Estatísticas apontam que ocupar um cargo político em Santa Catarina é um um desafio tremendo para pessoas negras. Dados de um levantamento exclusivo feito pela reportagem apontaram que mesmo as chances são diferentes entre brancos e negros. Por exemplo, um a cada seis brancos se elegeu a vereador em Santa Catarina na última eleição. Para negros, a proporção salta de um a cada 18 que conseguem alçar o cargo.
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E conseguir a preferência do eleitorado não é o único desafio. Quem assume uma cadeira ainda precisa de força e resiliência para seguir em frente e conseguir executar o trabalho no mandato. Eleita para a Câmara de Vereadores de Santo Amaro da Imperatriz, Caterine Nogueira (Cidadania) viu sua vida ser colocada em perigo por legislar:
— Sofri ataques durante uns sete meses do meu mandato. Fui ameaçada de morte algumas vezes. Por conta de eu me colocar no papel de fiscalizadora. Mas deixo claro que não tenho medo. Eu já tive medo, mas depois me reconstruí. Hoje eu não tenho medo, consigo trabalhar. Não vou desistir do meu cargo. Vou ficar até o fim.
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Quando os ataques não vêm, o desconhecimento da importância dos debates sobre temáticas voltadas para os interesses da população negra e levadas por ele à Câmara geram incômodo entre os pares, é o que testemunha Toninho (PSB), vereador em São José:
— Muitos acabam achando que estamos legislando em causa própria. Mas não é. Na verdade, infelizmente, nós somos os únicos vereadores negros das nossas câmaras e nós temos que ser a voz da população negra. Se nós não estivermos lá para encampar as lutas históricas da população negra, quem fará? Não serão os outros vereadores que farão. É aquela história, é só quem viveu na pele que sabe o calo.
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Para Thiago da Silva Santana, advogado e doutorando em Antropologia na Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC), o argumento de que vereadores negros que levam demandas da própria população atuam em causa própria é considerado racista.
— O que eles querem dizer, é que políticos negros, não fazem política, eles fazem militância. Como se a militância não fosse política. Como se fosse problema. Falar isso é extremamente racista. É você dizer que aquelas pessoas não têm competência para pensar em outras coisas além do seu povo. Isso é deslegitimar essas pessoas, é desmerecê-las. A questão racial perpassa todos os brasileiros, tanto aqueles que se beneficiam dele, quanto os que sofrem com ele — declarou o pesquisador.
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