2014, nenhum negro foi eleito para o cargo de deputado federal. Para senador, tampouco houve candidaturas pretas naquele ano. 

Em 2018, uma pessoa autodeclarada negra foi eleita para o cargo de deputado federal por SC. Os outros 15 deputados são brancos. No mesmo ano, apenas uma candidatura preta foi apresentada para o senado federal e ela não foi eleita. Não existe nenhum dado que mostre a candidatura de um negro para governador de Santa Catarina na história do Estado.

— O que falta nas candidaturas negras, não são pessoas competentes. O que falta é investimento nestas campanhas. Isso não é uma ajuda, isso é o que está escrito na lei, no entendimento do Supremo Tribunal Federal. É necessário e importante esse investimento. Candidaturas não são baratas — afirmou o especialista. 

A última vez que uma mulher negra ocupou o cargo de deputada estadual em Santa Catarina foi em 1951, segundo dados do Centro de Memória Assembleia Legislativa Catarinense (Alesc). O cargo foi ocupado pela primeira vez na história do Brasil pela professora e jornalista, Antonieta de Barros (foto ao lado), nascida em Florianópolis.

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Antonieta de Barros ocupou a cadeira pela primeira vez entre 1935 e 1937. Com o fechamento de todos os parlamentos do país por conta do Estado Novo, que durou até 1945, Antonieta só voltou a ocupar o cargo em 1947. Na época, recebeu 2.092 votos. O mandato foi até 1951.

— E isso é sintomático. No estado onde houve a eleição da primeira de todas, ainda hesita hoje, muitos anos depois uma dificuldade grande de eleger mulheres negras e homens negros. Aparentemente deveria ser muito mais fácil e corriqueiro — ressaltou o advogado e doutorando em Antropologia na Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC), Thiago da Silva Santana.

Após a professora Antonieta de Barros, Sandro Silva, do Partido Popular Socialista (PPS) representou a comunidade negra na Alesc, em 2012, como suplente convocado até 2015.

Das 299 mulheres negras que pleitearam uma vaga na Câmara em 2020, oito foram eleitas. O número contrasta com a quantidade de homens negros, que ocuparam 33 cadeiras do cargo no mesmo ano.

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— Eu me sinto sozinha. Eu gostaria que tivesse mais de mim. Para que aquele espaço não fosse algo tão vazio neste sentido. Por ser uma mulher e negra, eu sei que o machismo e o racismo estão presentes naquele espaço. Não dá pra dizer que estou no paraíso — afirmou Ana Lúcia Martins, que foi a primeira vereadora negra eleita na história de Joinville.  

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