No silêncio do mato, em recuperação de um grave acidente, vou pensando em 2023. Cuidar mais da saúde e dos amores, ser mais solidário e humanista, doar e me doar mais. Como Saturno estará em Peixes a partir de março, preciso sonhar menos e decidir mais. “É hora de consistência, Saturno concretiza”, diz o horóscopo.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Pronto, a primeira decisão está tomada: voltar a escrever semanalmente neste espaço. Depois de um ano afastado, por conta dos afazeres e responsabilidades profissionais, é hora de escrever o que vai calando.

Os livros, os filmes, as observações do cotidiano, as viagens, as idiossincrasias e os paradoxos humanos, as conquistas e os dissabores, as lembranças e as histórias que marcam. Então, vamos recomeçar por um rei.

César Seabra: “Muito obrigado, Pelé. Muito obrigado, meu eterno Rei”

Continua depois da publicidade

Alguém disse que o amor é impossível sem admiração. Amo Pelé porque sempre admirei o que ele fez nos gramados esburacados de todo o mundo. Um mito, um gênio, um monstro, um deus, um artista. Por causa de Pelé aprendi a amar o futebol.

Lembro vivamente da Copa de 1970. A cada vitória daquele time encantado e encantador, festa nas ruas. O espetáculo era comandado por Pelé e acompanhado por Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivellino & Cia. Cinquenta e dois anos depois, Pelé se foi. Costumo dizer que, se fosse americano, ele teria uma estátua em cada cidade dos Estados Unidos. No Brasil, não.

Quatro apostas de SC ganham prêmios de R$ 43 mil na Mega-Sena

Como herança de um país ainda extremamente preconceituoso e racista, Pelé, sua arte e sua magia conseguem ser, inacreditavelmente, contestados. Não importa se jogadores e ex-jogadores, treinadores e ex-treinadores não foram prestar homenagem a ele, em seu velório. Isso não tem a menor importância. O povo estava lá, firme e forte, aguentando a longa fila para se despedir do rei eterno. Se despedir, se emocionar, agradecer por tudo que ele fez pelo país.

É como bem escreveu José Miguel Wisnik, professor de Literatura Brasileira: “Mesmo que as novas gerações não tenham se defrontado com a sua aparição esplendorosa e indescritível nos campos de futebol, Pelé fica, graças ao seu anjo protetor, como que dispensado da decadência, permanecendo imortal em vida. Talvez Deus, se existir, lhe revele isso”.

Continua depois da publicidade

Leia outras colunas de César Seabra

No meio do mato, onde o silêncio traz o sossego e o canto forte do vento revela o desassossego, vou pensando na longa e difícil estrada cortada por um mito, um gênio, um artista, um monstro, um deus.

pele-coluna-cesar-seabra-2
Em cobrança de pênalti, Pelé faz o milésimo gol de sua carreira (segundo a contagem oficial) em cima do goleiro Edgardo Andrada, do Vasco, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969 (Foto: Última Hora, Acervo Folhapress)

Leila estava em trabalho de parto na noite de 19 de novembro de 1969. No Maracanã jogavam Vasco x Santos. O ambiente era tenso na maternidade em Bonsucesso (RJ) e elétrico no maior estádio do mundo. Na hora do parto, 23h23, o árbitro marcou pênalti para o Santos. Os médicos e enfermeiros pararam perto de um radinho de pilha. Pelé cobrou o pênalti, venceu o goleiro argentino Andrada, fez o milésimo gol. A equipe médica comemorou, trocou abraços e, então, voltou a cuidar da parturiente.

A vascaína Leila é minha mãe. Naquela noite histórica – e cheia de lendas – nasceu Catia, minha irmã.

Leia mais

Veja imagens históricas que marcaram a carreira de Pelé

Morte de Pelé gera comoção de atletas, políticos e celebridades

De Coutinho a Zico: relembre os 10 maiores parceiros do Rei Pelé em campo

O dia em que Pelé jogou em Blumenau e parou a cidade

Da promessa para o pai à realeza: Pelé marcou a história do futebol